A MINHA NOTA
Assim
reza o velho ditado, quando algo acontece contrário ao senso comum.
E tantas que elas são!...
Durante
anos, levou-se a reclamar a falta de um médico para o concelho. O
facultativo ou médico municipal que cá havia, estou a referir-me ao
princípio do século passado, mudou-se para S. Jorge e, até 1928,
deixou de existir um médico, socorrendo-se os pacientes dos chamados
“homeopatas”, que lhes aplicavam, normalmente, mezinhas caseiras.
Geralmente,
eram os padres que, sendo cura de almas, eram também, por vezes com
sucesso, cura de doentes. Tanto assim que, nos programas de ensino do
seminário existia a aula de “higiene”, que mais não era do que
os rudimentares ensinamentos da medicina caseira. O título do método
era elucidativo: “O padre junto dos doentes e moribundos”.
Na
minha adolescência, fui tratado por um excelente sacerdote que
aconselhou que me ministrassem uma mesinha em água, às colheres.
Naquele
ano de 1928, a Câmara Municipal conseguiu trazer para o concelho um
médico que aqui se conservou durante quarenta anos. Que óptimo e
competente era esse facultativo, o inesquecível Dr. José Pinheiro
Cardoso de Campos.
Em
1960, a Misericórdia conseguiu abrir o, então classificado,
hospital sub-regional. O Dr. Campos, entretanto adoeceu. E que pesar
tinha ele de não poder desenvolver a sua actividade. Dizia-me: “Veio
tarde o hospital”.
A
ilha dispôs de médicos municipais em S. Roque e Madalena. A um
deles, o Dr. Tibério de Ávila Brasil, erigiram um busto. Como
podiam ter dedicado outros aos Dr. Campos e Dr. Luís Caetano de
Mendonça, que bem o mereciam.
Outros
médicos foram aparecendo e, actualmente, o hospital, que passou a
ser simplesmente “centro de saúde”, tem um bom e respeitável
corpo clínico. Mas, quando isso acontece, cortam-lhe, abruptamente,
o desenvolvimento concentrando “contra natura” os serviços
médicos num único centro de saúde, precisamente, aquele que é
mais desaconselhável pela distância a que fica da população da
ilha. Melhor: as urgências nocturnas e alguns serviços de
diagnóstico.
Toma
semelhante medida quem nunca viveu nas ilhas secundárias, onde a
população é dispersa e envelhecida e, consequentemente, mais
carecida de assistência médica. É que não conta a população,
quando ela é nova e saudável. Mas quando a juventude vai
desaparecendo e só ficam os idosos e doentes, apenas lhes podem
valer duas instituições: as casas dos idosos e os centros clínicos.
A
ilha do Pico, que nunca necessitou de asilos, hoje dispõe de quatro.
Para os doentes dispunha de três unidades hospitalares, equipadas
para os primeiros cuidados assistidas por médicos dedicados e
acolhedores que atendiam os doentes, a qualquer hora do dia ou da
noite. Agora ?!...
Com
a saúde não se brinca, diz o povo. Estão em jogo muitas vidas e
estas nem pagas nem substituídas podem ser.
Quase
que é pena um
daqueles que está a inventar estes serviços atabalhoados da saúde,
não viver na Piedade e, em certa noite, não lhe aparecer uma
pequena enxaqueca que o obrigasse a socorrer-se de um médico. Ia
percorrer um môio de quilómetros para ir `a “Urgência” no
Centro da Madalena?
Escreve
quem isso conhece e sabe quanto custa!...
Só
é para admirar que a “mudança” se não tenha feito com foguetes
e um cálice do festejado néctar das parreiras picoenses.
Não
serão “coisas do arco da velha”. Dos novos é que não devem
ser, ou, antes, não deviam ser.
Pico,
13 de Julho de 2014.
Ermelindo
Ávila
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