quarta-feira, 16 de julho de 2014

AS REGATAS

NOTAS DO MEU CANTINHO

Estão “oficializadas” as regatas com as antigas canoas baleeiras. Em chegada a época de verão, elas organizam-se em vários portos do grupo central, mesmo naqueles que nunca tiveram qualquer ligação com a caça à baleia, actividade que se perdeu sem quaisquer benefícios para ninguém, antes com graves prejuízo para os industriais e, sobretudo, para os marítimos que a praticavam.
As canoas e as lanchas de reboque foram, apressadamente, distribuídas aos clubes náuticos, criados e instalados para receberem o património que lhes era distribuído .
Não tenho interesse em saber quem hoje organiza as regatas. Sei que os tripulantes dos barquinhos são jovens de ambos os sexos, que os manobram quer a remos quer à vela. E não tenho conhecimento que algum antigo baleeiro faça parte das respectivas tripulações. No entanto, não deixa de ser agradável, nos determinados dias que fazem parte do calendário anual das provas náuticas, ver as antigas canoas, - o mais belo barco do mundo na expressão de antigo visitante estrangeiro - navegarem donairosas, velas desfraldadas, por esses mares calmos à compita do primeiro lugar; ou remando, esforçadamente, para ultrapassar o parceiro do lado.
Ver baleias é outro negócio. Exploram-no os operadores que, habilmente, vieram ocupar os lugares dos baleeiros, embora utilizando barcos motorizados simples e velozes – os semi-rígidos - para alcançarem os cardumes, ou as baleias isoladas, no menor espaço de tempo.
As baleias andam por aí, num navegar pachorrento, alimentando-se das diversas espécies piscícolas, que não apenas das lulas, provocando assim a carestia de pescado que se vai verificando em vários portos destas ilhas, outrora abundantes na cavala, no bonito, no chicharro e outras espécies mais. Hoje, dizem os marítimos, não há peixe. Nem admira. Os monstros marinhos tudo consomem. Com a proibição da caça da baleia ou cachalote deixou de haver o equilíbrio natural das variadas espécies piscícolas. E o homem – o rei da Natureza – é a vítima sofredora...
Impõe-se que a legislação marítima seja alterada, para que as capturas sejam intensificadas e volte a haver a pesca tradicional abundante e indispensável à subsistência do homem. O sistema de lotas sem peixe é anacrónico. É urgente actualizá-lo às necessidades domésticas.
Estas coisas dizem-se e escrevem-se, vezes sem conto, mas os responsáveis procuram ignorá-las, atentos que estão a outros interesses...
Não faltam visitantes, nacionais e estrangeiros, que aqui chegam, apressadamente, a tomar os pequenos barcos, que velozmente os levam junto do cardume e , regressados, a quase totalidade toma outros rumos, não lhes interessando se a terra tem qualquer interesse ou dispõe de instalações turísticas que lhes facilite a estadia de alguns dias.
Afinal, uma actividade económica que, turisticamente, não privilegia a terra...
Com esta situação deprimente a terra vai “definhando”, lentamente, a juventude vai abalando e os velhos caminhando para o fim sem retorno.
Não digo, porque é assustador, qual o número de habitantes da terra. Existem ainda serviços, mas a juventude que os serve nem cá reside. Em terminando o tempo de serviço, tomam os respectivos carros e abalam para as suas terras. E são os estudantes, enquanto a escola estiver na vila, os funcionários públicos, os empregados bancários, os do comércio ou dos restaurantes.
É por isso que, durante o dia, as ruas e parques de estacionamento estão superlotados, contando-se à dezenas ou mesmo centenas os automóveis e carrinhas que por aí permanecem o dia inteiro, enquanto os proprietários estão em serviço.
Vem chegando a mocidade estudantil que alguma animação trará ao burgo, mas por tempo limitado. E são eles, na maioria, que tripulam as canoas das regatas. Um desporto para eles, algo aliciante. Pois que venham. Cá os esperamos saudosos e de braços abertos.


Lajes do Pico, 5 de Julho de 2014
Ermelindo Ávila


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