A MINHA NOTA
Não foi
jogo de muitos anos. No entanto, nos anos em que vigorou, era
entusiasmante. É só lembrar que atingiu novos e velhos.
Quando os
parceiros se encontravam a primeira vez no dia, o primeiro que esse
“belamente” exclamasse, ganhava a aposta. E no fim da Quaresma,
aquele que contasse mais apostas ganhava uma quantidade de amêndoas,
bem poucas por vezes, pagas pelo que perdia.
E, no ano
seguinte, lá estavam de novo a combinar o jogo. Mas não deixava de
ser interessante assistir a certas manobras que, no princípio do
dia, os parceiros faziam para ser o primeiro a descobrir o outro.
Escondiam-se em saguões, nos cantos das ruas, em casas particulares,
em qualquer sítio onde não fossem descobertos, para verem o
parceiro contrário passar e, de surpresa, lhe dar o grito -chave:
belamente!
Hoje,
a Quaresma passa quase no esquecimento. A vida diária continua,
infelizmente, cheia de preocupações de toda a ordem, e ninguém se
lembra de jogar seja o que fôr, para passar o tempo, pois este não
resta a ninguém, nem mesmo que, no fim da Quaresma é o tempo
tradicional das amêndoas.
Nem as
crianças, pois raramente aparece uma ou outra... E os velhos não
estão para esses “cuidados”. Até mesmo porque os idosos estão
recolhidos nos lares e, aqueles que “ainda se mexem”, não estão
para dispersar o tempo que ainda lhes resta.
Uma vida
que tão rapidamente mudou. Um mundo que se transforma dia-a-dia,
quase sem proveito para ninguém.
Aflige
assistir a este panorama macabro que, em poucos anos, nos atingiu.
Valem, por
enquanto, as jornadas de futebol que a TV quase diariamente nos
transmite, de quase todas as nações do mundo. Mas, ao que nos
informam os noticiários televisivos, nem sempre o desporto rei corre
bem. Mesmo agora que se disputa o chamado “mundial”, as coisas
vão bem pelo Brasil, país organizador do certame.
Demais, o
futebol deixou de ser um desporto, para ser uma indústria,
concerteza bastante rendosa para os empresários e, igualmente, para
os praticantes, poucos talvez.
E porque
não voltar ao inofensivo, e algo divertido, belamente, que se jogava
com entusiasmo, e quando se perdia, custava meia dúzia de amêndoas,
ou pouco mais?
Apetece
cantar aquela canção que tinha como estribilho: oh!
tempo volta para trás...
Mas,
infelizmente, o tempo não volta. Queiramos ou não, corre velozmente
para o fim. E ele está bem próximo...
Lajes do
Pico,
7 de Abril
de 2014.
Ermelindo
Ávila
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