sexta-feira, 18 de junho de 2010

Serviços Marítimos

Noticiaram os órgãos de Comunicação Social, nem sei se todos, a inauguração dos trabalhos de restauro do edifício da antiga Delegação Marítima das Lajes do Pico. Trata-se, afinal, de um edifício com poucas dezenas de anos de existência, muito embora aqueles serviços hajam sido instalados nesta vila, em 20 de Julho de 1905. Porque muito me debati contra o encerramento deste Serviço, aqui estou hoje a congratular-me com o acontecimento e a felicitar a Entidade que tomou a iniciativa e até os lajenses, seus directos usufrutuários.

Com o encerramento da actividade baleeira, os serviços marítimos praticamente encerraram. Saiu de cá, para a Delegação de São Roque, o oficial que aqui exercia suas funções com aprazimento de todos os lajenses (e que ali veio a falecer.) Com a passagem à reforma do cabo do mar, segundo me é dado saber, o lugar foi extinto, como já antes havia acontecido com o de Santa Cruz das Ribeiras.

Em substituição dos cabos do mar apareceram mais tarde os polícias marítimos, que, ao que consta, passaram a ocupar uma parte do edifício agora restaurado. Mas isso não era o suficiente para o regular funcionamento de tão importante Serviço Público.

Segundo a informação prestada à Imprensa no acto inaugural, a Delegação Marítima abrirá duas vezes por semana com a presença do delegado Marítimo, agora com as funções de adjunto do capitão do porto da Horta, passando depois a ter o horário normal dos serviços públicos.

Torna-se indispensável que aquele Departamento Marítimo esteja em funcionamento permanente, dada a afluência de estrangeiros no porto desta vila, não só para a prática do Whale Watching, como ainda pela procura que ele tem de embarcações nacionais e estrangeiras, para utilizarem os serviços do novo porto de recreio ou marina. Chamemos-lhe assim. (E ele ainda não está totalmente melhorado e equipado...)

Uma outra notícia bastante agradável e de louvar é a reorganização do arquivo, o qual contem a história, não apenas da pesca artesanal mas igualmente da baleação, um período áureo da actividade marítima nesta vila, que outro não há igual, pois não deve ser esquecido o facto do primeiro contrato escrito em 28 de Abril de 1876, para a prática da baleação ter sido neste concelho, entre a Família Dabney ao tempo instalada na Horta, e o Piloto Anselmo Silva, natural e residente na Calheta de Nesquim, depois de haver regressado dos Estados Unidos, onde exercera aquela actividade. Daí a razão de esta vila, sede do concelho, ser justamente cognominada de Vila Baleeira. Não pode nem deve esquecer-se que o Museu dos Baleeiros é o mais visitado dos Açores e um dos mais procurados de Portugal. E as visitas não são do passado. São contínuas e todos os anos aumentam. (E, a propósito: quando deixará o Museu dos Baleeiros de andar atrelado ao hipotético Museu do Pico, organismo materialmente inexistente?)

Ainda por muitos anos, a actividade baleeira, extinta há mais de meio século, será objecto de estudo daqueles que se dedicarem à história desta terra. Esse estudo deverá compreender, simultaneamente, a emigração que se deu durante o século dezanove. Não é para esquecer aqueles dos nossos patrícios que um dia abalaram,”de salto”, nas antigas baleeiras americanas, para as Terras do Tio Sam, ou, em anos anteriores, principalmente depois da crise sísmica de 1718-1720, para as Terras de Santa Cruz. Os seus descendentes por lá andam agora, ou nos Estados Unidos ou no Brasil, a investigar as suas origens e os seus antepassados. E fazem-no com certo orgulho, como descendentes dos pioneiros. Embora nados, em segunda, terceira ou mais gerações, naquelas longínquas terras, consideram-se sempre açorianos e não esquecem as ilhas perdidas no meio do Atlântico, onde nasceram seus avós.

É, pois, de louvar a solução encontrada pelos Serviços Marítimos restaurando o edifício e pondo em funcionamento a secular Delegação Marítima das Lajes do Pico.



Vila Baleeira

6 de Junho de 2010

Ermelindo Ávila

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