segunda-feira, 21 de julho de 2014

COISAS DO ARCO-DA-VELHA...

A MINHA NOTA

Assim reza o velho ditado, quando algo acontece contrário ao senso comum. E tantas que elas são!...
Durante anos, levou-se a reclamar a falta de um médico para o concelho. O facultativo ou médico municipal que cá havia, estou a referir-me ao princípio do século passado, mudou-se para S. Jorge e, até 1928, deixou de existir um médico, socorrendo-se os pacientes dos chamados “homeopatas”, que lhes aplicavam, normalmente, mezinhas caseiras.
Geralmente, eram os padres que, sendo cura de almas, eram também, por vezes com sucesso, cura de doentes. Tanto assim que, nos programas de ensino do seminário existia a aula de “higiene”, que mais não era do que os rudimentares ensinamentos da medicina caseira. O título do método era elucidativo: “O padre junto dos doentes e moribundos”.
Na minha adolescência, fui tratado por um excelente sacerdote que aconselhou que me ministrassem uma mesinha em água, às colheres.
Naquele ano de 1928, a Câmara Municipal conseguiu trazer para o concelho um médico que aqui se conservou durante quarenta anos. Que óptimo e competente era esse facultativo, o inesquecível Dr. José Pinheiro Cardoso de Campos.
Em 1960, a Misericórdia conseguiu abrir o, então classificado, hospital sub-regional. O Dr. Campos, entretanto adoeceu. E que pesar tinha ele de não poder desenvolver a sua actividade. Dizia-me: “Veio tarde o hospital”.
A ilha dispôs de médicos municipais em S. Roque e Madalena. A um deles, o Dr. Tibério de Ávila Brasil, erigiram um busto. Como podiam ter dedicado outros aos Dr. Campos e Dr. Luís Caetano de Mendonça, que bem o mereciam.
Outros médicos foram aparecendo e, actualmente, o hospital, que passou a ser simplesmente “centro de saúde”, tem um bom e respeitável corpo clínico. Mas, quando isso acontece, cortam-lhe, abruptamente, o desenvolvimento concentrando “contra natura” os serviços médicos num único centro de saúde, precisamente, aquele que é mais desaconselhável pela distância a que fica da população da ilha. Melhor: as urgências nocturnas e alguns serviços de diagnóstico.
Toma semelhante medida quem nunca viveu nas ilhas secundárias, onde a população é dispersa e envelhecida e, consequentemente, mais carecida de assistência médica. É que não conta a população, quando ela é nova e saudável. Mas quando a juventude vai desaparecendo e só ficam os idosos e doentes, apenas lhes podem valer duas instituições: as casas dos idosos e os centros clínicos.
A ilha do Pico, que nunca necessitou de asilos, hoje dispõe de quatro. Para os doentes dispunha de três unidades hospitalares, equipadas para os primeiros cuidados assistidas por médicos dedicados e acolhedores que atendiam os doentes, a qualquer hora do dia ou da noite. Agora ?!...
Com a saúde não se brinca, diz o povo. Estão em jogo muitas vidas e estas nem pagas nem substituídas podem ser.
Quase que é pena um daqueles que está a inventar estes serviços atabalhoados da saúde, não viver na Piedade e, em certa noite, não lhe aparecer uma pequena enxaqueca que o obrigasse a socorrer-se de um médico. Ia percorrer um môio de quilómetros para ir `a “Urgência” no Centro da Madalena?
Escreve quem isso conhece e sabe quanto custa!...
Só é para admirar que a “mudança” se não tenha feito com foguetes e um cálice do festejado néctar das parreiras picoenses.
Não serão “coisas do arco da velha”. Dos novos é que não devem ser, ou, antes, não deviam ser.

Pico, 13 de Julho de 2014.

Ermelindo Ávila

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