Delmiro, um dos alunos, o mais aplicado e distinto da aula, nada escrevia. Sabia, pelos anos anteriores, que nada conseguiria e preferia ficar quieto, preparando as suas lições.
Nunca faltava às aulas e não só ia com as lições sabidas como ainda ajudava os companheiros nos seus trabalhos escolares.
Os pais, embora pobres, procuravam que os filhos não faltassem à escola, muito embora isso, por vezes, lhe fosse penoso, principalmente no inverno, quando o mau tempo não deixava enxugar as roupinhas, lavadas ao sábado, para os filhos levarem para a escola na segunda-feira. Mas tudo ia decorrendo muito embora com certa dificuldade.
Os dias iam passando. As férias do Natal aproximavam-se. Todas as famílias procuravam enfeitar suas casas com arvores de Natal, com iluminações multicolores e decorações diversas , prateadas e douradas. Não faltavam as prendas para novos e velhos. Os pais do Delmiro nada podiam preparar dada a sua extrema pobreza.
Na escola a professora, uma jovem que ali estava a leccionar há dois anos, anunciou que, naquele ano, iam fazer uma festa escolar muito especial. E com os alunos iam preparando as singelas decorações. Para isso distribui folhas de cartolina para que cada um fizesse um desenho, a seu gosto, para ser exposto. Delmiro recolheu-se na carteira e começou a fazer o seu desenho. Levou alguns dias e, como é natural, evitava que fosse visto pelos colegas e pela Mestra. Só o entregou no momento próprio para ser exposto. Uma paisagem, com árvores, arbustos e flores várias. Em fundo um pôr de sol maravilhoso, com nuvens multicolores a espargirem junto dos raios solares, as mais belas cores. Um encanto, que causou admiração a todos.
No dia escolhido para a realização da festa, apareceram na escola os pais dos alunos e outros convidados. Todos admiraram as decorações. Todos ficaram encantados com as recitações de versos próprios da quadra e com as canções que um grupo de alunos, ensaiado pela Professora, cantou. Uma linda festa do Natal, afinal. Mas não foi tudo.
Quando chegou a ocasião própria, a Professora falou para anunciar que, naquele ano, ia ser entregue uma prenda muito especial a um aluno da última classe, que naquele ano terminava a instrução primária, e, com muito pesar seu, ia deixar a escola. Tratava-se, nem mais nem menos, do Delmiro, o mais distinto aluno, que por isso ia receber a prenda anunciada: uma bolsa de estudos para puder continuar a estudar no liceu e, posteriormente, se assim o entendessem, tirar um curso superior. Era uma oferta de uma instituição de solidariedade social que quis premiar um aluno brilhante, com uma inteligência fora do comum.
Alguns pais dos outros alunos entregaram também ao Delmiro suas prendas em agradecimento pelas ajudas que ele prestava aos filhos, na preparação das matérias estudadas.
Escusado será dizer que os pais do Delmiro ficaram muito sensibilizados e reconhecidos. Ele chorava de alegria, o que era natural para a sua idade.
Na realidade, era para si a melhor prenda do Natal que jamais podia ter. Todos, professora, alunos e pais destes o felicitaram muito entusiasticamente, dando vivas ao Pai Natal pelo que acabara de acontecer. E para o Delmiro e para os pais e irmãos, aquele Natal foi diferente e nunca mais foi esquecido nas suas vidas.
Natal de 2010.
Ermelindo Ávila
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