NOTAS
DO MEU CANTINHO
No dia 22
do corrente mês, a Liturgia católica celebra a memória de Santa
Cecília, padroeira dos músicos. É uma festividade que aqui teve
início, no ano de 1947, quando o Pe. António Filipe Madruga exercia
as funções paroquiais na Matriz desta vila, após o falecimento do
vigário e ouvidor Pe. José Vieira Soares. A partir daí, a capela
da Matriz tem procurado promover essa memória. E fê-lo no passado
domingo, com a colaboração de todos os coros paroquiais do
concelho.
A
vila das Lajes tem, de facto, uma tradição que vem de longos anos,
com a cultura da Música. Quando por cá estavam os frades
franciscanos, eram eles que colaboravam nas paroquiais, cantando nas
festas solenes.
Em 1677 a
confraria de S. Pedro “Despendeu da pregação
e música na festa do Santo aos Frades mil reis”. Os
Frades eram os franciscanos, porque outros não havia por cá.
Só
quando os religiosos foram expulsos é que os padres seculares
tomaram a seu cuidado a música das celebrações solenes. E
excelentes músicos que alguns foram. Recordo os mais recentes: Pe.
António Lúcio Ribeiro, Pe. João Pereira da Terra, Pe. Domingos
Ferreira da Rosa Ângelo, Pes Manuel e José Ávila, Pe. Joaquim
Vieira da Rosa, Pe. José Vieira Soares e até o Pe. António Filipe
Madruga, além de João Homem Machado, que fez o curso no Seminário
de Macau e que em S. Bárbara, desta ilha, e depois no Rio de
Janeiro, Brasil, desenvolveu apreciável actividade musical, sendo o
autor da letra e música do hino da Casa dos Açores, de que foi
co-fundador. Publicou um importante estudo sobre “O
Folclore na Ilha do Pico”. O
Pe. José Vieira, ainda seminarista, foi nomeado para o coro da Sé,
dada a sua excelente voz, apurado ouvido e conhecimentos musicais. O
Pe. João foi o professor de diversos, particularmente, dos Pes.
Ávila e Francisco Vieira Beleza. O Pe. José de Ávila foi professor
de música no seminário, e de
canto coral em diversos Liceus, incluindo o Liceu
Camões, em Lisboa. Foi o fundador do orfeão de Angra donde
derivaram os actuais grupos orais existentes em diversas ilhas.
De justiça
aqui registar o Grupo Coral das Lajes do Pico, fundado e dirigido
pelo malogrado Maestro Manuel Emílio Porto, não só ensaiador e
regente, como inspirado compositor, um verdadeiro artista que, além
de diversos trabalhos publicados, deixou, ao que consta, centenas de
partituras inéditas. Do Seminário, onde tiveram Mestres de muito
valor, como o referido Pe. José de Ávila e o Dr. Edmundo Machado
Oliveira, saíram muitos sacerdotes que foram bons cultores da Música
e promotores dos grupos corais em diversas ilhas. Um deles foi o já
referido Maestro Emílio Porto.
O Pe.
Manuel José Lopes, além de bom músico, foi ensaiador e regente de
algumas filarmónicas, já no tempo em que cursou o Liceu da Horta.
Em São Mateus, onde exerceu as suas funções sacerdotais, fundou a
Filarmónica “Lira Picoense” (salvo erro), que veio a
extinguir-se com a sua saída e cujo instrumental foi vendido mais
tarde para a Filarmónica da Piedade, fundada pelo Pe. Francisco
Vieira Soares.
A Música
tem tido bons cultores na ilha do Pico. O concelho das Lajes tem,
actualmente, seis Filarmónicas e quatro delas já celebraram cem
anos. A Filarmónica Liberdade Lajense, a mais antiga, foi fundada em
14 de Fevereiro de 1864.
Na década
de trinta do século passado, fundou-se, nesta vila, a Orquestra
Santa Cecília, por Gil Xavier Bettencourt, que deu alguns concertos
com notável êxito. Como, depois, uma Tuna de apreciável valor
artístico, fundada e mestrada por Manuel Vitorino Nunes Jr..
Antes havia
existido a Filarmónica Artista Lajense que, durante vários anos,
actuou sob a regência de Manuel Xavier Bettencourt e, depois, do
filho Gil Xavier. Constituíam a Família Xavier, músicos notáveis,
o que levou a Câmara Municipal, aqui há anos, a dedicar-lhe uma das
ruas da Vila, hoje denominada “Rua Família Xavier – Músicos”.
Mas não só os citados. Importa lembrar D. Maria Xavier, seu filho o
maestro Manuel Xavier Soares, e a sobrinha D. Margarida Xavier,
distintos executantes e professoras de piano, que deixaram bons
discípulos.
Mas,
afinal, na ilha do Pico sempre se cultivou, com muito interesse, a
divina arte. Lembro as
Filarmónicas Recreio dos Pastores (1904), Lira Fraternal Calhetense
(1888) e Recreio Ribeirense (1900), além da Liberdade Lajense,
todas já centenárias, a União Musical da Piedade (1944) e a União
Ribeirense (1952) de Santa Bárbara; a União Artista de S. Roque
(1880), também centenária, a Recreio União Prainhense (1934) da
Prainha do Norte e a Recreio Santamarense (1931)
de Santo Amaro. A Vila da Madalena tem duas
Filarmónicas de elevado nível artístico: a Lira Madalenense (1897)
e a União e Progresso (1879). Recentemente, foi fundada a “Lira de
S. Mateus”, numa freguesia onde sempre existiram bons cultores da
Música. Recordo os professores Manuel José Rodrigues e José Inácio
Garcia de Lemos.
E lembro o
velho e bom amigo, Manuel Cristiano de Sousa e Simas, além de
Rodrigo Ferreira, na Madalena, que, foram bons executantes e
inspirados compositores.
E os
ranchos folclóricos que mantêm, com entusiasmo, a Música popular e
que aí andam, nas festas e arraiais, a divertir o povo?! São vários
os que existem na ilha do Pico. Não esqueço também a qualidade dos
novos compositores, maestros e executantes das nossas filarmónicas
picoenses formados nas escolas públicas, e já com excelentes provas
dadas. Presentemente, temos o maestro Antero Ávila autor de alguns
trabalhos relevantes. Mas é impossível todos aqui recordar.
Nestes dias
em que a Padroeira da Música é lembrada, vale a pena esta pequena
homenagem simples mas justa, aos cultores da Arte Musical, na ilha do
Pico.
Vila das
Lajes do Pico,
Nov.2012
Ermelindo
Ávila
1 comentário:
Li a citação que fez ao meu avô José Inácio Garcia de Lemos. Ando a procurar reunir informação sobre uma personalidade tão interessante como ele foi. Se me puder ajudar com alguma informação ou indicação de documentação, fico-lhe muito grata.
Manuela Lemos Meneses
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