Era uma das solenidades mais importantes da Nação Portuguesa. No tempo da Monarquia o próprio Rei tomava parte na procissão com toda a sua corte e, por vezes, levava uma das varas do pálio. Implantada a República, e com a lei da separação da Igreja do Estado, e até com a perseguição feita pelo poder republicano às instituições canónicas e ao próprio clero, deixou a procissão de ter a cooperação dos poderes públicos. No entanto, largos anos houve em que a Igreja promovia a solenidade de Corpus Christi bem como a procissão e todos os católicos nela tomavam parte.
Embora, após a Concordata de 1932 com a Santa Sé se mantenha a Quinta-Feira de Corpo de Deus, festa móvel, dia santo de guarda, e feriado nacional, ele deixou de ter o brilho e a solenidade que era tradicional.
Em artigos publicados no “Peregrino de Lourdes”, em 1889, sobre o início da devoção a Nossa Senhora de Lourdes, instituída em 1883 na Matriz das Lajes, escreveu o Dr. João Paulino, ao tempo vice-reitor do Seminário de Angra e que viria a ser Bispo de Macau: “A vila das Lajes, triste e pacata de ordinário, toma durante estes dias (em que se realizam as festas de Nossa Senhora de Lourdes) um aspecto risonho, alegre e animado. Desacostumada de ver gente de fora tomar parte em suas festas desde o tempo dos capitães - mores, em que a festa anual de Corpus Christi atraia ao seu recinto, vindos de todo o concelho, uns legendários corpos de milícias armados de chuços e espadas, em atitudes bélicas, - vê-se durante estes dias povoada de estranhos, que em atitude pacífica, armados quando muito do rosário a visitam...”
Ainda hoje se celebra em várias paróquias a Quinta-Feira do Corpo de Deus, bem como a procissão. E embora não haja os corpos de milícia, o povo de Deus costuma nela tomar parte com grande espírito de fé e de religiosidade. São mesmo de assinalar os tapetes de verduras e flores, alguns de artística contextura, que cobrem as ruas por onde o Senhor passa.
Todavia há que louvar a presença dos escuteiros e de um piquete do corpo de bombeiros nas diversas procissões que se promovem na Paróquia. E são os soldados da paz que, algumas vezes, conduzem os próprios andores.
A Festa de Corpo de Deus é uma das que se realizam(vam) na Paróquia com mais solenidade. Agora nem sempre tem lugar no dia próprio ou no domingo seguinte – Domingo do Senhor como era também designado.
O clero é escasso. O catolicismo vai afrouxando. As festas principais vão desaparecendo dos calendários paroquiais... Tudo se vai sujeitando ao modus vivendi modernista.
Não haverá necessidade de adquirir, por qualquer meio, certos vasos sagrados, para as paróquias, por não carecerem deles as cerimónias litúrgicas que hoje se celebram com a mais singela solenidade. Nos tempos actuais com certeza que o Padre vigário da Piedade não careceria de trazer, do tesouro da Sé, para a sua igreja, uma custódia, como aconteceu no século dezanove, nem o Ministro da Justiça e dos Cultos, de então, teria de publicar na folha oficial um Decreto a determinar a transferência da mesma, evitando oficialmente o retorno à Sé, como aconteceu.
Isso nos informa o prof. Ávila Coelho na sua monografia “A Freguesia de Nossa Senhora da Piedade na Ilha do Pico”. E vou transcrever, (não é a primeira vez que tomo essa liberdade), do Boletim do Núcleo Cultural da Horta: “O vigário(...),cónego António Silveira d’Ávila Furtado, pediu ao seu Bispo uma custódia emprestada (...) e este autorizou o tesoureiro da Sé a emprestá-la. O tesoureiro ao ver o cónego, que muito bem conhecia, mordeu o beiço, sabendo-o useiro e vezeiro em certas habilidades, mas estava ali o cartão do Prelado e cumpriu a ordem, correndo depois ao Paço a dizer que a Custódia não voltaria mais porque aquele padre não restituía os objectos que levava para a sua igreja, por empréstimo, ficando o tesouro privado daquela preciosidade. Entretanto o cónego entrega a Custódia ao mestre de um iate do Pico, que só esperava por ela para partir, e quando foi chamado ao Paço, onde lhe puserem embargos ao empréstimo, o facto estava consumado. Passada a festa, começou a troca de correspondência para que a Custódia voltasse ao seu antigo lugar, mas o cónego, sempre muito respeitosamente, foi protelando a entrega, até que um dia apareceu, como água fria na fervura, um decreto ministerial transferindo a famigerada Custódia da Sé de Angra para a igreja de Nossa Senhora da Piedade.” Coisas do passado...
