Foi
num gesto de irresponsabilidade que Pilatos apresentou Cristo à
turba multa, depois de o cobrirem com um manto escarlate, O coroarem
com uma coroa de espinhos e, à maneira de cetro, lhe colocarem nas
mãos manietadas, uma cana verde. Afinal, um gesto de escárnio para
Aquele que, sendo o Rei das gentes –Tu o disseste, respondeu
a Pilatos – viera ao mundo para remir os homens da culpa de Adão.
Mas
não é esta a ocasião, se bem que todas as ocasiões são
apropriadas para exaltar, em palavras de retórica, a Pessoa do
Divino Mestre que passou, fazendo o bem. Neste momento, desejo
recordar um pouco da devoção que os povos do mundo inteiro, do
Brasil e de Roma aos Açores e daqui às terras da Diáspora,
principalmente Estados Unidos da América do Norte e Canadá,
tributam com devoto respeito, ao Santo Cristo dos Milagres, (Ponta
Delgada), ao Bom Jesus Milagroso (S. Mateus do Pico) ou ao Senhor
Jesus das Preces, que tudo é o Mesmo Senhor.
Com certeza que a mais
arreigada devoção daqueles que o Infante Dom Henrique mandou para
estas ilhas para a povoarem, foi o Senhor Crucificado que,
inicialmente, era invocado como Bom Jesus e que depois, com o
aparecimento dos Crucifixos na Praia do Almoxarife, em Santa Cruz das
Ribeiras e na vila das Lajes, arrojados à costa nos tempos da
Reforma protestante na Inglaterra, pelos anos 1550 ou 1560, como
informa Silveira de Macedo (l) passou a ser invocado como Bom Jesus
das preces.
O Santo Cristo dos
Milagres veio de Roma, oferecido pelo Papa a duas religiosas
micaelenses, mas só foi introduzida no convento da Esperança no ano
de 1541. A sua devoção foi incrementada, com a entrada de Teresa da
Anunciada no convento, em 20 de Junho de l682. (2)
A devoção ao Santo
Cristo dos Milagres que, actualmente, se venera no convento da
Esperança, está espalhada por todo o mundo e sobretudo nas terras
onde se fixaram especialmente os micaelenses que, não somente
introduziram a devoção, como construíram igrejas e promovem
grandes solenidades.
Mais recentemente temos,
na ilha do Pico, a devoção ao Bom Jesus Milagroso, cuja imagem veio
de Iguape, Estado de S. Paulo, Brasil, por volta de 1862, trazida
pelo emigrante Francisco Ferreira Goulart, e cuja devoção se
espalhou pelo Pico e pelas terras da Diáspora.
A propósito da Imagem,
informa a Professora Dra. Maria Cecília França: “Iguape foi
sem dúvida alguma o centro original da irradiação desse culto. A
imagem do Bom Jesus, que é objecto da devoção dos peregrinos, que
para ali afluem, vindos de tão longe, foi descoberta em 1647.” Mas
antes informara: A expansão do culto ao Bom Jesus no Estado de
São Paulo e fora dele é um capítulo que se prende de início à
marcha do povoamento paulista desde o primeiro século da colonização
portuguesa até o século XVIII. Depois, é um capítulo da história
da colonização açoriana no sul do Brasil. Teve sua origem nos
Açores e recebeu novo alento com a vinda dos casais açorianos para
o Sul do Brasil.(3)
“Certamente,
nenhum outro acontecimento, no século XIX fez movimentar o povo nas
ilhas centrais do Arquipélago dos Açores como a surpresa da
presença da imagem do Bom Jesus Milagroso, na freguesia de São
Mateus da ilha do Pico. (...) A imagem do Bom Jesus não atraiu só o
povo do Pico: o Arquipélago despertou a pouco e pouco, e as romarias
em Agosto, ao calor do sol, corriam com o caudal de almas sequiosas
ao encontro do Senhor. Começaram a divulgar-se as graças e
milagres, que chamavam a atenção dos doentes, dos fracos, das almas
famintas do sobrenatural...”(4)
Na
Ilha do Pico existem três imagens do Ecce Homo: Bom Jesus
Milagroso de São Mateus do Pico, Bom Jesus, da Calheta
de Nesquim e Bom Jesus, da Criação Velha, e ainda Santo
Cristo, dos Toledos, Madalena.
Em Lajes do Pico e Santa
Cruz das Ribeiras venera-se o Senhor Jesus, ou Senhor Crucificado,
cujas imagens têm a origem acima referida.
Sobre a imagem do Senhor
Jesus das preces, da Vila das Lajes, escreve o autor da História
das Quatro Ilhas: “No princípio de 173l chegou à vila das
Lajes do Pico o doutor Luiz Homem da Costa e trouxe uma relíquia do
Santo Lenho numa custódia de prata com um cristal lapidado,
oferecida pela condessa do Rio Grande à confraria do Bom Jesus das
preces erecta na Matriz daquela vila, e juntamente o breve de
aprovação da mesma relíquia passado em Roma pelo bispo Lystrense
Epifânio de Nápoles, em 1730”. (4)
A referida Imagem
encontra-se no altar mor da Matriz das Lajes. É uma excelente
escultura e sempre foi objecto da devoção dos lajenses que,
principalmente em ocasiões de tempestades marítimas, a traziam à
rua e em preces públicas, pelas ruas da vila, suplicavam que o mar
não invadisse as habitações, como algumas vezes aconteceu.
E era assim quase todos
os invernos, enquanto a vila não foi defendida pela muralha que,
actualmente, evita a invasão dos mares ciclónicos.
Santo Cristo, Bom
Jesus ou Senhor Jesus é Esse Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus que
Pilatos apresentou à multidão tresloucada e condenou à morte
ignominiosa da Cruz, no alto do Calvário.
Outras Imagens do Bom Jesus ou Santo Cristo existem em diversas
ilhas dos Açores, onde até o denominativo Santa Cruz, é atribuído
a diversas localidades: Santa Cruz das Flores, Santa Cruz da
Graciosa, Santa Cruz da Lagoa, Santa Cruz das Ribeiras, que não é
possível trazê-las a este escrito.
1)
Macedo, A.L. Silveira , História das Quatro
Ilhas que formam o distrito da Horta, 1871, I
Vol. Pág.220.
2)Pinto,
Agostinho, Madre Teresa da Anunciada,
Autobiografia, Perfil Espiritual, 2012,
pág.49
3)França,
Maria Cecília, Pequenos Centros Paulistas de
Função Religiosa, Universidade de S. Paulo,
1973, I Vol. Pág 45.
4)Macedo,
A.L.Silveira, O. citada.
Lajes do Pico,
Maio 2014.
E. Ávila
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