Longe e bem longe… Quase no extremo Sul do Arquipélago. Numa Ilha que mal conhece se bem que a primeira vez que a ela cheguei, há muitos anos, era bem diferente. Foi no verão de 1939, nas minhas primeiras férias de funcionário. Há setenta anos! Era tudo tão diferente. Não existia a actual e grandiosa avenida marginal. Os barquinhos do Manteiga (?) faziam o tráfego entre os barcos da Insulana e o cais da Alfândega. E esta, instalada no actual quartel da PSP, ficava mesmo junto ao muro que a separava do mar da doca.
E, a propósito de doca, nela se trabalhava para a fazer crescer mais vinte e cinco metros. De dia e de noite.
No lado da Matriz, ao lado do Aterro, ficavam os cafés: de um indivíduo que diziam ser judeu, não recordo o nome, mas que fornecia umas “cavacas” excelentes, e igualmente o Giesta, e outros mais.
Durante o dia, sentávamo - nos no passeio, frente ao Café, junto de bancas e em cadeiras de vimes da Madeira; à noite passeávamos no Aterro. Um viver pacato.
O “Bureau” de Turismo, com o saudoso Silva Júnior na gerência, fornecia os jornais e outras, raras, publicações.
Salvo erro, foi nesse ano que se inaugurou o Campo de Golfe das Furnas. Para a cerimónia inaugural, - por cá havia poucos praticantes daquela modalidade desportiva - veio de New York um milionário acompanhado do seu secretário, e foram eles que fizeram o jogo inicial. Mas houve também a “Matança de porco” no hotel “Terra Nostra” das Furnas. Isso provocou quase o despovoamento da cidade… Todas as viaturas disponíveis se encaminharam, na tarde do sábado, para aquele Vale com “forasteiros” para assistirem ao evento, já então pouco conhecido na cidade.
Estava no início a formação da Juventude Operária Católica, segundo o método do belga Monsenhor Cardijn. Era seu assistente o Padre José Joaquim Rebelo, meu antigo condiscípulo. E foi no terraço da sua moradia que conheci alguns jovens de Ponta Delgada, ou na cidade a exercerem a sua actividade. E que bons amigos foram eles!
Fiz as viagens de vinda e volta num dos barquinhos do Pico – o saudoso “Ribeirense” do comando do Mestre João Silveira Alves. Era a “Sata” daqueles tempos, que todos os açorianos de São Miguel e das “Ilhas de Baixo”, no dizer do Mestre Gaspar Frutuoso – hoje grupos Oriental e Central… - aproveitavam para uma deslocação rápida, pois o “Lima” e o “Carvalho Araújo”, só por cá passavam, para as Ilhas, de quinze em quinze dias. Mas as viagens eram tão regulares que, na minha ilha, eram conhecidos pelos vapores de doze e de vinte e oito! Tudo chegava a tempo, os passageiros, as cargas e a mala do correio, a menos que o tempo, no Inverno, não permitisse o tráfego nos pequenos portos.
Não mais esqueci aqueles belos dias passados na terra de Antero. Ficaram na minha lembrança para sempre. Outras viagens fiz até cá ou por cá, estas nas minhas idas para terras distantes: América, Canadá, Europa, Angola, Oriente… Mas aquela… E eu que havia saído de casa pela primeira vez, aos doze anos de idade, para a Ilha Terceira…
Há um ditado que diz: Recordar é viver! Pois hoje aqui estou a recordar com certa saudade esse distante mês de Agosto de 1939, quando
Vasco Bensaúde era o Senhor cá de quase todo o Arquipélago e “A Ilha”, sob a direcção do Dr. Agnelo Casimiro, advogado e professor liceal, era o alforge da Juventude irrequieta e interessada pela sua terra, fazendo do jornal uma tribuna livre, sob o olhar atento do Director, Silva Júnior, Victor Pedroso, Flamínio Peixoto, José Bettencourt (salvo erro), e outros mais, com o apoio de José Barbosa. Eu sei lá quantos!
Ilha do Arcanjo,
Maio de 2010
Ermelindo Ávila
2 comentários:
Por acaso,passei,li ,me encantei ....Parabéns por contos cativantes....e detalhes riquíssimos.....Estarei aqui sempre para aprender mais......
Meu muito querido amigo Sr. Ermelindo Ávila
São textos como este que ajudam quem os lê a perceber que somos uma ilha dividida em nove pedaços. Pessoas como o meu caríssimo amigo fazem falta. Talvez por isso é que Deus tem permitido que continue jovem durante tantos anos.
Um forte abraço do seu incondicional amigo e admirador
Daniel de Sá
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