NOTAS DO MEU CANTINHO
Tal como as
coisas vão correndo, pode afirmar-se que a Ilha do Pico viveu o seu
período de maior desenvolvimento na primeira metade do século
passado.
Apesar de
algumas crises provocadas pelas duas grandes guerras mundiais
(1914-18 e 1939-45) a economia da ilha recompôs-se em razão das
actividades industriais que nela se instalaram e do comércio que,
simultaneamente, se desenvolveu.
Na edição
do “Jornal do Pico” de 10 do corrente mês, o seu dedicado e
ilustre colaborador Francisco Medeiros, em oportuna crónica sobre
“Cooperativas de Lacticínios da ilha do Pico” referia muito
judiciosamente que “em 55,
notava-se uma certa
qualidade de vida das populações, que viviam com algum desafogo,
pois os salários para a época, embora não fossem muito elevados,
eram convidativos para os profissionais dos estaleiros, para as
muitas mulheres e jovens empregados nas conserveiras. Hoje muitas
daquelas que o fizeram beneficiam de uma pequena reforma que, como se
sabe, não sendo muito larga, é uma ajuda no conjunto familiar.”
Estou
plenamente de acordo com o ilustre articulista e já algumas vezes
fiz referência à situação calamitosa em que, actualmente, vive a
generalidade da população picoense, motivada pela “falência”
de muitas actividades industriais e algumas comerciais.
De acentuar
que a estabilidade económica, embora pareça um paradoxo, surgiu
para estas bandas do Sul com a construção da muralha de defesa da
vila das Lajes que havia sido derrubada pelo ciclone de Abril de
1936, e, a seguir com a construção da estrada Lajes - Piedade que,
durante quatro anos (1939-1943) empregou, diariamente, mais de cem
operários. Alguns deles vieram da Graciosa e de S. Miguel, e por cá
ficaram.
O Pico
desenvolveu o seu comércio e algumas empresas beneficiaram de um
notável crescimento, como sejam: a Casa Ancora, no Cais do Pico, a
firma Manuel Pereira do Amaral, na Madalena, e Edmundo Machado Ávila
e Filhos, nas Lajes, além de outros estabelecimentos espalhados nas
freguesias. Destes recordo o Francisco Rodrigues das Neves, na
Candelária; os Gomes, na Ribeirinha; José Ávila de Melo, e António
Pereira e Irmão, na Calheta; Francisco Soares Mariante e António
Fernandes Ávila, em Santa Cruz; Manuel José Bernardo Riqueza e
sobrinho, em S, João; Manuel Correia da Silva, em S. Caetano; Manuel
José de Simas, em S. Mateus e tantos outros espalhados pela Ilha.
Em 1954,
existiam no concelho das Lajes 11 fabriquetas de lacticínios, uma de
conservas e uma de óleo de baleia, cinco moagens de cereais, l0
armações baleeiras e duas sociedades de navegação. Nos outros
dois concelhos da ilha, existiam, igualmente, construtores navais,
fabricantes de lacticínios e outras actividades industriais. Nesse
ano, já havia no concelho cinco traineiras de pesca do atum. Mas o
concelho chegou a possuir trinta e quatro traineiras.
Com o
desaparecimento das fábricas a crise chegou. A população diminuiu,
porque a emigração levou uma grande parte da juventude, e não
somente.
A ilha do
Pico ficou, praticamente, entregue à quase terceira geração.
Valeu,
durante alguns anos, a indústria de lacticínios a cargo de Martins
& Rebello. Mas também esta daqui saiu. Substituiu-a a
Cooperativa da Lacto-Pico, presentemente em estado de falência. E
somente nos resta o matadouro industrial e pouco mais.
Há que
iniciar e incentivar novas actividades, que criem postos de trabalho
e estimulem a juventude a permanecer na Ilha, para que esta não
fique entregue à bicharada...
Daqui
aplaudo o trabalho de Francisco Medeiros. Pena é que outros mais,
dentro da mesma orientação social, não o apoiem. Importa que surja
uma campanha estimulante a provocar o concreto e eficaz
desenvolvimento da Ilha no seu todo, que não apenas numa parte
limitada
No Pico há ainda,
felizmente, quem não pode nem deve continuar no seu dolce
fare niente.
Lajes do Pico,
Abril de 2014.
Ermelindo Ávila
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