NOTAS
DO MEU CANTINHO
Desde
remotas eras, Portugal prestou culto à Imaculada Conceição.
Nesta
Vila das Lajes, os franciscanos construíram seu convento junto de
uma ermida que Isabel Pereira fundara, acima da Vila cerca de 1559 e
lhe doara alguns foros que tinha, e no seu testamento deixara que, se
algum tempo do mundo os frades de São Francisco ali quisessem fundar
convento, lhe dariam a ermida com todos os foros. A ermida era
dedicada a Nossa Senhora da Conceição (que ainda conheci
incorporada no edifício do convento). E assim aconteceu. O convento
foi fundado junto da ermida, e a Comunidade nela instalada a 31 de
Agosto de 1691. Mais tarde, foi aumentado para Norte e construída a
Igreja própria, igualmente dedicada a Nossa Senhora da Conceição.
Foi inaugurada em 1768, mas só ficou concluída em 1804. Poucos anos
depois, na noite de 1 de Fevereiro de 1830, um violento incêndio
destruiu, totalmente, a igreja e seus haveres. Em 1832 foi extinto o
convento, por decreto de D. Pedro de 17 de Maio. Mas o P. Francisco
Salles, último guardião, conseguiu restaurar a Igreja, e nela
colocar uma imagem da Imaculada, oferecida pela Misericórdia da
Horta, sendo substituída, em 1906, pela actual, uma excelente
escultura adquirida com donativos recolhidos pela devota Rita
Carolina, uma jovem que, devido à tuberculose contraída nas
andanças pelas ilhas em peditório, morreu cedo.
A
devoção à Imaculada Conceição, em Portugal, é muito antiga. Em
1618, a Câmara Municipal de Lisboa mandava lavrar em pedra, nas
portas principais da cidade, letreiros em que se afirmava que a
Virgem Maria fora concebida sem pecado original.
E “Nas cortes de 1645-1646 assentou-se em tomar por padroeira do
reino a Imaculada Conceição”. (1)
Portugal,
desde há longos anos, vivia a fé neste dogma mariano, tendo D. João
IV consagrado o reino à Senhora da Conceição. E em 25 de Março
de 1646 coroou, solenemente, a Imagem de N. Senhora da Conceição de
Vila Viçosa.
A
partir daí os reis de Portugal nunca mais usaram coroa.
De
assinalar a construção do santuário do Sameiro, Braga, cuja
primeira pedra foi benzida, a 29 de Agosto de 1869. (2)
Em
8 de Dezembro de 1864, Pio IX proclama o dogma em que declara que a
Virgem foi imaculada desde a sua concepção.
Entretanto,
dão-se as aparições da Virgem em Lourdes. Pela primeira vez, a 11
de Fevereiro de 1858, a Virgem aparece na Gruta de Massabielle a uma
jovem, hoje Santa Bernardete, mas só na aparição de 25 de Março,
dia em que a Igreja celebra a Festa da Anunciação, e depois de
muitas insistências da vidente, a Aparição “Abriu então os
braços e os inclinou para o solo, como para mostrar à terra suas
mãos virginais, cheias de bênçãos. Depois, levantando-as para a
eterna região donde desceu, em igual dia, o Mensageiro divino da
Anunciação, tornou-as a juntar, fervorosamente e, olhando para o
céu com sentimento dum indizível agradecimento, pronunciou estas
palavras:
Eu Sou a Imaculada Conceição.” (3)
Confirmava assim o dogma de Pio IX.
Como
acima refiro, o culto da Imaculada Conceição é muito antigo em
Portugal e até mesmo nesta vila. Daí terem os franciscanos fundado
seu convento junto da ermida que Isabel Pereira havia construído no
cimo da vila. O convento franciscano está hoje a servir de Paços
do Concelho e nele instaladas algumas repartições do Estado.
A
igreja estabeleceu no calendário litúrgico o dia 8 de Dezembro como
o dia da Imaculada
Conceição.
Outrora, era uma das solenidades maiores celebradas nesta Vila,
precisamente na Igreja do antigo convento, com novenário e matinas
na véspera. A partitura das matinas era uma peça clássica, com
magníficos solos cantados, geralmente, por músicos excelentes
convidados para o efeito. Mas tudo passou. Ficou, porém, a devoção
bastante entranhada na alma do povo crente, pois conta cerca de cinco
séculos. Na Matriz das Lajes, até meados do século passado, era o
dia escolhido para a celebração da Comunhão Solene (primeira e
única).
1)
Almeida,
Fortunato,
“História da Igreja em Portugal”, pág. 558
2)
Silva, Heitor Morais, S.J., “História dos Papas”, pág. 322
3)
Lasserre, Henrique, “Nossa Senhora de Lourdes”, 1871, pág. 194
Vila
das Lajes do Pico, Dezº de 2012
Ermelindo
Ávila
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