domingo, 2 de dezembro de 2012

Seminário de Angra 1862 – 2012



Segundo o auto lavrado pelo escrivão da Câmara Eclesiástica, José Maria Sodré, as aulas do Seminário Diocesano de Angra iniciaram-se no dia 9 de Novembro de 1862. São decorridos, portanto, 150 anos. Uma efeméride a recordar, com efusivos louvores.
Matricularam-se 26 alunos, número superior ao actual. Desses primeiros fizeram parte 8 alunos da ilha do Pico, entre eles António Lúcio Ribeiro, já viúvo e professor de ensino secundário. Frequentou o último ano e ordenou-se sacerdote, continuando nas Lajes a leccionar Latim e Latinidade.
Com a proclamação da Republica o Seminário foi extinto em Outubro de 1911, tomando o Administrador do Concelho conta das chaves, do recheio e do fundo financeiro.
Os alunos dispersaram-se: uns voltaram para as famílias e outros instalaram-se em residências particulares e recebiam aulas nas residências dos professores. Em 2 de Março de 1914, o Dr. Bernardo Almada, de acordo com o Governador do Bispado, comprou o Palácio do Barão do Ramalho. (Enquanto nele viveu não permitiu que fossem alteradas as salas que ocupava.) Aí principiou a funcionar o seminário, com a denominação de internato, pois não era permitido, pelas leis republicanas, a existência de seminários.
A população escolar voltou a crescer e a casa tornou-se pequena para a albergar. Entretanto, foi comprada uma casa no Pátio do Conde, em S. Luzia, (onde hoje existem os Serviços Meteorológicos) que passou a servir de camarata a uma parte dos alunos. Os outros ficavam numa sala por cima da sacristia da Sé. Mais tarde os teólogos instalaram-se no último andar da Casa das Senhoras Meneses. Hoje, julgo ser a seda das “Obras Católicas”.
Era penosa a deslocação, principalmente no inverno, para as camaratas. Seguia-se pela rua da Esperança e atravessava-se a Rua da Sé, com excepção do domingo. Nesse dia, não se podia ir pela rua da Esperança por causa das sessões de cinema no Teatro. Descia-se, pois, à rua da Sé e subia-se por ela, vendo as montras dos estabelecimentos comerciais, o que já não era pouco... Recolhiam às nove e meia da noite. O despertar era às 5,30 h. da manhã. Na Sé, só ficavam os mais novos e depois uma parte dos médios...
Em disciplina não havia contemplações. Os Prefeitos eram inexperientes mas exigentes. Alguns nem padres eram ainda e tratavam os alunos como “animais bravos”... Daí algumas das desistências. Em 1927 entraram para o Seminário 50 alunos. Terminaram o curso cerca de vinte!...
Diferente era o corpo docente, a quase totalidade formada em Roma. Muitos deles deixaram saudades nos alunos: recordo o Dr. Cardoso do Couto, que foi vice-reitor (reitor era o Prelado) até 1928, e professor de Filosofia, o Dr. Garcia da Rosa, professor de Português, e o P. Costa Ferreira, professor de Literatura e História (e alguns mais). Em 1928, quando ainda era vice-reitor o Dr. Couto, o Orfeão da regência do P. José de Ávila, foi a Ponta Delgada. Os seus concertos fizeram sucesso. E, depois, só uma vez foi permitida a saída ao Teatro Angrense.
Ainda na administração do Dr. Couto foi construída a camarata da Rua do Rego, que passou a ser utilizada pelos mais novos. Era a “Camarata do Dr. Couto”.
Com a entrada de novo vice-reitor, tudo se modificou ou, melhor, complicou. Os alunos, até então, não saíam com vestes talares, até porque o espírito dos antigos republicanos ainda se impunha. A partir daí, e porque a revolução de 28 de Maio havia alterado o sistema político, o novo vice-reitor impôs a saída de batina, até aos mais novos... A medida causou certa perplexidade na cidade, dado até o “isolamento” imposto. Nem era permitido o contacto, durante os passeios, com qualquer estranho... Atribulados foram os anos que se seguiram com as construções que se fizeram, muito embora tivessem permitido o albergue interno de todos os alunos.
Apesar de tudo, é de registar que o Seminário de Angra foi sempre considerado um estabelecimento de ensino superior modelar, pelo Corpo Docente que nele leccionava.
E termino aqui, pois já excedi o espaço que me foi concedido.
Vila das Lajes, 13-11-2012.
Ermelindo Ávila

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