sexta-feira, 7 de maio de 2010

Os Foliões

NOTAS DO MEU CANTINHO


Quando a Rainha Santa Isabel instituiu a devoção ao Espírito Santo, naturalmente que foi destacado um grupo de tocadores de tambores para abrilhantar, se assim podemos dizer, a solenidade. Daí, e com a propagação da devoção à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, foram aparecendo os foliões, por certo o mais antigo sistema de acompanhamento dos cortejos processionais.
Com o rodar dos tempos, também foram surgindo os abusos, como acontece em todos os actos e acontecimentos tradicionais.

Referindo-se ao 9º Bispo da Diocese de Angra, D. Jerónimo Teixeira Cabral (1600-1612) informa o Cónego José Augusto Pereira na sua obra
“A Diocese de Angra na História dos seus Prelados”, que D. Jerónimo “Não foi menos rigoroso na correcção dos abusos de disciplina eclesiástica: - Proibiu que os foliões das festas do Espírito Santo bailassem mais na capela-mor das igrejas, na ocasião de serem coroados os imperadores.” E assim aconteceu.
Ainda hoje ficam os foliões à porta da igreja, a despedir o imperador, ou mordomo, quando nela entra, ou a recebe-lo à saída.

Com o aparecimento das filarmónicas, caiu em desuso, em muitas localidades, utilizar os foliões nos cortejos das festas do Espírito Santo. No entanto há algumas coroações”, apesar de serem acompanhadas por filarmónica, que ainda levam foliões, se bem que estes vão desaparecendo, pois não há quem substitua os antigos e tradicionais. E tratava-se de uma função que era exercida com muito interesse e dedicação, passando quase sempre de pais a filhos. Muitos deles conservaram o titulo transmitindo-o de geração em geração: “é filho ou neto do Folião”...

O tambor é instrumento que acompanha os corpos militarizados, para lhes dar a cadência do passo marcial. E isso acontece igualmente com os agrupamentos semi-militarizados: bombeiros, escoteiros, etc. Quando em cortejos, levam à frente, ao lado da bandeira respectiva, um ou mais tambores, onde os tamborileiros tiram sons compassivos com as baquetas respectivas.

Normalmente, os tamborileiros não se desempenham mal. Mantêm o ritmo ou cadência e conduzem o cortejo com ritmo marcial. E, nos foliões, ainda há quem saiba e entoe os cantares próprios, alguns deles trazidos dos velhos foliões. E para cada cerimónia há um cantar apropriado: a chegada a casa do mordomo, a partida do cortejo para a igreja, o cortejo, a entrada na igreja, o regresso a casa do mordomo, e durante o jantar. Era muito interessante e significativo o cerimonial que precedia o jantar dos “irmãos” na capela do Espírito Santo da Companhia de Cima, em São João, onde os foliões acompanhavam os serventes com o pão, o vinho, as sopas e a carne, da copeira para a capela onde o jantar era servido. Hoje será diferente?

Vale a pena conservar os foliões. Afinal, uma verdadeira instituição que vem de um passado distante e que acompanha a devoção, também secular, do Divino Espírito Santo.

Vila das Lajes, 29-Abril-2010

Ermelindo Ávila

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