Deram-se por concluídas as obras do molhe de defesa da vila das Lajes. Na generalidade as pessoas ficaram algo satisfeitas com os trabalhos realizados, se bem que uma dúvida a algumas continuasse. E dela já aqui nos fizemos eco. A defesa da vila não ficou completa. Importa tomar isso em consideração.
O projecto, que foi apresentado aos lajenses, incluía mais do que uma hipótese de execução dos molhes. Aceitou-se a que foi construída, se bem que sempre se considerou que não era o suficiente para a defesa da vila. E até mesmo o troço de muralha de ligação ao molhe construído e que serviu para o empreiteiro transportar os materiais, ficou como que abandonado. Pelo lado sul foram deixados blocos, sem qualquer alinhamento ou segurança e aquele percurso vai-se desfazendo aos poucos. No entanto, a JAP colocou uma placa, no seu início, avisando que era proibido por ele passar.
Julgámos que o Plano e Orçamento da Região previsse a conclusão da defesa da vila mas isso não acontece. Nada ali se refere às Lajes. Não admira. O Pico, e especialmente o concelho das Lajes, não está considerado no programa das ilhas de coesão. Nem sei porquê, se é uma das mais atrasadas da Região...
Papel decisivo cabe aos representantes do povo no Parlamento. Foram eleitos para velar e defender os interesses dos eleitores. Mas, passemos adiante...
A Muralha de defesa da Vila ocupa as coluna dos jornais locais há quase dois séculos. Algo se tem feito, após tanto reclamar, mas nem sempre com presteza nem mesmo com a técnica desejadas. E as reclamações não vão mais atrás, porque a vila, anteriormente, estendia-se para o Juncal e a costa era resguardada por uma cortina de pedra que, a pouco e pouco, foi desaparecendo.
Mas tenhamos um pouco de atenção para o que diz a “História das Lages”:
“A veiga magnifica sobre que assenta a vila das Lages era então sensivelmente dupla; e a floresta virgem que vicejava nesses terrenos fecundos, estendia-se até ao mar, segundo uma linha de penedias que o ciclone de 1893 arrasou.
“Nos bens da casa morganática do capitão Manuel Machado Soares, ainda em 1 de Março de 1641 foram incluídos ‘a terra do Juncal, a partir com a terça de André Rodrigues’ e ‘dois cerrados de terra com uma eira, detrás desta vila no Biscoito dos juncos’, que o testador houve de compra ao padre Pedro Rodrigues Vieira, a Jerónimo Pereira e Gaspar de Azevedo. Hoje só existe o Lagedo da eira, para os lados da Lagoa do Cão
A confirmar o que diz o autor, General Lacerda Machado, (l936) existe ainda um postal muito antigo (1900 ?), daquela zona, onde se descobrem alguns cerrados que já desapareceram. E muito mais destruíram os temporais de Inverno que assolaram a vila.
A Câmara Municipal reclamou, em diversas ocasiões, a construção de uma muralha em torno da Vila. (sic). Silveira de Macedo, in História das Quatro Ilhas... (vol. 2, pág 175), diz que em 1848 a Câmara das Lages fez essa reclamação. E pelos anos fora as reclamações foram contínuas.
Em 1849 começou-se a construir uma muralha no sítio de Santa Catarina, sainte da Vila das Lajes; e por alvará de 18 de Setembro de 1851 foi mandado continuar a muralha.
Segundo informa o jornal “As Lages”, de 15 de Maio de 1914, (noventa e quatro anos são decorridos) a muralha já estava em construção. No entanto, o articulista diz que “Seguindo vagarosamente por cima do último lanço de alicerces (nessa época não era proibido visitarem-se obras publicas...) e de pouco a pouco fomos notando o estreitamento sensível da muralha; chegados que fomos ao fim da mesma , deparou-se-nos um murosito que nos pareceu uma destas paredes de vedação de quintais. Para satisfazer a nossa curiosidade e a dos leitores, arranjamos uma fita métrica e medimos: largura da muralha que ia seguindo 2 m., largura da muralha que vai seguir, 1,50m. Portanto uma diferença de meio metro a menos.”
No projecto de modernização da Vila apresentado à Câmara Municipal pelo General Lacerda Machado, em sessão da C.M. de 14 de Julho de 1913, alvitrava o seu Autor que a muralha tivesse início no redondo do muro do caneiro, conquistando-se assim uma grande parcela de terreno, outrora arável, e que estava a ser ocupado pelo junco. Demais permitia-se o lançamento da avenida e um novo arruamento a ligar as ruas transversais. Tudo foi esquecido.
No jornal “As Lages”, já citado, nº 163 de 15 de Abril de 1919, encontramos esta simples local que muito nos diz:” Procede-se à reparação do muro da Lagoa, desta Vila, cujo estado há muito reclama tal benefício. A Propósito: quando é que uns olhos de misericórdia se volverão sobre nós e atentem sobre o estado estacionário da muralha de defesa desta Vila, que em alguns sítios ameaça ruína?”
Nascendo defeituosa, a muralha de 1914 nunca foi de defesa da Vila. Servia, quase só, para bancada dos assistentes aos jogos realizados no campo, construído pelos lajenses em 1925.
Em 9 de Fevereiro de 1936 um violento ciclone destrui a muralha que circundava a Lagoa. Duarte Pacheco, Ministro das Obras Públicas, a pedido do Governador de então, Dr. Freitas Pimentel e com o empenho do lajense Gen. Lacerda Machado, determinou que a obra tivesse imediato início, concedendo para o efeito 500 contos ao Director das O.P. Eng. Ângelo Corbal. Entretanto o projecto eorçamento foram elaborados, as verbas complementares chegaram e a obra conclui-se em dois anos, salvo erro. Ela ali está e representa de verdadeiro monumento em obras hidráulicas. Mas foi só!
Na década de 1960, houve quem tivesse a peregrina ideia de construir, a meio do juncal, uns muretes (o tal muro da vergonha, como o classificou o povo) que os enchentes do ano seguinte derrubaram. Veio depois o alteamento do muro construído em 1914, que pouco resolveu.
Agora a engenharia optou pela construção de um molhe no exterior e dele, sem projecto, nasceu uma lagoa. Mas tudo continua incompleto. O lanço de muro de ligação àquele molhe foi improvisado pelo empreiteiro para permitir o acesso dos seus veículos às obras e, apesar de se reconhecer que a sua manutenção éra importante para garantir a eficiência do molhe, nada se faz.
O Plano e Orçamento da Região nenhuma verba prevêem para o porto desta Vila. Naturalmente não é esquecimento mas com certeza o propósito de considerar a defesa da Vila completa. Se assim é, continuamos como dantes a ficar com obras incompletas e a sofrer os efeitos desastrosos dos temporais que vierem. Será que haverá o propósito de nos reduzir à “ínfima espécie?” Não acredito!
Vila das Lajes,
9 de Fev. de 2009
Ermelindo Ávila
1 comentário:
É uma pena ver a minha Lages do Pico se ir desfazendo aos poucos, sem nada podermos fazer, porque tudo está nas mãos de uma minoria de interesseiros. Eu lembro ainda de muitos sustos passados quando o mar galgava o "muro".
Por que é que as Lages do Pico sempre foi "assim" tratada? O que tem as Lages do Pico que tanto incomoda, ao ponto de repelir esses poucos?
Quem sabe falar e escrever, que NUNCA se cale!
Lúcia
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