NOTAS DO MEU CANTINHO
Anunciam o seu
desaparecimento. A notícia causou-me sério pesar e, com certeza, a
muitos açorianos, que não apenas aos terceirenses.
“O jornal foi
fundado, na cidade de Angra do Heroísmo, no dia 3 de Dezembro de
1893, por Manuel Vieira Mendes da Silva, que foi seu director durante
29 anos, até à data do seu falecimento, em 1922.”(1) Passou
depois para a posse da Diocese, a partir do 1º de Dezembro de 1924.
Nele está naturalmente arquivada a história de Angra e da Ilha
Terceira dos últimos cento e vinte anos. Interessante o período em
que os Deportados assumiram o governo da Ilha Terceira, em 1931.
A sua aquisição pela
Diocese deve-se ao Bispo Dom António Augusto de Castro Meireles, que
a governou, desde 6 de Agosto de 1924 até Agosto de 1928, pela
transferência, como Coadjutor, para a Diocese do Porto. E bastaram
quatro anos para desenvolver uma notável e inigualável acção
apostólica e administrativa em prol da Diocese. Meses após a sua
posse, “adquire para a Diocese o diário local “A
União”, assim como a casa da sua redacção e
impressão: e assim, no início do 32º ano daquele jornal – 1 de
Dezembro de 1924 – era ele publicado por conta da Diocese. (...)
Pouco depois adquiriu nas mesmas condições e com o mesmo intuito,
“A Democracia”, que se publicava na cidade
da Horta . Esteve prestes a adquirir também o “Correio
dos Açores”, de Ponta Delgada, mas a aquisição e
manutenção deste jornal era superior à soma de que podia dispor a
Diocese” (2)
Foi director de A
União o Cónego José Augusto Pereira que o dirigiu o diário
desde Dezembro de 1924 até Outubro de 1932. Tinha como Redactor
principal o Pe. António da Costa Ferreira que assumiu a direcção
com a saída do Cº Pereira. Aquando do falecimento do P. Costa
Ferreira, outros directores se seguiram como o Dr. Manuel Cardoso do
Couto, Dr. Artur Cunha de Oliveira, o Pe Coelho de Sousa, o Dr.
Álvaro Monjardino e outros mais. Actualmente exerce o cargo o Pe.
Marco Gomes. Mas nem sempre foi pacífica a publicação do diário
angrense. O Dr. Cardoso do Couto, quando o dirigiu, sofreu com os
ataques que lhe foram dirigidos por outros jornais, embora tudo
esquecesse, por os considerar “verduras dos anos”...
Menos sorte teve o
jornal A Democracia. Dirigido pelo P. José Maria Fernandes,
tinha como redactores os Padres Francisco Vieira Soares, nosso
conterrâneo, que, aquando a sua colocação nos Cedros, ali fundou o
“Eco Cedrense” e o Pe José Eduardo. D. Guilherme, ao chegar à
Diocese, fez a venda do jornal a uma empresa, para o efeito fundada
na Horta, e que passou a publicar, em 4 de Dezembro de 1929, o
Correio da Horta. Com o surgimento da Revolução de Abril
este diário faialense foi adquirido novamente pela Diocese, que
manteve a sua publicação até que foi encerrado em Fevereiro de
2007. Uma perda irreparável para a Igreja e para a Cultura destas
“Ilhas de Baixo”.
Mas voltando ao Bispo
D. António Meireles, há que referir que não se interessou somente
pela Imprensa Católica. Ele vinha de uma época revolucionária, num
período em que a Igreja era combatida, ou talvez melhor, perseguida.
Havia sido, em 1915,
deputado pelo Centro Católico – o 1º Representante dos Católicos
no Parlamento da lª. República, - tornando-se notável a sua
acção em defesa dos violados direitos da Igreja, tendo merecido,
porém, em 1924, a Comenda de Oficial da Ordem de Cristo.
Por ocasião do
terramoto que destruiu parte da cidade da Horta, Dom António
Meireles concebeu a ideia de fundar ali uma casa para recolher,
sustentar e educar as crianças órfãs e pobres da ilha, comprando
para o efeito a casa pertencente à Família Arriaga. Nela chegou a
funcionar a obra do Pe. Américo, sob a direcção do Pe. Genuíno
Madruga.
Em Ponta Delgada,
adquiriu, por doação do Dr. José J. de Andrade Albuquerque, de
quem fora colega em Coimbra, uma grande casa junto do jardim António
Borges e ali fundou um colégio de instrução primária e
secundária, com o nome de Colégio Sena Freitas. Iniciou o
funcionamento sob a direcção do Dr. José Vieira Alvernaz, que,
depois, viria ser Reitor do Seminário de Angra e, Bispo de Cochim e,
mais tarde, o último Arcebispo e Patriarca de Goa. O colégio foi
extinto, por ordem de D. Guilherme, em 1942 e o respectivo recheio
passou para o Seminário.
O diário A União
vai desaparecer. É mais um elo a quebrar-se na organização
católica da Diocese. Extingue-se a Imprensa, encerram-se as
ouvidorias, inova-se a paroquialidade, com o sistema rotativo dos
párocos... “ Que mais irá acontecer?”
Durante alguns anos dei
a minha insípida colaboração ao diário “A União”. Daí o
respeito e a admiração que sempre tive pelos seus dirigentes e
colaboradores. Um jornal que se impôs, como propriedade da Igreja,
pela sua orientação católica, pela vernaculidade dos trabalhos
publicados, pela seriedade das notícias. Alguns suplementos, quer
doutrinais quer literários, fizeram história.
Como disse, a história
do antigo distrito de Angra, principalmente, está contida no velho
e simpático A União. É um património que não deve morrer.
Não haverá em Angra, entidade ou instituição, que socorra o
velho diário?
Verdade que o Correio
da Horta não teve essa sorte e hoje quase ninguém se lembra do
antigo diário do Constantino Amaral ou do Xavier ou dos que mais
recentemente o dirigiram. É caso para se dizer, como diziam os
antigos latinistas: Sic transit!...
_________
- Andrade, Manuel Jacinto de – “Jornais Centenários dos Açores” - 1994
- Cónego Pereira – “A Diocese de Angra na História dos Seus Prelados” – Segunda Parte – 1954
Vila
das Lajes do Pico
13-11-2012
Ermelindo
Ávila
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