domingo, 2 de dezembro de 2012

CULTURA MUSICAL PICOENSE


NOTAS DO MEU CANTINHO


No dia 22 do corrente mês, a Liturgia católica celebra a memória de Santa Cecília, padroeira dos músicos. É uma festividade que aqui teve início, no ano de 1947, quando o Pe. António Filipe Madruga exercia as funções paroquiais na Matriz desta vila, após o falecimento do vigário e ouvidor Pe. José Vieira Soares. A partir daí, a capela da Matriz tem procurado promover essa memória. E fê-lo no passado domingo, com a colaboração de todos os coros paroquiais do concelho.
A vila das Lajes tem, de facto, uma tradição que vem de longos anos, com a cultura da Música. Quando por cá estavam os frades franciscanos, eram eles que colaboravam nas paroquiais, cantando nas festas solenes.
Em 1677 a confraria de S. Pedro “Despendeu da pregação e música na festa do Santo aos Frades mil reis”. Os Frades eram os franciscanos, porque outros não havia por cá.
Só quando os religiosos foram expulsos é que os padres seculares tomaram a seu cuidado a música das celebrações solenes. E excelentes músicos que alguns foram. Recordo os mais recentes: Pe. António Lúcio Ribeiro, Pe. João Pereira da Terra, Pe. Domingos Ferreira da Rosa Ângelo, Pes Manuel e José Ávila, Pe. Joaquim Vieira da Rosa, Pe. José Vieira Soares e até o Pe. António Filipe Madruga, além de João Homem Machado, que fez o curso no Seminário de Macau e que em S. Bárbara, desta ilha, e depois no Rio de Janeiro, Brasil, desenvolveu apreciável actividade musical, sendo o autor da letra e música do hino da Casa dos Açores, de que foi co-fundador. Publicou um importante estudo sobre “O Folclore na Ilha do Pico”. O Pe. José Vieira, ainda seminarista, foi nomeado para o coro da Sé, dada a sua excelente voz, apurado ouvido e conhecimentos musicais. O Pe. João foi o professor de diversos, particularmente, dos Pes. Ávila e Francisco Vieira Beleza. O Pe. José de Ávila foi professor de música no seminário, e de canto coral em diversos Liceus, incluindo o Liceu Camões, em Lisboa. Foi o fundador do orfeão de Angra donde derivaram os actuais grupos orais existentes em diversas ilhas.
De justiça aqui registar o Grupo Coral das Lajes do Pico, fundado e dirigido pelo malogrado Maestro Manuel Emílio Porto, não só ensaiador e regente, como inspirado compositor, um verdadeiro artista que, além de diversos trabalhos publicados, deixou, ao que consta, centenas de partituras inéditas. Do Seminário, onde tiveram Mestres de muito valor, como o referido Pe. José de Ávila e o Dr. Edmundo Machado Oliveira, saíram muitos sacerdotes que foram bons cultores da Música e promotores dos grupos corais em diversas ilhas. Um deles foi o já referido Maestro Emílio Porto.
O Pe. Manuel José Lopes, além de bom músico, foi ensaiador e regente de algumas filarmónicas, já no tempo em que cursou o Liceu da Horta. Em São Mateus, onde exerceu as suas funções sacerdotais, fundou a Filarmónica “Lira Picoense” (salvo erro), que veio a extinguir-se com a sua saída e cujo instrumental foi vendido mais tarde para a Filarmónica da Piedade, fundada pelo Pe. Francisco Vieira Soares.
A Música tem tido bons cultores na ilha do Pico. O concelho das Lajes tem, actualmente, seis Filarmónicas e quatro delas já celebraram cem anos. A Filarmónica Liberdade Lajense, a mais antiga, foi fundada em 14 de Fevereiro de 1864.
Na década de trinta do século passado, fundou-se, nesta vila, a Orquestra Santa Cecília, por Gil Xavier Bettencourt, que deu alguns concertos com notável êxito. Como, depois, uma Tuna de apreciável valor artístico, fundada e mestrada por Manuel Vitorino Nunes Jr..
Antes havia existido a Filarmónica Artista Lajense que, durante vários anos, actuou sob a regência de Manuel Xavier Bettencourt e, depois, do filho Gil Xavier. Constituíam a Família Xavier, músicos notáveis, o que levou a Câmara Municipal, aqui há anos, a dedicar-lhe uma das ruas da Vila, hoje denominada “Rua Família Xavier – Músicos”. Mas não só os citados. Importa lembrar D. Maria Xavier, seu filho o maestro Manuel Xavier Soares, e a sobrinha D. Margarida Xavier, distintos executantes e professoras de piano, que deixaram bons discípulos.
Mas, afinal, na ilha do Pico sempre se cultivou, com muito interesse, a divina arte. Lembro as Filarmónicas Recreio dos Pastores (1904), Lira Fraternal Calhetense (1888) e Recreio Ribeirense (1900), além da Liberdade Lajense, todas já centenárias, a União Musical da Piedade (1944) e a União Ribeirense (1952) de Santa Bárbara; a União Artista de S. Roque (1880), também centenária, a Recreio União Prainhense (1934) da Prainha do Norte e a Recreio Santamarense (1931) de Santo Amaro. A Vila da Madalena tem duas Filarmónicas de elevado nível artístico: a Lira Madalenense (1897) e a União e Progresso (1879). Recentemente, foi fundada a “Lira de S. Mateus”, numa freguesia onde sempre existiram bons cultores da Música. Recordo os professores Manuel José Rodrigues e José Inácio Garcia de Lemos.
E lembro o velho e bom amigo, Manuel Cristiano de Sousa e Simas, além de Rodrigo Ferreira, na Madalena, que, foram bons executantes e inspirados compositores.
E os ranchos folclóricos que mantêm, com entusiasmo, a Música popular e que aí andam, nas festas e arraiais, a divertir o povo?! São vários os que existem na ilha do Pico. Não esqueço também a qualidade dos novos compositores, maestros e executantes das nossas filarmónicas picoenses formados nas escolas públicas, e já com excelentes provas dadas. Presentemente, temos o maestro Antero Ávila autor de alguns trabalhos relevantes. Mas é impossível todos aqui recordar.
Nestes dias em que a Padroeira da Música é lembrada, vale a pena esta pequena homenagem simples mas justa, aos cultores da Arte Musical, na ilha do Pico.

Vila das Lajes do Pico,
Nov.2012
Ermelindo Ávila

1 comentário:

Manela disse...

Li a citação que fez ao meu avô José Inácio Garcia de Lemos. Ando a procurar reunir informação sobre uma personalidade tão interessante como ele foi. Se me puder ajudar com alguma informação ou indicação de documentação, fico-lhe muito grata.
Manuela Lemos Meneses