NOTAS DO MEU CANTINHO
A primitiva iluminação das habitações
era feita com as candeias alimentadas a óleos extraídos de peixes e animais
marinhos: como o albafar, a toninha e o
moleiro (golfinho) e, depois, a baleia.
Havia cadeias de um e de dois “pratos”. Daí o adágio popular: “o que cai da
candeia de cima fica na de baixo”.
Utilizava-se, ainda, a vela de cebo de animais. Tudo uma iluminação
bastante precária e até doentia. Depois apareceu o petróleo, que permitia uma
melhor iluminação. E foi então que as vilas e cidades começaram a ser
iluminadas com candeeiros adequados. Na Vila das Lajes, instalaram-se os
candeeiros para a iluminação pública em 1897, tendo a Câmara Municipal
dispendido na sua aquisição 240$790 reis.
Em sessão de 18 de Julho de 1898,
deliberou que os candeeiros estivessem acesos nos meses de Maio a Setembro,
inclusive, desde o anoitecer até às 11 horas e
nos restantes meses até às 10 h, exceptuando sempre as noites em que
houvesse luar. Em 1910, a Câmara recebeu de oferta da Câmara da Horta, um
candeeiro instalado em coluna de ferro, o qual foi colocado no Meio da Vila.
As Lajes tinha uma iluminação razoável e com bons
candeeiros. Ainda os conheci, embora já retirados de uso. É que, em certa noite, um doente mental que estava
retido, na cadeia pública, conseguiu evadir-se e, depois de subir à sineira da
igreja e tocar a rebate nos sinos, percorreu as ruas da vila a partir todos os
candeeiros da iluminação pública. O presidente da Câmara, então o comendador
António Homem da Costa, resolveu retirar os candeeiros e recolhê-los no antigo
“curral do concelho”, onde os conheci.
A vila das Lajes ficou às escuras durante muitos anos,
o que não deixava de ser aflitivo para as pessoas. Serviam os lampiões com
velas de estearinas, que já as havia, ou alguns, raros, de petróleo. Apareceram
depois os candeeiros incandescentes e, em uma ou outra habitação, iluminação a
gás. Tudo sistemas precários e algo dispendiosos.
(Já noite, ia-se à mercearia do Senhor Comendador comprar
qualquer género. Ele acendia um bico de vela, servia o freguês e, depois,
apagava a vela, para não gastar...)
Estava-se em 1930. Um grupo de
lajenses resolveu fundar uma empresa (sociedade anónima) para promover o
fornecimento da iluminação eléctrica. A escritura foi lavrada a 11 de Outubro
de 1930. Diz o historiador: “Com a
realização deste empreendimento foram os lajenses os pioneiros da
electrificação da sua ilha”. (1) Os primeiros corpos gerentes foram
constituídos por dezasseis accionistas.
O projecto de electrificação da vila
foi elaborado pelo engenheiro Max Corsépius que, ao tempo, era o director da
estação alemã dos cabos submarinos instalada na Horta. Da Horta vieram dois
electricistas que procederam à montagem da rede e executaram as instalações das
residências dos futuros consumidores.
Os lajenses não foram, porém, felizes
com a aquisição do primeiro motor - gerador, que chegou a partir cinco veios,
até que foi adquirido um outro motor de baixa rotação que garantiu o funcionamento
da central, até que os serviços eléctricos passaram para a Câmara Municipal por
escritura de 30 de Julho de 1960.
Depois, foi constituída a Empresa de
Electricidade dos Açores, por decreto Regional nº 34/81/A, de 18 de Julho,
que absorveu todos os serviços
municipais e particulares de electrificação dos Açores, Entretanto, havia sido
constituída a Federação dos Municípios da Ilha do Pico, para a exploração dos
serviços eléctricos, que teve vida efémera, pela passagem dos mesmos serviços para
a EDA. Quando tal se deu a Federação
estava a proceder à electrificação de toda a ilha. No concelho das Lajes já se
encontravam electrificadas as freguesias de Lajes, São João e Ribeiras, com a
comparticipação técnica e financeira da Direcção Geral dos Serviços Hidráulicos
e Eléctricos. Previa-se o aproveitamento da Lagoa do Paúl para a montagem de
uma estação hidroeléctrica, cujos estudos estavam concluídos.
E, uma nota curiosa: o concelho das Lajes já dispunha
de dez centrais comunitárias, instaladas pelas próprias freguesias e lugares –
as sociedades da luz – a primeira das
quais foi instalada em Santa Cruz das Ribeiras, em 1958. Um movimento simpático
que resultou na melhoria de vida das respectivas populações.
Em substituição da hidroeléctrica optou-se
pela central das ondas, destruída por ondas alterosas, e montaram-se, no alto
da ilha, geradores de energia eólica, esquecendo-se que este sistema está a ser abandonado por
prejudicial à nidificação das aves que se acolhem à ilha.
Esperamos que a hidroeléctrica venha a
ser instalada um dia, quando os combustíveis rarearem e se encarar,
decisivamente, a instalação de energias renováveis.
Vila das Lajes,
15 - 11 – 2012
Ermelindo Ávila
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