Notas do meu cantinho
Todas
as Terras têm orgulho da sua História. Recheada de factos notáveis
ou apenas registando vivências simples do seu passado, não há quem
esqueça ou procure ignorar os acontecimentos mais relevantes das
suas localidades de origem. Por mais simples que eles sejam, são
geralmente motivo de prazer para os seus naturais. Seja em que parte
for do mundo. Sempre assim foi e há-de continuar.
Deixemos
de deambular e vamos ao que de concreto é.
Os
lajenses, como aliás qualquer outro povo, amam a sua terra e têm
prazer em falar da sua História, muito embora ela não se encontra
totalmente escrita mesmo que tenha vindo até à geração actual,
trazida por uma tradição respeitável.
Segundo
a tradição, existem na margem direita da Ribeira da Burra,
anteriormente conhecida por Ribeira de Fernão Alvares, as ruínas de
uma pequena casa que, segundo a tradição, foi nela que viveu o
primeiro povoador, o dito Fernão Alvares, que deu o nome à Ribeira.
Portanto, uma construção, embora em ruínas, com mais de cinco
séculos. Há duas ou três dezenas de anos a Câmara Municipal
adquiriu essas ruínas no intuito de as perseverar, convenientemente,
e de assinalá-las como é devido. Mas isso não aconteceu e as
ruínas vão-se naturalmente degradando, até que venham a
desaparecer, a menos que a tempo, se promovam trabalhos acautelares.
No
ano de 1940 celebrou a Nação o Duplo centenário da Independência
e Restaurarão de Portugal – 1140-1640.
Para
assinalar o festivo acontecimento a Câmara de Lisboa ofereceu à
Ilha do Pico uma estátua do Rei D. Dinis que, depois de muita
controvérsia, acabou por ser colocada no antigo porto do Cais do
Pico. Para dar uma satisfação ao concelho das Lajes, dado que foi o
primeiro e durante mais de cem anos o único da ilha, a Comissão dos
Centenários concedeu um subsídio ao município lajense para a
construção de um cruzeiro à semelhança do que estava a fazer em
diversos concelhos do País. O cruzeiro, projecto de Armando Garcia
que nesta vila se encontrava fazendo parte da Secção de
Fiscalização das obras da Estrada Lajes-Piedade, ao tempo em
construção, foi executado, em basalto da ilha, pela companhia de
pedreiros do Mestre Manuel Macedo. No pedestal, entre a cornija e a
base, foi colocada uma lápide indicativa que, infelizmente, chegou
partida mas que mesmo assim foi possível colocar no sítio próprio
- dado ou plinto.
Com
a remodelação do largo foi-lhe atribuido o nome de Edmundo Machado
Ávila, homenagem merecida a quem, na primeira metade do século
passado, mais contribuíu, na ilha do Pico, para o seu
desenvolvimento, progresso e estabilidade económica, quer no
comércio, na indústria e até mesmo na vida social. Uma grande
figura de cidadão probo e de picoense dedicado. Mas outras figuras
houve, no passado, que já haviam merecido a homenagem dos lajenses.
Refiro somente os nomes de Garcia Gonçalves Madruga e do vigário
Gonçalo de Lemos, ambos exceptuados do perdão concedido por Filipe
de Castela aos açorianos por haverem sido partidários de D.
António. “Por
dar favor ao Senhor Dom António pretendente da Coroa deste Reino de
Portugal, foram-lhe confiscadas suas riquezas e escravos pelas
Justiças de El-Rei Dom Filipe."(1)
Ambos
tem seus nomes em placas toponímicas nas ruas da vila muito embora,
ao que julgo, a do Vigário Gonçalo de Lemos esteja duplicada com a
de Edmundo Machado Ávila, havendo que evitar que isso aconteça por
representar uma indevida confusão.
A
primeira Igreja da ilha foi um pequeno templo dedicado ao Apóstolo
São Pedro. Hoje a ermida tem o nome do seu primeiro pároco Frei
Pedro Gigante. A ele se deve a introdução da vinha Verdelho, no
sítio que hoje se denomina Silveira. Foi esse vinho do Pico que
chegou à mesa dos Czares e que agora foi para Roma, como oferta da
Diocese ao Papa Francisco.
A indicar o primeiro
templo da Ilha foi colocada no frontispício da secular ermida uma
placa em mármore que, por motivos desconhecidos, foi há anos, não
muitos, dali retirada. Quando volta a placa a indicar aos visitantes
que aquela ermida tem tantos anos como o povoamento da ilha e que foi
sua primeira igreja e paroquial, possuindo ainda a pia baptismal?
Há
acções administrativas que não têm quaisquer explicações e esta
é uma delas, que exige seja reparada. É tão simples!
1) Lacerda Machado,
F.S. “Os Capitães - Móres das Lages”, 1915 – pág.22.
1-6-2014
E. Ávila
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