Deve-se à Igreja Católica a existência da música polifónica ou vocal. Enquanto existiram os conventos, eram os frades que se encarregavam de ir pelas igrejas e capelas solenizar as liturgias com o então chamado “Cantochão”. No ano de 1677, foram inaugurados os melhoramentos introduzidos na primitiva ermida de São Pedro, nesta vila, incluindo a reformulação do Santo. A confraria do Apóstolo São Pedro despendeu da pregação e música aos frades (franciscanos, pois eram os únicos que existiam), a quantia de mil reis.
Com a extinção dos conventos, os próprios párocos tomaram sobre si o encargo de organizar e ensaiar capelas próprias e elas foram surgindo em todas as paróquias. Com as capelas foram aparecendo os órgãos, que acompanhavam os coros ou capelas. O órgão da Matriz das Lajes, - ainda hoje em normal funcionamento, depois do restauro do organeiro Dinarte Machado, aqui há uma dúzia de anos, - foi executado pelo organeiro António Xavier Machado Cerveira, no ano de 1804, e tem o número 66. De concluir que foi o 66º instrumento construído pelo referido Cerveira.
Outras igrejas possuíam órgãos, como a Piedade, a Calheta de Nesquim, São João, e Silveira. O da Piedade foi construído, em 1874, por Tomé Gregório, das Velas, que já havia construído, em 1874 o da Matriz daquela Vila; o da Calheta pelo mesmo organeiro, é datado de 1859. O da Piedade, porém, foi dos três, o melhor, segundo o historiador a que me reporto.
O órgão de São João foi construído em 1884 pelo organeiro António Nicolau Ferreira, de São Miguel. Tem 478 tubos.
Na Matriz das Lajes celebrizou-se como organista a professora de Instrução Primária Dona Maria Adelaide Silva, natural da Ilha Terceira e que aqui se fixou e veio a falecer. Senhora de porte distinto e grande cultura, foi a professora daquela outra distinta Senhora, que lhe havia de suceder, como organista da Matriz por largos anos, Dona Adelaide de Azevedo e Castro. Por sua vez esta Senhora transmitiu seus conhecimentos musicais a seu primo, Francisco Xavier de Azevedo e Castro, organista da Matriz durante dezenas de anos.
Antes fora organista D. Maria Xavier, quando seu pai, o Maestro Manuel Xavier Bettencourt, foi regente da capela da Matriz E lembro aqui, ainda, os regentes Gilberto Paulino de Castro, seu pai Manuel Joaquim de Azevedo e Castro e Gil Xavier Bettencourt. Bons músicos da capela foram Manuel Avelino de Castro e Manuel de Brum Quaresma.
No Seminário de Angra os futuros sacerdotes aprendiam o cantochão e a música polifónica que, depois, transmitiam nas respectivas paróquias a jovens com “voz e ouvido”...
Mais tarde, com uma reforma litúrgica, o cantochão foi substituído pelo canto gregoriano.
Nesta vila tornou-se célebre o Pe. João Pereira da Terra, do qual escreve o Pe. José Carlos:”Nesta localidade (Silveira das Lajes do Pico) veio a entusiasmar pela Musica um bom número de rapazes e fundou uma esplêndida capela que regeu com acentuada mestria. Dos seus discípulos de então sobressaiu, de forma especial, o grande maestro Pe. José Silveira de Ávila.” (1)
Vários dos seus alunos foram distintos músicos de capela.
E não falo agora do notável Mestre e Maestro Pe. José d’Ávila, o introdutor dos coros ou orfeões nestas ilhas e até em Coimbra onde não pode ser esquecido o seu antigo Maestro, Raposo Marques, que foi aluno do Pe. Ávila.
Realmente, não pode falar-se em grupos corais nos Açores sem recordar aquele que foi seu iniciador – recorde-se a visita do Orfeão de Angra a Ponta Delgada em 1928 – e que havia de transmitir esse gosto e sensibilidade musical a outros que se tornaram grandes Maestros.
Na ilha do Pico, como em todas as Ilhas Açorianas, quase todas as paróquias tinham as respectivas capelas. Todavia, nas festas principais, era tradição convidarem elementos de outras paróquias para as “reforçarem”, diziam. E é assim que, em nosso tempo de juventude, festa principal que houvesse, tinha a presença de músicos valorosos, como o Dr. Garcia da Rosa, distinto organista pela Escola de Milão, e professor do Seminário que, quando em férias na freguesia de S. João, donde era natural, se dedicava à capela paroquial e à Filarmónica local, não deixando de prestar a sua valiosa colaboração, como organista, às solenidades das paróquias picoenses. No canto são de salientar o Pe. Domingos Ferreira da Rosa Ângelo, ouvidor de S. Roque, óptimo soprano e o Pe. Joaquim Vieira da Rosa, excelente baixo, o David Leal Ferreira, o João Barroso e o Tomás Ganhado, músicos com magníficas vozes e bons conhecedores de música, pertencentes à Capela de São João. O Mestre David compunha algumas músicas. Foi pena que tivessem desaparecido...
