O Centro foi instalado na antiga fábrica da baleia, como é ainda hoje conhecida, pertencente que foi à antiga Sociedade SIBIL.
As instalações fabris, cuja construção se iniciou em 1947, com projecto de arquitectura do engenheiro Mário Jorge ao tempo chefe dos Serviços das Obras Públicas na Ilha, não foi em nada alterado. No entanto, os espaços vazios foram objecto de uma artística adaptação que mereceu uma Menção Honrosa da Categoria de Novo Projecto Público, no âmbito dos Prémios de Turismo de Portugal de 2008, entregue na última Bolsa de Turismo realizada em Lisboa.
O equipamento da antiga Fábrica mantém-se inalterável e nos respectivos locais: Caldeira, guinchos, auto claves, secção de farinação e até a respectiva chaminé, com mais de duas dezenas de metros de altura, construída em pedra basáltica e que por si só constitui quase um autêntico monumento.
O Centro dispõe de recepção, bar, livraria, sala de conferências e convívio e exposições.
No ano findo foi visitado por cerca de dez mil pessoas, e nele se realizaram diversos inventos: lançamento de livros, conferências, serões de arte e visitas de estudo. É realmente umlocal aprazível e que, para além da sua actual função artística, nos trás à lembrança, lembrança saudosa, os antigos tempos da baleação em que a Vila das Lajes foi escola e oficina. Daí ser actualmente cognominada de Vila Baleeira. Um título que, podem crer, muito nos enaltece.
Na realidade foi um período de relativa prosperidade aquele que, em cerca de uma centena de anos, viveram os lajenses, mensageiros de uma actividade que outros quiseram igualmente explorar, nas diversas ilhas, dos Açores, na Madeira e em Setúbal, no continente.
Agora ficou o Centro de Artes e Ciências do Mar, como ficou o Museu dos Baleeiros, (nas antigas casas dos botes) o mais visitado estabelecimento museológico da Região e que foi acertadamente ampliado, cujas obras foram, há meses, inauguradas.
A culminar este conjunto de arte e de interesse turístico impõe-se trazer aqui o antigo Forte de Santa Catarina, adaptado a posto de turismo com esplanada para eventos culturais e recreativos. Ficou assim restaurada, e bem, a única edificação de natureza militar existente na Ilha do Pico.
E foi também a recuperação de um passado de certo esplendor, que se projecta no futuro, para prestígio e louvor das gentes desta avoenga vila baleeira.
BOM DIA!
Ermelindo Ávila
14-Fevereiro-09
(Crónica para Manhãs de Sábado da RDP-A)NOTAS DIVERSAS
LOJA DA CULTURA
O Director Regional da Cultura, através da RTP-Açores, anunciou há dias a criação de diversas Lojas da Cultura, em algumas Ilhas da Região. A Ilha do Pico é uma das que vai beneficiar da instalação, muito em breve, de uma dessas instituição que, segundo a mesma comunicação, ficará instalada nas Lajes do Pico. Não foi indicada a localidade mas cremos que se trata da vila sede do concelho.
Segundo os técnicos trata-se do centro com maior vocação cultural da ilha. Afinal, uma prerrogativa que não é nova mas que lhe vem do século dezanove ou mesmo, mais de trás.
Primeiro foram os frades franciscanos que estimularam a cultura, ensinando a juventude que desejava adquirir os conhecimentos das letras e ciências. Com a extinção do convento, a aula de latim teve uma função muito meritória, preparando aqueles que desejavam seguir cursos universitários. A propósito, lê-se no Arquivo dos Açores (Vol. IX, págs. 54) a propósito da criação do Gabinete de Leitura das Lajes do Pico: “Como estivesse, então, em Coimbra, a cursar a Universidade, um distinto e talentoso lajense, o eventual Dr. João Paulino de Azevedo e Castro, hoje lente no Seminário de’Angra do Heroísmo e sacerdote respeitado, pelas suas virtudes e erudição, secundou, poderosamente, os esforços literários dos seus conterrâneos, angariando dádivas de alguns centos de volumes, que para as Lajes do Pico foram logo remetidos.” E acrescenta: “Durante alguns anos manteve-se com regularidade este Gabinete de leitura, mas a falta de uma casa apropriada ao fim a que se destinava. Foi-lhe afrouxando a concorrência, até passar quase desaparecido”.
Igual Gabinete foi criado ma vila de São Roque, o qual teve também viva efémera.
Em sessão extraordinária de l de Maio de 1876 a Câmara Municipal, então presidida pelo negociante José Silveira Peixoto, “deliberou atribuir, por proposta do Presidente, ao Gabinete de Leitura Popular Lajense, por julgar ser uma instituição civilizadora, e que, possuindo à roda de 500 volumes, de muito pode servir à mocidade estudiosa da freguesia, principalmente quando for Lei do Estado, a reforma da instrução pública.”
Nos anos de 1881 e 1882 a Câmara deliberou conceder ao Gabinete o subsídio de 18$000, em cada um desses anos.
Ao Gabinete de Leitura, fundado por Manuel Joaquim de Azevedo e Castro, irmão do Dr. João Paulino, que viria a ser Bispo de Macau, sucedeu o Grémio Literário Lajense, fundado em 28 de Outubro de 1895, e onde foram recolhidos os livros do Gabinete.
O Grémio continuou, passando, na década de trinta do século findo, a denominar-se Sociedade Literária e Recreativa Lajense, a qual deixou de funcionar nos anos setenta por falta de sede.
Entretanto em Setembro de 1935 a Imprensa distrital anunciava a fundação da Biblioteca Popular Lajense, que recebeu uma parte do espólio literário do P. António Ávila, da Horta, e funcionou até à sua integração, em 1940, na Biblioteca Municipal. Interessante registar os nomes dos jovens que constituíam a Comissão organizadora da biblioteca: Raul Xavier, João José de Azevedo e Castro, Francisco António Rodrigues de Simas Melo Ferreira, Manuel Vitorino Nunes Júnior e E. S. Machado Ávila. Este o único vivo
A Biblioteca Municipal, que recebeu também, o depósito da Biblioteca Gulbenkian, existente nesta vila, está em funcionando, em edifício próprio, mas tem-se dedicado ultimamente, com maior interesse, à juventude infantil .
Aplaudo às duas mãos a criação da Loja da Cultura, nesta Vila, onde não existe uma Livraria que permita aos interessados a aquisição, além de outros, principalmente de edições de autores açorianos. É um acto de valorização cultural, que muito dignifica a Direcção Regional da Cultura e, com certeza, vai prestar inestimável contributo para a formação cultural dos novos e mesmo velhos desta terra a qual, assim, vai poder continuar a manter a sua prestigiosa acção cultural.
É bom que o Governo Regional traga até nós iniciativas em todos os sectores - culturais, científicos, sociais e económicos, promovendo o desenvolvimento, como lhe cumpre, das terras que estão sob a sua jurisdição administrativa. Só assim a Região Autónoma dos Açores conseguirá o crescimento harmónico de todas as Ilhas, como um todo. Demais, foi esse o slogan que esteve na base da instituição da Autonomia.
Vila das Lajes,
Janeiro de 2008
Ermelindo Ávila
1 comentário:
É a vestusa vila das Lajes do Pico, fazendo juz à história, a afirmar-se capital picoense da cultura.
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