A MINHA NOTA
Entramos
na época das Festas. Toda a gente as prepara com mais ou menos
entusiasmo. O povo anónimo, que todos somos, não as esquece, ano
após ano. Vive-as com grande interesse, embora nos tempos passados,
porque eram quase as únicas, as sentisse com um entusiasmo quase
infantil.
E
as festas aconteciam em todas as domingas. Eram as chamadas
coroações do Espírito Santo,
que se seguiam à Páscoa. As freguesias estavam organizadas por
classes ou misteres: Havia a coroa dos nobres, a dos marítimos, as
dos lavradores, etc.
Na
tarde do domingo de Páscoa, depois das celebrações litúrgicas do
dia, os irmãos reuniam-se para tirar as sortes, ou seja o domingo em
que cada um devia “levar a Coroa”, ou festejar a Terceira Pessoa
da Santíssima Trindade, com a coroação e missa solene, na
paroquial e um jantar aos irmãos e doze pobres. E estes, como era
tradicional, sentavam-se à mesa do mordomo. Só estes!. Além dos
familiares, e dos “irmãos” das domingas, reduzido era o número
dos convidados.
Por
estas bandas, e que se saiba, as “domingas” só são celebradas,
de cinco em cinco anos, nos subúrbios das Terras e da Almagreira, da
antiga freguesia da Santíssima Trindade e que incoerentemente
passou, em 1940, a somente Lajes do Pico, denominação da Vila, numa
abrangência de todo o território. Por outros lados isso não se
verificou porque os gestores administrativos tinham uma noção
correcta da tradição histórica. Mas deixemos isso para os
historiadores profissionais.
Enquanto
as moedas correntes eram o escudo (moeda forte no continente ) e o
real (moeda fraca nos Açores), o ágio, ou troca da moeda
estrangeira pela nacional ou açoriana, permitia aos emigrantes, que
aqui vinham com alguma afluência, voltar à terra natal,
principalmente na época das domingas ou do Espírito Santo. A
equiparação, quase, do Euro com o Dólar, impede o emigrante de cá
vir com a frequência anterior para tomar parte ou mesmo promover as
“Coroações”. E
é pena, pois a vinda desses nossos “irmãos “ ausentes trazia,
normalmente, uma lufada de alegria e um certo e útil desafogo
económico, ao menos durante a estadia, às respectivas famílias e
não apenas.
As
festas do Espírito Santo ou Coroações, ou Gastos como é termo
usual em algumas ilhas, que aqui se celebram com ritual próprio e
muito antigo, vieram a ter algumas modificações, ou modernismos
direi, trazidas pelos emigrantes das terras de acolhimento, como seja
o caso das “rainhas”, introduzido em Santa Cruz das Ribeiras pelo
emigrante Manuel Cabral na década de trinta do século passado, e
espalhado principalmente pelas freguesias do Sul do Pico. Mas deixo
isso atrás, pois o seu estudo pertence aos etnógrafos e
historiadores, que não passo de um simples rabiscador ou curioso
destas matérias.
E
como tal, por aqui fico.
Vila
das Lajes do Pico,
Abril
de 2014
Ermelindo
Ávila
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