Das Lajes iam até à Piedade e Calheta, auxiliar nas festas da Padroeira e do Bom Jesus, respectivamente, o Xico (Francisco) Castro, e o Gil Xavier muito embora ali existissem bons músicos, como o Tomé Freitas e o José Laranjeira. Em Santa Cruz lembro-me do João Homem da Silveira, mestre da capela e da filarmónica, o Jacinto Homem, e outros mais. (É difícil enumerar todos aqueles que ao longo dos anos, se dedicaram à música e abrilhantaram com excelentes vozes, as solenidades religiosas). De registar também que os Párocos – e raros eram os que não sabiam música ou não cantavam – tinham a preocupação de preparar os elementos da capela, ensinando-lhes música e solfejo, segundo o método do Pe. Tomás Borba.
Alguns ainda se lembram das “Matinas” do Natal, da Conceição e da Quinta e Sexta-Feira Santas, nas quais se executavam partituras de assinalado valor. Igualmente as partituras das Missas solenes: Frei José Marques, Caghlieri(?), Homo, Perosi, e outros mais. Depois apareceu Tavoni, talvez a última partitura executada pela Capela, e que para aqui foi trazida, aquando da Missa Nova do Pe. Manuel da Rosa, pelo Maestro Emílio Porto, ainda estudante mas já distinto músico.
Hoje desapareceram, praticamente, as chamadas “capelas” e até os coretos onde se exibiam.
Substituem-nas os grupos corais que executam músicas mais ligeiras. De assinalar, por último, mas com o devido e merecido relevo,o aparecimento dos Grupos Corais, que, embora não actuando, geralmente, nas cerimónias litúrgicas, não deixam de contribuir, mercê da competência, entusiasmo e cultura dos respectivos Maestros, para o cultivo artístico da arte de cantar e de solenizar muitos eventos culturais.
Com a extinção dos conventos, os próprios párocos tomaram sobre si o encargo de organizar e ensaiar capelas próprias e elas foram surgindo em todas as paróquias. Com as capelas foram aparecendo os órgãos, que acompanhavam os coros ou capelas. O órgão da Matriz das Lajes, - ainda hoje em normal funcionamento, depois do restauro do organeiro Dinarte Machado, aqui há uma dúzia de anos, - foi executado pelo organeiro António Xavier Machado Cerveira, no ano de 1804, e tem o número 66. De concluir que foi o 66º instrumento construído pelo referido Cerveira.
Outras igrejas possuíam órgãos, como a Piedade, a Calheta de Nesquim, São João, e Silveira. O da Piedade foi construído, em 1874, por Tomé Gregório, das Velas, que já havia construído, em 1874 o da Matriz daquela Vila; o da Calheta pelo mesmo organeiro, é datado de 1859. O da Piedade, porém, foi dos três, o melhor, segundo o historiador a que me reporto.
O órgão de São João foi construído em 1884 pelo organeiro António Nicolau Ferreira, de São Miguel. Tem 478 tubos.
Na Matriz das Lajes celebrizou-se como organista a professora de Instrução Primária Dona Maria Adelaide Silva, natural da Ilha Terceira e que aqui se fixou e veio a falecer. Senhora de porte distinto e grande cultura, foi a professora daquela outra distinta Senhora, que lhe havia de suceder, como organista da Matriz por largos anos, Dona Adelaide de Azevedo e Castro. Por sua vez esta Senhora transmitiu seus conhecimentos musicais a seu primo, Francisco Xavier de Azevedo e Castro, organista da Matriz durante dezenas de anos.
Antes fora organista D. Maria Xavier, quando seu pai, o Maestro Manuel Xavier Bettencourt, foi regente da capela da Matriz E lembro aqui, ainda, os regentes Gilberto Paulino de Castro, seu pai Manuel Joaquim de Azevedo e Castro e Gil Xavier Bettencourt. Bons músicos da capela foram Manuel Avelino de Castro e Manuel de Brum Quaresma.
No Seminário de Angra os futuros sacerdotes aprendiam o cantochão e a música polifónica que, depois, transmitiam nas respectivas paróquias a jovens com “voz e ouvido”...
Mais tarde, com uma reforma litúrgica, o cantochão foi substituído pelo canto gregoriano.
