terça-feira, 25 de março de 2008

DOUTORA NORBERTA AMORIM

A Doutora Norberta Amorim, é uma das figuras literárias e científicas mais distintas e brilhantes, não somente na ilha natal mas em todo o Portugal . Mundialmente conhecida pelos seus eruditos trabalhos de investigação da Demografia Histórica, tem um curriculum literário e científico que muito a enaltece e é motivo de júbilo para os seus conterrâneos.
É sabido o trabalho de investigação e de promoção que dedicadamente tem desenvolvido na sua freguesia natal. Mas, mais do que isso, é empolgante a sua carreira como professora e investigadora. E, para que as minhas modestas palavras, não venham a enfuscar o brilho da sua notável , mas até propositadamente obscura, vida cultural, permito-me transcrever, com a devida vénia, o que a jornalista Helena Mendonça, escreveu na revista “Notícias Magazine” de 23 de Setembro do ano findo e que aqui se transcreve, em parte, com a devida vénia.
« Histórias da vida e da Morte - Não é só a história de um projecto de investigação que hoje aqui trazemos. Se essencialmente no percurso da linha de investigação em Demografia Histórica do Núcleo de Estudos da População e Sociedade (NEPS) da Universidade do Minho (UM), que se cruza com a história de vida da investigadora que a criou há quarenta anos, algum tempo depois de deixar a sua ilha do Pico, contra a vontade da mãe, para cumprir o sonho de viver e estudar na capital. Norberta Amorim tinha 21 anos, um diploma do Magistério Primário e dois anos de ensino. Em Lisboa inicia o curso de História, mas é no Porto que o termina, porque o jovem licenciado em Medicina com quem entretanto casou foi colocado no Hospital de Bragança. Estava dado o mote para o início de uma investigação pioneira e interminável que tem dado a conhecer a vida quotidiana dos portugueses de tempos remotos.»
«… Norberta Amorim … começa a estudar os registos paroquiais de Rebordão, uma antiga vila perto de Bragança. Ainda sem conhecer o trabalho (do francês Louis) Henry, cria uma metodologia própria de reconstituição de famílias. Apresenta tese em 1971 e em 1973 a Imprensa Nacional publica o trabalho, considerado pioneiro a nível ibérico… Nos tempos livres, entre a docência no liceu de Bragança e a família, mergulha nos registos. Apenas por gosto. Trabalha sobre mais duas paróquias de Bragança, até que o marido é colocado em Guimarães.»
« A primeira coisa que faz depois de se instalar é visitar o arquivo da cidade. Fica fascinada com a riqueza da documentação. Sente-se como peixe na água. -Traça um plano de trabalho e lança-se no estudo de dez paróquias, urbanas e rurais, tudo feito à mão em fichas que se iam empilhando sobre a secretária. Os computadores eram ainda uma miragem, O historiador e professor da Faculdade de Letras do Porto, Luís António de Oliveira Ramos, toma conhecimento do trabalho da investigadora e lança-lhe o desafio: ”Há muita gente na universidade que não faz o trabalho que a senhora está a fazer- Devia fazer o doutoramento.” Norberta Amorim tinha já muita investigação feita e até uma inovação em relação à metodologia de Henry. Enquanto o demógrafo francês reunia informações sobre famílias em função do apelido do pai, Norberta criou uma estratégia para estudar a família a partir do indivíduo, dado que em Portugal não havia rigor na transmissão de apelidos aos filhos, recorrendo-se frequentemente aos apelidos do lado da mãe. Candidata-se a doutoramento na Universidade do Minho, em 1984 e um ano depois defende a tese com sucesso.»
« …a investigadora entusiasma-se sempre que fala nos contributos do estudo de dezenas de paróquias – sobretudo do Norte 0e dos Açores, mas também de algumas do Centro e Sul do país – para conhecimento do quotidiano das populações a partir do século XVI…»
«… Os registos paroquiais não se limitavam às datas dos baptizados, casamentos e óbitos. Dependendo do gosto e da dedicação dos padres a este trabalho, neles encontram-se frequentemente ricas descrições dos momentos marcantes da vida dos paroquianos: como nasceram, a ascendência, com quem casaram, quantos filhos tiveram, se eram ricos ou pobres, estimados ou não, se deixaram esmolas, como morreram, que mortalha levaram nos funerais…»
«… Daqui para a frente, contudo, Norberta Amorim já não surgirá como coordenadora dessas pesquisas. Cumpridos 37 anos de docência, decidiu, há quatro anos, aposentar-se para se dedicar mais à investigação e acompanhar o marido na doença. Estava longe de imaginar que essa opção a impediria de continuar a liderar projectos de investigação. Mas a mágoa que transparece ao contar o que sente como uma injustiça logo se dissipa quando descreve a pesquisa que domina agora os seus dias, sobre a base de dados demográficos do Pico. Uma parte dos resultados desse trabalho, publicado em livro, foi apresentada em Agosto, nas Lajes do Pico, durante a Festa dos Baleeiros.»
O artigo da Revista “Notícias Magazine” está ilustrado com fotografias de Ricardo Meireles.
A Doutora Norberta Amorim publicou já os seguintes trabalhos sobre a Ilha do Pico: O PICO – Abordagem de uma Ilha – Vol. I : – As Famílias de S. João nos finais do Século XIX – 2004, com a coordenação do Doutor Ricardo Madruga da Costa; Tomo II- “ As Famílias de Santo Amaro nos finais do século XIX” –2005”; Tomo III - “As Famílias no espaço de São Caetano entre os séculos XIX 4e XX” – 2006; e, Tomo IV – As Famílias das Lajes (1ª Parte) nos finais do século XIX” - 2007.
Ler e apreciar estes doutos e magníficos trabalhos, reveladores de uma erudição e cultura invulgares, é penetrar no passado desta ilha e conhecer, com respeito e admiração o que foi o viver sacrificado por vezes, das gerações passadas dos nossos avós.
Afinal, o trabalho de investigação invulgar, de uma Picoense, natural da freguesia de São João, filha de D. Inácia de Simas, natural daquela freguesia e de João Bettencourt (Cardoso), natural das Lajes do Pico diga-se de passagem, investigadora de renome internacional que muito nos honra e é motivo de justificado orgulho para todos os seus conterrâneos e muitos admiradores.
Segundo estou informado, na obra em curso da Doutora Norberta Amorim, a freguesia das Lajes ocupará mais dois ou três tomos.

Vila das Lajes.
Março de 2008
Ermelindo Ávila

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