NOTAS DO MEU CANTINHO
Estão
“oficializadas” as regatas com as antigas canoas baleeiras. Em
chegada a época de verão, elas organizam-se em vários portos do
grupo central, mesmo naqueles que nunca tiveram qualquer ligação
com a caça à baleia, actividade que se perdeu sem quaisquer
benefícios para ninguém, antes com graves prejuízo para os
industriais e, sobretudo, para os marítimos que a praticavam.
As
canoas e as lanchas de reboque foram, apressadamente, distribuídas
aos clubes náuticos, criados e instalados para receberem o
património que lhes era distribuído .
Não tenho
interesse em saber quem hoje organiza as regatas. Sei que os
tripulantes dos barquinhos são jovens de ambos os sexos, que os
manobram quer a remos quer à vela. E não tenho conhecimento que
algum antigo baleeiro faça parte das respectivas tripulações. No
entanto, não deixa de ser agradável, nos determinados dias que
fazem parte do calendário anual das provas náuticas, ver as antigas
canoas, - o mais belo barco do mundo na expressão de antigo
visitante estrangeiro - navegarem donairosas, velas desfraldadas, por
esses mares calmos à compita do primeiro lugar; ou remando,
esforçadamente, para ultrapassar o parceiro do lado.
Ver
baleias é outro negócio. Exploram-no os operadores que, habilmente,
vieram ocupar os lugares dos baleeiros, embora utilizando barcos
motorizados simples e velozes – os semi-rígidos - para alcançarem
os cardumes, ou as baleias isoladas, no menor espaço de tempo.
As
baleias andam por aí, num navegar pachorrento, alimentando-se das
diversas espécies piscícolas, que não apenas das lulas, provocando
assim a carestia de pescado que se vai verificando em vários portos
destas ilhas, outrora abundantes na cavala, no bonito, no chicharro e
outras espécies mais. Hoje, dizem os marítimos, não há peixe. Nem
admira. Os monstros marinhos tudo consomem. Com a proibição da caça
da baleia ou cachalote deixou de haver o equilíbrio natural das
variadas espécies piscícolas. E o homem – o rei da Natureza – é
a vítima sofredora...
Impõe-se
que a legislação marítima seja alterada, para que as capturas
sejam intensificadas e volte a haver a pesca tradicional abundante e
indispensável à subsistência do homem. O sistema de lotas sem
peixe é anacrónico. É urgente actualizá-lo às necessidades
domésticas.
Estas
coisas dizem-se e escrevem-se, vezes sem conto, mas os responsáveis
procuram ignorá-las, atentos que estão a outros interesses...
Não
faltam visitantes, nacionais e estrangeiros, que aqui chegam,
apressadamente, a tomar os pequenos barcos, que velozmente os levam
junto do cardume e , regressados, a quase totalidade toma outros
rumos, não lhes interessando se a terra tem qualquer interesse ou
dispõe de instalações turísticas que lhes facilite a estadia de
alguns dias.
Afinal,
uma actividade económica que, turisticamente, não privilegia a
terra...
Com
esta situação deprimente a terra vai “definhando”, lentamente,
a juventude vai abalando e os velhos caminhando para o fim sem
retorno.
Não
digo, porque é assustador, qual o número de habitantes da terra.
Existem ainda serviços, mas a juventude que os serve nem cá reside.
Em terminando o tempo de serviço, tomam os respectivos carros e
abalam para as suas terras. E são os estudantes, enquanto a escola
estiver na vila, os funcionários públicos, os empregados bancários,
os do comércio ou dos restaurantes.
É
por isso que, durante o dia, as ruas e parques de estacionamento
estão superlotados, contando-se à dezenas ou mesmo centenas os
automóveis e carrinhas que por aí permanecem o dia inteiro,
enquanto os proprietários estão em serviço.
Vem
chegando a mocidade estudantil que alguma animação trará ao burgo,
mas por tempo limitado. E são eles, na maioria, que tripulam as
canoas das regatas. Um desporto para eles, algo aliciante. Pois que
venham. Cá os esperamos saudosos e de braços
abertos.
Lajes
do Pico, 5 de Julho de 2014
Ermelindo
Ávila
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