E a custódia continua na Igreja de Nossa Senhora da Piedade, fazendo parte legal do seu rico e artístico património.
Embora, após a Concordata de 1932 com a Santa Sé se mantenha a Quinta-Feira de Corpo de Deus, festa móvel, dia santo de guarda, e feriado nacional, ele deixou de ter o brilho e a solenidade que era tradicional.
Em artigos publicados no “Peregrino de Lourdes”, em 1889, sobre o início da devoção a Nossa Senhora de Lourdes, instituída em 1883 na Matriz das Lajes, escreveu o Dr. João Paulino, ao tempo vice-reitor do Seminário de Angra e que viria a ser Bispo de Macau: “A vila das Lajes, triste e pacata de ordinário, toma durante estes dias (em que se realizam as festas de Nossa Senhora de Lourdes) um aspecto risonho, alegre e animado. Desacostumada de ver gente de fora tomar parte em suas festas desde o tempo dos capitães - mores, em que a festa anual de Corpus Christi atraia ao seu recinto, vindos de todo o concelho, uns legendários corpos de milícias armados de chuços e espadas, em atitudes bélicas, - vê-se durante estes dias povoada de estranhos, que em atitude pacífica, armados quando muito do rosário a visitam...”
Ainda hoje se celebra em várias paróquias a Quinta-Feira do Corpo de Deus, bem como a procissão. E embora não haja os corpos de milícia, o povo de Deus costuma nela tomar parte com grande espírito de fé e de religiosidade. São mesmo de assinalar os tapetes de verduras e flores, alguns de artística contextura, que cobrem as ruas por onde o Senhor passa.
Todavia há que louvar a presença dos escuteiros e de um piquete do corpo de bombeiros nas diversas procissões que se promovem na Paróquia. E são os soldados da paz que, algumas vezes, conduzem os próprios andores.
A Festa de Corpo de Deus é uma das que se realizam(vam) na Paróquia com mais solenidade. Agora nem sempre tem lugar no dia próprio ou no domingo seguinte – Domingo do Senhor como era também designado.
O clero é escasso. O catolicismo vai afrouxando. As festas principais vão desaparecendo dos calendários paroquiais... Tudo se vai sujeitando ao modus vivendi modernista.
Não haverá necessidade de adquirir, por qualquer meio, certos vasos sagrados, para as paróquias, por não carecerem deles as cerimónias litúrgicas que hoje se celebram com a mais singela solenidade. Nos tempos actuais com certeza que o Padre vigário da Piedade não careceria de trazer, do tesouro da Sé, para a sua igreja, uma custódia, como aconteceu no século dezanove, nem o Ministro da Justiça e dos Cultos, de então, teria de publicar na folha oficial um Decreto a determinar a transferência da mesma, evitando oficialmente o retorno à Sé, como aconteceu.
Isso nos informa o prof. Ávila Coelho na sua monografia “A Freguesia de Nossa Senhora da Piedade na Ilha do Pico”. E vou transcrever, (não é a primeira vez que tomo essa liberdade), do Boletim do Núcleo Cultural da Horta: “O vigário(...),cónego António Silveira d’Ávila Furtado, pediu ao seu Bispo uma custódia emprestada (...) e este autorizou o tesoureiro da Sé a emprestá-la. O tesoureiro ao ver o cónego, que muito bem conhecia, mordeu o beiço, sabendo-o useiro e vezeiro em certas habilidades, mas estava ali o cartão do Prelado e cumpriu a ordem, correndo depois ao Paço a dizer que a Custódia não voltaria mais porque aquele padre não restituía os objectos que levava para a sua igreja, por empréstimo, ficando o tesouro privado daquela preciosidade. Entretanto o cónego entrega a Custódia ao mestre de um iate do Pico, que só esperava por ela para partir, e quando foi chamado ao Paço, onde lhe puserem embargos ao empréstimo, o facto estava consumado. Passada a festa, começou a troca de correspondência para que a Custódia voltasse ao seu antigo lugar, mas o cónego, sempre muito respeitosamente, foi protelando a entrega, até que um dia apareceu, como água fria na fervura, um decreto ministerial transferindo a famigerada Custódia da Sé de Angra para a igreja de Nossa Senhora da Piedade.” Coisas do passado...
E a custódia continua na Igreja de Nossa Senhora da Piedade, fazendo parte legal do seu rico e artístico património.
Vila das Lajes,
17 -04-2010
Ermelindo Ávila
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