quinta-feira, 15 de maio de 2014

A HISTÓRIA VAI REPETIR-SE?


Preocupa-me o futuro da ilha. Para alguns isso será uma situação algo irrisória, mas outros haverá que não deixarão de reflectir, por momentos, a situação angustiosa em que se encontra a ilha com uma população envelhecida e a diminuir, consequentemente, dia após dia e com uma economia débil em algumas zonas territoriais.
Isto já foi dito e escrito bastantes vezes, não apenas por mim mas por aqueles outros, e vários são, que têm presente a situação dramática que a ilha atravessa.
A Vila das Lajes, a mais antiga e só por si um património rico de história, atravessa um período de verdadeira calamidade social, com uma população diminuída e desprovida, - propositadamente? – de instituições e serviços que, antes, lhe garantiam estabilidade económica, social e até política.
E essa é a causa, senão única, a mais dramática e responsável. E responsáveis são, simultaneamente, aqueles que a provocaram.
Estão continuamente a diminuir os serviços. Ainda agora são os de saúde. Ontem foram os portuários, os aduaneiros, os judiciais, e de fiscalização e até os agro-pecuários !... Não vale a pena enumerá-los. Basta reflectir um pouco e chegar à triste conclusão de que foi afastada de cá a quase totalidade dos serviços públicos, arrastando a quase totalidade dos seus servidores. Eles foram e levaram os familiares, muitos deles ainda, ignorando onde tinham visto a luz do dia...
E isto não é história de outros tempos. São verdades autênticas da época actual. Intencionalmente ou não, a verdade é que foi-se promovendo o desenvolvimento de outros sítios com prejuízo nítido da vila mais antiga. E a realidade está aí bem patente…
Quando medidas drásticas forem tomadas, quem vai tomar posição defensiva a favor desta terra?
Há mais de um século, em 1895, foi promulgado o Código Administrativo e, mercê do novo sistema, instituído por esse diploma legislativo, extintos os concelhos do Topo, em S. Jorge, de S. Sebastião, na ilha Terceira, de Água de Pau, em S. Miguel e da Madalena do Pico, e não sei se mais. Com excepção da Madalena, os outros extintos nunca mais foram restaurados e as respectivas localidades passaram ao esquecimento. No Topo restou o Notariado que se manteve até ao falecimento do respectivo titular. Nas outras vilas, a “vida” morreu e passaram a simples e ignoradas localidades. Apenas a antiga vila de S. Sebastião é hoje recordado pela artística Matriz, que de lá não pode ser arrancada e que foi classificada como Monumento Nacional. Melhor sorte teve a Madalena do Pico. Após a extinção, as câmaras municipais de São Roque e das Lajes (consta das actas das respectivas Vereações) representaram ao Governo de Sua Majestade para que o concelho fosse restaurado e os respectivos funcionários voltassem aos seus lugares de origem. E isso aconteceu por Decreto de 13 de Janeiro de 1898, três anos após a extinção.
Hoje...O Governo Regional, que actualmente domina este sector público, está a proceder tal como há cem anos. Vai, aos poucos e paulatinamente, retirando de cá os serviços públicos e, depois, virá alegar que a população diminuiu e, por essa razão, não se justifica a manutenção desses mesmos serviços, como é o caso, presentemente em execução, dos Serviços de Saúde.
Amanhã serão outros... E os lajenses que se contentem com os epítetos de vila avoenga, vila baleeira, e quejandos.
A História irá repetir-se, mas em sentido oposto?
Não estarei cá para o testemunhar.

Lajes do Pico.
2 de Maio de 2014.

Ermelindo Ávila

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