quarta-feira, 16 de julho de 2014

JUNHO, O MÊS DA ALEGRIA

NOTAS DO MEU CANTINHO


Chegámos ao mês de Junho, o mês da alegria. Este ano é mesmo em cheio. No segundo domingo é o dia de Pentecostes, e nele principiam os “impérios”, com excepções do sábado anterior e do dia de S. Mateus, em que se realizam, na Silveira e naquela freguesia, impérios com distribuição de pão e rosquilhas, respectivamente, em cumprimento de votos feitos por ocasião das erupções vulcânicas de 1718 e 1720, que tanto abalaram as gentes do Sul do Pico.
No mês de Junho, para além das festas tradicionais de Santo António, São João e São Pedro, na ilha do Pico têm lugar os “impérios do Espírito Santo” .
Escreve Lacerda Machado:”No ano de 1523 desenvolveu-se na ilha de S. Miguel uma desoladora peste, que ocasionou 2.000 vítimas e se comunicou ao Faial no mês de Julho. O pânico foi geral em todas as ilhas e os povos aterrados recorreram a preces públicas, procissões e invocaram em especial o Espírito Santo, prometendo distribuir pelos pobres anualmente, pela festa de Pentecostes, as primícias de seus frutos, se escapassem do terrível flagelo, que se não comunicou ao Pico. – Instituíram-se irmandades em honra do Espírito Santo, celebrando-se em seu louvor bodo solenes, com folias e bailes ao uso do tempo.”(1)
Com as excepções atrás referidas, os impérios realizam-se na ilha nos três dias do Pentecostes e no domingo seguinte, ou domingo da Trindade.
Segundo investigação publicada pelos jornais picoenses, Jornal do Pico e Ilha Maior, respectivamente das vilas de S. Roque e Madalena, realizam-se na ilha do Pico 45 impérios. Nesses dias há jantares para cerca de vinte mil convidados, e rosquilhas, pão ou vésperas, consoante as localidades, para quarenta a cinquenta mil pessoas, aproximadamente. Nos impérios distribuem-se cerca de trezentas mil vésperas. Em alguns impérios mantêm-se a tradição de distribuir pão de “água” ou de “ovos”, como é o caso da Silveira e Ribeira do Meio. No lado Sul da Ilha, da Calheta à Madalena, faz-se a distribuição de rosquilhas e, na parte Norte, de “vésperas”, um bolo especial, de fabrico trabalhoso mas muito apreciado.
Quaisquer que sejam, todas as “vésperas” são bastante apreciadas, não somente pelos residentes como também por quantos se deslocam ao Pico, nessa época.
Na realidade os dias do Espírito Santo são os dias da autêntica Caridade, Fraternidade e Partilha. Todos os picoenses, remediados ou pobres (que ricos quase não existem) terão pão com fartura em suas mesas e em muitas haverá também a carne que, além da utilizada nos jantares, é distribuída ou em cumprimento de promessas ou até mesmo e só em louvor do Divino Espírito Santo.
O tempo do Espírito Santo é, na verdade, época festiva, onde reina a paz, a amizade, a fraternidade, em “nossa casa” e em “casa do vizinho”. É para além de tudo, o tempo da partilha, que não deve ser esquecido.
Sobre o culto popular ao Espírito Santo diz o Doutor Hélder Fonseca Mendes no seu douto e erudito trabalho, “Do Espírito Santo à Trindade” um dos mais profundos tratados sobre a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, na opinião autorizada de um crítico teológico:
Pelos ritos e símbolos, dá-se uma comunicação e auto-comunicação comunitária unificadora; dá-se uma renovação das relações comunitárias e das tarefas e compromissos comuns; manifesta-se a identidade da “communitas” e a identificação dos membros com ela, relembrando os valores comuns, actualizando os sentimentos de pertença; cresce-se na igualdade e fraternidade, em equilíbrio e abertura criadora; articula-se e estrutura-se a própria vida da comunidade, sobre os seus sinais visíveis celebrativos de referência, segundo os diversos papeis e funções.” (2)
E em “Conclusões” escreve o mesmo distinto Autor:
As razões para a permanência do culto nos Açores devem-se ao facto destas festas serem as que melhor permitem o entendimento entre os diversos povoadores e se enquadram num espírito de solidariedade necessário na luta contra as dificuldades (...).” (3)
Os açorianos, em todas as ilhas e até aqueles que vivem na Diáspora, estão a viver estes tempos do Espírito Santo de uma maneira muito especial e peculiar. A ementa dos jantares é a mesma por toda a parte. O cerimonial litúrgico não difere. Apenas os cortejos se adaptaram aos próprios meios onde se realizam, por razões muito especiais. Mas, acima de tudo, está o louvar ao Senhor Espírito Santo. Bem hajam!
_______
  1. Lacerda Machado, F.S., “História do Concelho das Lages”, 1939, pág.127.
  2. Mendes, Hélder Fonseca, “Do Espírito Santo à Trindade, Um Programa Social de Cristianismo Inculturado”, 2006, pág. 231.
  3. Ibidem, pág. 257.

Lajes do Pico,
Junho de 2014

E. Ávila

Sem comentários: