Nestes dias não há ninguém que passe fome na Ilha e até mesmo nos Açores. Para todos há sempre uma rosquilha, um pão ou um bolo de véspera, conforme os Impérios e os sítios onde têm lugar: no Sul, no Norte ou na Ponta.
Desde o Sábado do Espírito Santo, na Silveira, onde se realiza o Império que é um voto desde as erupções que destruíram uma parte das habitações de Santa Luzia e São João, até ao Domingo da Trindade, passando pelo Domingo do Espírito Santo, Segunda-Feira e Terça-Feira, há distribuição de Pão e, em alguns Impérios, também de vinho, a toda a gente. E é interessante ver o que por aí aparece. Dá-se a “volta à Ilha” passando pelos diversos Impérios e em todos eles se recebe um pão ou uma rosquilha. E não são maneiras, pois cada irmão prima por apresentar o seu açafate com boa e vistosa “massa”.
De salientar os jantares ou funções do Espírito Santo, pelos numerosos convidados – em alguns atingem o milhar – com as apetitosas sopas e as excelentes carnes, não faltando o bom vinho do Pico, nem até os refrescos, o arroz doce ou os bolos e, como “entradas” o tradicional queijo do Pico e a massa sovada. Uma ementa cautelosa e perfeita.
E há sopas para todos, mesmo para aqueles que possam aparecer, e são raros, sem convite...
Os chamados Impérios da Ilha do Pico têm uma tradição secular. São o cumprimento de votos feitos em épocas de tragédias medonhas, que o povo sempre respeitou.
Durante a guerra de 1939-45, quando havia carestia de bens alimentares e estes eram fornecidos através de senhas adquiridas nos departamentos administrativos do concelho, em chegando às festas do Espírito Santo, todas as restrições eram suspensas e nunca faltou a farinha, nem a manteiga para a confecção das vésperas para os Impérios nem para as funções – jantares. E mal seria se isso acontecesse...
Os picoenses, nesta época, naturalmente que despendem grossas quantias para garantir a manutenção dos votos de seus antepassados. No entanto fazem-no, embora com relativo sacrifício, com imenso prazer. Há lavradores que criam os animais a abater, e não são os mais inferiores, durante vários anos, até ao tempo em que têm de cumprir o seu voto. E quando isso não acontece, é sempre um dos melhores da manada que é escolhido, pois o Senhor Espírito Santo dará mais!
Como acima disse, as Festas não carecem de ser anunciadas. Estão sempre presentes na alma do povo açoriano. É um ritual que é cumprido anualmente com o maior respeito e não menor alegria.
Todos se preparam para elas com entusiasmo e devoção. E até, de longe se vão (iam) preparando as “vestimentas” a estrear nos dias das Festas.
Actualmente os rituais pouco diferem, de Império para Império. É uma tradição que se mantém respeitosamente e que se cumpre com entusiasmo, a menos a introdução das chamadas “rainhas”, (uma invocação da Rainha Santa Isabel) trazidas dos Estados Unidos na década de trinta do século passado, e que também se conservam, se bem que somente em algumas localidades. Todavia vão desaparecendo os foliões. Infelizmente. Mas a eles já aludi em anterior escrito.
As festas estão em casa. Que para elas todos se preparem com gosto e as gozem com alegria. Que as bênçãos do Divino Espírito Santo caiam sobre todos os seus devotos e não apenas.
A Paróquia da Matriz da Santíssima Trindade realiza o seu Império no dia do Apóstolo S. Pedro, a 29 de Junho. Reatou em 1940 uma velha tradição que andou muitos anos esquecida.
Na Ilha do Pico, o último Império terá lugar no dia 21 de Setembro na freguesia de S. Mateus, dia em que ali se realiza a festa do Padroeiro. Cumpre também um secular voto. Nele colabora a Paróquia e a população.
Vila das Lajes,
Maio de 2010
Ermelindo Ávila
1 comentário:
OLÁ PAI
EMBORA LONGE, INTERIORIZO TUDO O QUE ESCREVEU. SINTO-ME SENTADO À MESA DUMA QUALQUER FUNÇÃO DE COROA, TAL O REALISMO DA SUA ESCORREITA ESCRITA. QUE LUCIDEZ! ESTOU CONVOSCO HOJE, SENTADO JUNTO À CAPELA, AO "CAMINHO NOVO", À ESPERA DO PÃO, AQUELE PÃO MARAVILHOSO, COM QUE A TUA COMPANHEIRA INSEPARÀVEL E NOSSA QUERIDA MÃE FAZIA AS SANDES DE CARNE ASSADA PARA LEVARMOS NA SEGUNDA FEIRA PARA AS RIBEIRAS. BELOS TEMPOS!
UM BEIJO GRANDE DO TEU FILHO
TÓMANEL
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