segunda-feira, 2 de junho de 2014

UM ANIVERSÁRIO A NÃO ESQUECER

NOTAS DO MEU CANTINHO


Uma vez mais estou a assinalar, no meu modesto dizer, o aniversário de “O DEVER”. Faço-o com um misto de simpatia e saudade, recordando a memória do seu fundador e director, durante dezenas de anos, o Pe. João Vieira XAVIER MADRUGA.
Ele partiu mas teve a inspiração de deixar o jornal em boas mãos. Entregou-o, por quantia simbólica, à sua Paróquia, para que não mais desaparecesse. E ele aí está a atingir quase o século de existência. Em idade cronológica sou dois anos mais velho somente...
O DEVER” apareceu a primeira vez, em S. Jorge, onde paroquiava o seu Fundador, em 1 de Junho de 1917. Dois anos mais e atingirá os cem anos. Publicou-se, durante algum tempo, na Minerva Calhetense, da vila da Calheta e teve como Editor e Administrador o P. José Joaquim de Matos, pároco daquela vila. Com o seu falecimento sucedeu-lhe o poeta e jornalista Samuel da Silveira Amorim, dali natural.
Ainda nos primeiros anos, o jornal passou a imprimir-se em tipografia própria, havendo adquirido o prelo que, parece, pertencera ao jornal “O Tempo”, de Angra.
Entretanto, o P. Xavier Madruga é transferido da Vila do Topo para a Candelária do Pico e pediu para que “O Dever” passasse a ser editado na terra da sua naturalidade, onde fixara residência devido ao seu precário estado de saúde. E assim aconteceu. Estávamos no ano de 1938. O P. Madruga encontrava-se na Europa, fazendo parte da peregrinação portuguesa ao Congresso Eucarístico de Budapeste. Aguardou-se a sua chegada para que se publicasse o primeiro número nesta vila. No cabeçalho passou a existir, como Editor e Administrador o meu modesto nome, por escolha deferente e amiga, do Pe. Xavier Madruga.
Mas, desde alguns anos antes, vinha o jornal publicando, por deferência do Director, os meus modestos e incipientes escritos. O primeiro deles saiu no jornal de 16 de Abril de 1932. Oitenta e dois anos são decorridos! E foi publicado por deferência do P. Xavier Madruga, que não só o corrigiu como estimulou o autor a continuar. Bem ou mal assim tem acontecido. São milhares de escritos que o jornal arquiva. E disso não me arrependi nunca. Foi como que um “vício” contraído e do qual nunca mais me curei. Ainda hoje, decorridos que são tantas dezenas de anos. Mas está a chegar ao fim... O Dever continuará, deixo aqui esse modesto voto, para glória da Igreja que serve, e em benefício da Terra que sempre tem sabido, com mais ou menos brilho da minha parte, defender e enaltecer.
Em”O Dever” estão arquivadas as crónicas que o seu Fundador escreveu, das viagens que fez a Roma, em 1925, aquando da canonização de Santa Teresinha, e à Hungria, aquando do Congresso Eucarístico ali realizado em 1938. Estão reunidas em volumes: “Dos Açores a Roma” e “...até ao Danúbio”, ambos já esgotados. Falta publicar as “Cartas da América”, escritas daquele País, quando ali esteve de visita a familiares, em 1945-47. Um trabalho excelente que dá conta, não somente do sistema de vida social, económico e político dos Estados Unidos em geral como, e principalmente, dos emigrantes açorianos radicados naquele País que a esse sistema se adaptaram com alguma facilidade e onde um bom número desempenha posição de relevo, no comércio, na indústria, nos serviços públicos e até na Política.
Vivia, então, a nação americana no rescaldo da última guerra que não deixou de a influenciar profundamente.
Quando em São Jorge, “O Dever” mantinha uma crónica quinzenal desta vila, onde eram assinalados os acontecimentos mais relevantes e, igualmente, as ocorrências políticas. O mesmo sistema foi aplicado – e continua a sê-lo! - aos acontecimentos e aos problemas económicos e sociais que vão ocorrendo nesta terra.
Recordo a construção da estrada Lajes-Piedade, e o estratagema do empreiteiro para não a calcetar como estava previsto no projecto. O jornal denunciou a tempo a intenção e a estrada foi calcetada. E não só este caso como tantos outros que se encontram tratados a tempo e com veemência nas páginas do “Jornal do Pe. Madruga”, como era conhecido. Mas isso não evitou uma denuncia judicial que, no tempo, lhe custou, com a defesa, mais de uma dezena de contos.
A pesar das facilidades de comunicação hoje existentes, os leitores não dispensam o jornal, principalmente os emigrantes, que nele têm um meio de comunicação com a terra de origem, muito apreciado.
Parabéns e votos de uma longa vida a bem da Terra e das suas Gentes.


E.Ávila

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