Nesta vila tornou-se célebre o Pe. João Pereira da Terra, do qual escreve o Pe. José Carlos:”Nesta localidade (Silveira das Lajes do Pico) veio a entusiasmar pela Musica um bom número de rapazes e fundou uma esplêndida capela que regeu com acentuada mestria. Dos seus discípulos de então sobressaiu, de forma especial, o grande maestro Pe. José Silveira de Ávila.” (1)
Vários dos seus alunos foram distintos músicos de capela.
E não falo agora do notável Mestre e Maestro Pe. José d’Ávila, o introdutor dos coros ou orfeões nestas ilhas e até em Coimbra onde não pode ser esquecido o seu antigo Maestro, Raposo Marques, que foi aluno do Pe. Ávila.
Realmente, não pode falar-se em grupos corais nos Açores sem recordar aquele que foi seu iniciador – recorde-se a visita do Orfeão de Angra a Ponta Delgada em 1928 – e que havia de transmitir esse gosto e sensibilidade musical a outros que se tornaram grandes Maestros.
Na ilha do Pico, como em todas as Ilhas Açorianas, quase todas as paróquias tinham as respectivas capelas. Todavia, nas festas principais, era tradição convidarem elementos de outras paróquias para as “reforçarem”, diziam. E é assim que, em nosso tempo de juventude, festa principal que houvesse, tinha a presença de músicos valorosos, como o Dr. Garcia da Rosa, distinto organista pela Escola de Milão, e professor do Seminário que, quando em férias na freguesia de S. João, donde era natural, se dedicava à capela paroquial e à Filarmónica local, não deixando de prestar a sua valiosa colaboração, como organista, às solenidades das paróquias picoenses. No canto são de salientar o Pe. Domingos Ferreira da Rosa Ângelo, ouvidor de S. Roque, óptimo soprano e o Pe. Joaquim Vieira da Rosa, excelente baixo, o David Leal Ferreira, o João Barroso e o Tomás Ganhado, músicos com magníficas vozes e bons conhecedores de música, pertencentes à Capela de São João. O Mestre David compunha algumas músicas. Foi pena que tivessem desaparecido...
Das Lajes iam até à Piedade e Calheta, auxiliar nas festas da Padroeira e do Bom Jesus, respectivamente, o Xico (Francisco) Castro, e o Gil Xavier muito embora ali existissem bons músicos, como o Tomé Freitas e o José Laranjeira. Em Santa Cruz lembro-me do João Homem da Silveira, mestre da capela e da filarmónica, o Jacinto Homem, e outros mais. (É difícil enumerar todos aqueles que ao longo dos anos, se dedicaram à música e abrilhantaram com excelentes vozes, as solenidades religiosas). De registar também que os Párocos – e raros eram os que não sabiam música ou não cantavam – tinham a preocupação de preparar os elementos da capela, ensinando-lhes música e solfejo, segundo o método do Pe. Tomás Borba.
Alguns ainda se lembram das “Matinas” do Natal, da Conceição e da Quinta e Sexta-Feira Santas, nas quais se executavam partituras de assinalado valor. Igualmente as partituras das Missas solenes: Frei José Marques, Caghlieri(?), Homo, Perosi, e outros mais. Depois apareceu Tavoni, talvez a última partitura executada pela Capela, e que para aqui foi trazida, aquando da Missa Nova do Pe. Manuel da Rosa, pelo Maestro Emílio Porto, ainda estudante mas já distinto músico.
Hoje desapareceram, praticamente, as chamadas “capelas” e até os coretos onde se exibiam.
Substituem-nas os grupos corais que executam músicas mais ligeiras. De assinalar, por último, mas com o devido e merecido relevo,o aparecimento dos Grupos Corais, que, embora não actuando, geralmente, nas cerimónias litúrgicas, não deixam de contribuir, mercê da competência, entusiasmo e cultura dos respectivos Maestros, para o cultivo artístico da arte de cantar e de solenizar muitos eventos culturais.
(1)Carlos, Pe. José –Padres da Ilha do Pico – 1970, pág. 55/56
Vila das Lajes, 24-Janeiro-2009
Ermelindo Ávila
1 comentário:
Boa noite..
Gostei bastante deste artigo..
Sou estudante de órgão e ainda ontem estive no Pico numa visita de estudo aos órgãos, tendo apenas visitado 4: S. Mateus, S. João, Lajes e Santo António. Desconhecia a existência desses órgãos da Piedade, Calheta de Nesquim e a Silveira. Eles ainda existem? E funcionam?
Outro órgão do qual ouvi falar que existia ou que pelo menos tinha existido era o da Madalena. Sabe se existiu mesmo?
Obrigada!
Continue a escrever bons artigos!
Cláudia Lopes
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