Segundo o auto lavrado
pelo escrivão da Câmara Eclesiástica, José Maria Sodré, as aulas
do Seminário Diocesano de Angra iniciaram-se no dia 9 de Novembro
de 1862. São decorridos, portanto, 150 anos. Uma efeméride a
recordar, com efusivos louvores.
Matricularam-se 26
alunos, número superior ao actual. Desses primeiros fizeram parte 8
alunos da ilha do Pico, entre eles António Lúcio Ribeiro, já viúvo
e professor de ensino secundário. Frequentou o último ano e
ordenou-se sacerdote, continuando nas Lajes a leccionar Latim e
Latinidade.
Com a proclamação da
Republica o Seminário foi extinto em Outubro de 1911, tomando o
Administrador do Concelho conta das chaves, do recheio e do fundo
financeiro.
Os alunos
dispersaram-se: uns voltaram para as famílias e outros instalaram-se
em residências particulares e recebiam aulas nas residências dos
professores. Em 2 de Março de 1914, o Dr. Bernardo Almada, de acordo
com o Governador do Bispado, comprou o Palácio do Barão do Ramalho.
(Enquanto nele viveu não permitiu que fossem alteradas as salas
que ocupava.) Aí principiou a funcionar o seminário, com a
denominação de internato, pois não era permitido, pelas leis
republicanas, a existência de seminários.
A população escolar
voltou a crescer e a casa tornou-se pequena para a albergar.
Entretanto, foi comprada uma casa no Pátio do Conde, em S. Luzia,
(onde hoje existem os Serviços Meteorológicos) que passou a servir
de camarata a uma parte dos alunos. Os outros ficavam numa sala por
cima da sacristia da Sé. Mais tarde os teólogos instalaram-se no
último andar da Casa das Senhoras Meneses. Hoje, julgo ser a seda
das “Obras Católicas”.
Era
penosa a deslocação, principalmente no inverno, para as camaratas.
Seguia-se pela rua da Esperança e atravessava-se a Rua da Sé, com
excepção do domingo. Nesse dia, não se podia ir pela rua da
Esperança por causa das sessões de cinema no Teatro. Descia-se,
pois, à rua da Sé e subia-se por ela, vendo as montras dos
estabelecimentos comerciais, o que já não era pouco... Recolhiam às
nove e meia da noite. O despertar era às 5,30 h. da manhã. Na Sé,
só ficavam os mais novos e depois uma parte dos médios...
Em
disciplina não havia contemplações. Os Prefeitos eram
inexperientes mas exigentes. Alguns nem padres eram ainda e tratavam
os alunos como “animais bravos”... Daí algumas das
desistências. Em 1927 entraram para o Seminário 50 alunos.
Terminaram o curso cerca de vinte!...
Diferente era o corpo
docente, a quase totalidade formada em Roma. Muitos deles deixaram
saudades nos alunos: recordo o Dr. Cardoso do Couto, que foi
vice-reitor (reitor era o Prelado) até 1928, e professor de
Filosofia, o Dr. Garcia da Rosa, professor de Português, e o P.
Costa Ferreira, professor de Literatura e História (e alguns mais).
Em 1928, quando ainda era vice-reitor o Dr. Couto, o Orfeão da
regência do P. José de Ávila, foi a Ponta Delgada. Os seus
concertos fizeram sucesso. E, depois, só uma vez foi permitida a
saída ao Teatro Angrense.
Ainda na administração
do Dr. Couto foi construída a camarata da Rua do Rego, que passou a
ser utilizada pelos mais novos. Era a “Camarata do Dr. Couto”.
Com
a entrada de novo vice-reitor, tudo se modificou ou, melhor,
complicou. Os alunos, até então, não saíam com vestes talares,
até porque o espírito dos antigos republicanos ainda se impunha. A
partir daí, e porque a revolução de 28 de Maio havia alterado o
sistema político, o novo vice-reitor impôs a saída de batina, até
aos mais novos... A medida causou certa perplexidade na cidade, dado
até o “isolamento” imposto. Nem era permitido o contacto,
durante os passeios, com qualquer estranho... Atribulados foram os
anos que se seguiram com as construções que se fizeram, muito
embora tivessem permitido o albergue interno de todos os alunos.
Apesar
de tudo, é de registar que o Seminário de Angra foi sempre
considerado um estabelecimento de ensino superior modelar, pelo Corpo
Docente que nele leccionava.
E termino aqui, pois já
excedi o espaço que me foi concedido.
Vila das Lajes,
13-11-2012.
Ermelindo Ávila
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