sábado, 22 de maio de 2010

OS IMPÉRIOS DO ESPÍRITO SANTO

Não carecem de anúncios nem de reclames para que milhares de forasteiros se movimentem, durante as Festas do Espírito Santo por essa ilha fora. Eles vêm de toda a parte, das Terras da Diáspora, como soe dizer-se, ou mesmo de outras Ilhas, para estarem com as famílias e amigos e se sentarem, despreocupados, às mesas das funções, saboreando com gosto e prazer as tradicionais sopas e as carnes cozidas e assadas, recordando tempos idos em que a fartura sempre foi nota positiva nesta época festiva. E é uma alegria encontrar essa gente toda, felizes por poderem estar presentes nas Festas.

Nestes dias não há ninguém que passe fome na Ilha e até mesmo nos Açores. Para todos há sempre uma rosquilha, um pão ou um bolo de véspera, conforme os Impérios e os sítios onde têm lugar: no Sul, no Norte ou na Ponta.

Desde o Sábado do Espírito Santo, na Silveira, onde se realiza o Império que é um voto desde as erupções que destruíram uma parte das habitações de Santa Luzia e São João, até ao Domingo da Trindade, passando pelo Domingo do Espírito Santo, Segunda-Feira e Terça-Feira, há distribuição de Pão e, em alguns Impérios, também de vinho, a toda a gente. E é interessante ver o que por aí aparece. Dá-se a “volta à Ilha” passando pelos diversos Impérios e em todos eles se recebe um pão ou uma rosquilha. E não são maneiras, pois cada irmão prima por apresentar o seu açafate com boa e vistosa “massa”.

De salientar os jantares ou funções do Espírito Santo, pelos numerosos convidados – em alguns atingem o milhar – com as apetitosas sopas e as excelentes carnes, não faltando o bom vinho do Pico, nem até os refrescos, o arroz doce ou os bolos e, como “entradas” o tradicional queijo do Pico e a massa sovada. Uma ementa cautelosa e perfeita.

E há sopas para todos, mesmo para aqueles que possam aparecer, e são raros, sem convite...

Os chamados Impérios da Ilha do Pico têm uma tradição secular. São o cumprimento de votos feitos em épocas de tragédias medonhas, que o povo sempre respeitou.

Durante a guerra de 1939-45, quando havia carestia de bens alimentares e estes eram fornecidos através de senhas adquiridas nos departamentos administrativos do concelho, em chegando às festas do Espírito Santo, todas as restrições eram suspensas e nunca faltou a farinha, nem a manteiga para a confecção das vésperas para os Impérios nem para as funções – jantares. E mal seria se isso acontecesse...

Os picoenses, nesta época, naturalmente que despendem grossas quantias para garantir a manutenção dos votos de seus antepassados. No entanto fazem-no, embora com relativo sacrifício, com imenso prazer. Há lavradores que criam os animais a abater, e não são os mais inferiores, durante vários anos, até ao tempo em que têm de cumprir o seu voto. E quando isso não acontece, é sempre um dos melhores da manada que é escolhido, pois o Senhor Espírito Santo dará mais!

Como acima disse, as Festas não carecem de ser anunciadas. Estão sempre presentes na alma do povo açoriano. É um ritual que é cumprido anualmente com o maior respeito e não menor alegria.

Todos se preparam para elas com entusiasmo e devoção. E até, de longe se vão (iam) preparando as “vestimentas” a estrear nos dias das Festas.

Actualmente os rituais pouco diferem, de Império para Império. É uma tradição que se mantém respeitosamente e que se cumpre com entusiasmo, a menos a introdução das chamadas “rainhas”, (uma invocação da Rainha Santa Isabel) trazidas dos Estados Unidos na década de trinta do século passado, e que também se conservam, se bem que somente em algumas localidades. Todavia vão desaparecendo os foliões. Infelizmente. Mas a eles já aludi em anterior escrito.

As festas estão em casa. Que para elas todos se preparem com gosto e as gozem com alegria. Que as bênçãos do Divino Espírito Santo caiam sobre todos os seus devotos e não apenas.

A Paróquia da Matriz da Santíssima Trindade realiza o seu Império no dia do Apóstolo S. Pedro, a 29 de Junho. Reatou em 1940 uma velha tradição que andou muitos anos esquecida.

Na Ilha do Pico, o último Império terá lugar no dia 21 de Setembro na freguesia de S. Mateus, dia em que ali se realiza a festa do Padroeiro. Cumpre também um secular voto. Nele colabora a Paróquia e a população.


Vila das Lajes,

Maio de 2010

Ermelindo Ávila


1 comentário:

Anónimo disse...

OLÁ PAI
EMBORA LONGE, INTERIORIZO TUDO O QUE ESCREVEU. SINTO-ME SENTADO À MESA DUMA QUALQUER FUNÇÃO DE COROA, TAL O REALISMO DA SUA ESCORREITA ESCRITA. QUE LUCIDEZ! ESTOU CONVOSCO HOJE, SENTADO JUNTO À CAPELA, AO "CAMINHO NOVO", À ESPERA DO PÃO, AQUELE PÃO MARAVILHOSO, COM QUE A TUA COMPANHEIRA INSEPARÀVEL E NOSSA QUERIDA MÃE FAZIA AS SANDES DE CARNE ASSADA PARA LEVARMOS NA SEGUNDA FEIRA PARA AS RIBEIRAS. BELOS TEMPOS!
UM BEIJO GRANDE DO TEU FILHO
TÓMANEL