terça-feira, 24 de junho de 2014

A “NOVA” IGREJA MATRIZ

NOTAS DO MEU CANTINHO



29 de Junho é o dia litúrgico de S. Pedro, o primeiro Papa da igreja Católica. Nesse dia, por uma velha tradição que, no entanto, havia–se perdido e que, em 1940, o ano do Duplo Centenário da Restauração e Independência de Portugal, foi restaurado e sempre tem continuado, setenta e quatro anos são decorridos.
Acerca desta igreja, a primeira da ilha e que, felizmente, se conserva na sua traça antiga, escreve Frei Diogo das Chagas:
Já temos dito o como se começou a povoar, e por onde, agora havemos de estar, em que a principal e primeira povoação foi a Vila das Lajes, que fica na parte Sul ao pé de uma serra que a cerca pela banda do Norte, a modo de meia lua, em uma planície que ao longo do mar faz rio razo (...) e muitos anos não teve esta ilha outra freguesia mais que esta, e de todas as partes aonde moravam os povoadores vinham a ela, que foi uma pequena igreja do apostolo San Pedro (que hoje é ermida) sua paróquia que fica a um cabo da vila, a Nordeste da barra, e porto dela, pegado a um braço do mar , que ai entra, e faz rio morto...
Verifica-se que o único porto da vila era a Barra, na enseada do Castelete, por onde entrou o primeiro povoador, Fernão Alvares Evangelho.
A ermida ainda hoje se mantém com a mesma traça, embora por volta de 16????. houvesse recebido algumas beneficiações.
Mas continua o autor do “Espelho Cristalino”: (...) a qual (ermida) por ser pequena trataram de fazer outra em o meio da Vila, como de facto fizeram, no lugar que agora está 1646 ?), do Orago da Santíssima Trindade, para cujo efeito lançaram finta em todos os moradores da Ilha, e nas fazendas dos Ausentes, conforme cada um tinha de Cabedal.
Os moradores somaram 45 e a finta ou colecta rendeu 28 011 reis. O maior contribuinte foi Fernando Alvares que possuía 450 mil reis de fazenda e foi colectado em 6.216 reis de taxa. Outros dois de maior fazenda foram Pedro Alvarez, Diogo Alvarez e Jorge Alvarez, residentes na Almagreira e, possivelmente, filhos do povoador. Afinal, na Almagreira residiam cinco contribuintes. O contribuinte de menor taxa foi o criado do Vigário, que contribuiu com vinte reis.
Entre os quarenta e cinco colectados encontra-se um sapateiro, um carpinteiro, um alfaiate, um pedreiro, um tecelão e um caiador. Faziam parte dos contribuintes, duas mulheres, uma viúva e uma casada.
Neste mesmo ano de 1506 fizeram uma postura em Câmara, em que assentaram que era bem, que trouxessem um ferreiro para a terra, por não haver ainda na ilha nenhum oficial deste oficio...” Com um carpinteiro, pedreiro e ferreiro, ficavam aptos a iniciar a construção da nova igreja. E assim aconteceu.
No dizer do Governador Santa Rita, era uma igreja com 19 metros de cumprimento até à capela - mor, e 10,3 de largura. A capela – mor tinha 13 metros de comprimento e 5,3 de largura.
A igreja e a freguesia tinha como titular a Santíssima Trindade, denominação que ainda conserva.
No citado Relatório diz Santa Rita: “Acha-se por tal forma arruinada que se torna indispensável a construção de um novo templo. Por esse motivo entendi conveniente nomear uma comissão especial que tratasse de indicar o local onde deve ser edificada a nova igreja, bem como os meios possíveis de obter para essa obra.”
Por alvará de 29 de Agosto de 1867 do Governador Santa Rita foi nomeada uma comissão para tratar da reedificação da igreja matriz.
O Bispo diocesano D. João Maria, que aqui esteve em 1875, no relatório que exarou no livro das Visitas Pastorais, com data de 11 de Fevereiro daquele ano, escreve; “...ficamos magoados por ver uma Vila tão antiga, nobre e piedosa que tem uma Igreja Matriz insuficiente para conter o numeroso povo da freguesia e tão velha que não é susceptível de aumento...”
A Comissão nomeada pelo Governador tentou encontrar local para a edificação da nova Matriz. Pensou mesmo nos terrenos que existiam em frente da rua nova, onde existia a antiga e demolida ermida dos Remédios, mas optou por construi-la no local da velha matriz, muito embora com a fachada principal voltada a norte, quando a anterior igreja era voltada a leste.
O projecto é da autoria do Padre Ouvidor Francisco Xavier de Azevedo e Castro e a execução da obra foi dirigida pelo Vigário Manuel José Lopes.
A primeira pedra foi colocada e benzida em 7 de Julho de 1895 e a inauguração só veio a acontecer setenta anos depois!...
A obra foi suspensa, com a implantação da República, e recomeçou em 1954. O projecto foi actualizado pelo Engenheiro Manuel Costa, e uma comissão dos bens cultuais, tendo à frente o P. António Cardoso, a concluiu e inaugurou em 1967.

Vila das Lajes,
Junho de 2014

Ermelindo Ávila

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