Entramos no mês de Junho. O mês da Primavera, dos Santos Populares e das festas tradicionais de Santo António, de São João e de São Pedro.
Outrora eram dias assinalados, principalmente o dia de São João, em que se faziam fogueiras no meio das ruas da vila, sem quaisquer embaraços municipais. Um divertimento, por vezes perigoso, o saltar às fogueiras mas que não deixava de ser hilariante. E aqui recordo a grande fogueira que o velho comerciante João de Deus Macedo fazia em frente ao seu estabelecimento de louças e mercearias no antigo largo das Casas Velhas, agora “Largo Edmundo Machado Ávila”, com as barricas e a palha que traziam de Lisboa as louças de uso doméstico e que ele guardava para aquela noite de São João. A noite das sortes... e dos arraiais, nas ladeiras da encosta da Vila, por entre os arvoredos, que se iluminavam com balões à veneziana, e onde se faziam merendas, quando não eram à tarde do dia na costa, apanhando lapas e caranguejos, ou na Terra da Forca. Passeava-se, de barco, junto da costa. Viviam-se dias alegres e de sã confraternização. Na realidade, infelizmente tudo isso passou ao esquecimento. Hoje é tão diferente !...
Já não é possível festejar as noites de São João. Os tempos são diferentes e outros divertimentos atraem os jovens.
E são diferentes os tempos em diversos aspectos.
O Inverno continua e o verão está a duas semanas de distância...
Este ano não tivemos Primavera. E tão agradável que ela era em outros tempos. A época das flores em que os cravos e as rosas enchiam de aromas e cores os campos e os jardins, num regalo da vista e o encanto das cores e dos aromas.
Nesta época de encanto os poetas produziam das suas melhores poesias. Recordo aqui a poetisa picoense Amélia Ernestina Avelar, falecida em 1887 e que nos deixou um punhado de poemas de encantadora beleza, de quem outro festejado Poeta, Osório Goulart, escreveu: Foi uma Poetisa que usou brilhantemente os adereços literários do seu tempo. Se vivesse hoje, seriam muito diversos os motivos de exteriorizar a sua inspiração. - ...foi na sua época uma Poetisa de merecimento. Por seu lado, em “Antologia Poética dos Açores”, Vol. I, escreve o seu autor, Ruy Galvão de Carvalho: “São versos reveladores de uma alma toda dotada dos “mais doces sentimentos” romântica e sonhadora”. E fico por aqui, transcrevendo de “ENSAIOS POÉTICOS” o poema:
Á PRIMAVERA
Ela chega, sorri, e diz radiosa:
- Cale-se da tormenta a voz sombria!
Recubra o campo o divinal mistério,
que sobre a natureza o meu império
é da paz, do amor e da alegria!
Ao seu feliz regresso à terra exulta:
cobre-a um manto de florido verdor,.
um hino universal aos céus ascende,
e aos borbotões de luz que o sol desprende,
sorri o monte, o prado, a linda flor!
E hoje tudo são festas e harmonias
na terra e dos espaços na amplitude;
prendem-nas todas o mais doce laço!
A flor une-se a outra n’um abraço,
mil aromas confunde a viração.
Eu te saúdo, ó quadra primorosa,
que trazes a bonança ao campo, aos céus!
Quando chegas, envolta em áureo manto
é toda a natureza amor, encanto,
em tudo se traduz poesia, Deus!...
Vila das Lajes,
Junho de 2010
Ermelindo Ávila
1 comentário:
Meu querido, voltei no tempo. Tenho 43 anos e também tenho saudades daquelas festa e olha que eu apenas "via", eu não podia participar porque eu era "crente".
As vezes fico pensando, será que daqui há alguns anos vou sentir saudades de 2010?
Abgraços
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