Foi inaugurado no passado domingo, 24 do corrente mês, o novo campo de futebol, - alguns já lhe chamaram estádio – obra levada a efeito pela Câmara Municipal e que representa um excelente e importante complexo para o desenvolvimento desportivo da juventude e recreio dos amantes do desporto rei.
Em falas diversas e em escritos na Imprensa, por vezes várias tive oportunidade de me referir ao Clube Desportivo Lajense, fundado nesta Vila em 15 de Abril de 1924 por um grupo de lajenses verdadeiramente amantes da sua terra. Para a defesa dos interesses da terra não havia cores políticas, se bem que os dois únicos partidos então existentes andassem de “costas voltadas”, mas somente nos períodos eleitorais. No Clube Desportivo Lajense nunca a política se meteu.
O antigo campo de jogos foi construído nos terrenos do Juncal, cedidos pela Câmara Municipal em sessão de 31 de Março de 1924, - o clube ainda não tinha os estatutos aprovados, - a pedido de um grupo de lajenses,” de todas as classes sociais”, representado pelo cidadão Leonardo Xavier de Castro Amorim. E em 16 de Junho do mesmo ano, foi presente à Câmara um requerimento de diversos cidadãos, - o primeiro signatário foi João Soares de Lacerda – pedindo para que , no lugar do Verdoso desta Vila,” não seja permitido cortar pedra a qual a ser tirada abaixo do muro muito prejudicará o quebra-mar que ali precisa ter a vila, quando de preferência a mesma devia ser tirada numa pedreira existente acima do muro em frente à rua de Baixo “, trazendo, naturalmente, benefícios à terraplanagem do campo de jogos.
Creio que não houve lajense, novo ou velho, que não desse a sua ajuda à construção do campo que, inicialmente tinha as medidas mínimas para nele se praticar uma partida oficial. Depois foi crescendo consoante se conseguiu a cedência de parcelas laterais. A primeira foi adquirida ao proprietário do terreno que lhe ficava a leste, o comendador António Homem da Costa que o cedeu, se não estou em erro, pela “módica” quantia de quinhentos mil reis… Ao lado ficava um terreno de vinha pertencente à família de Machado Soares. O filho não queria , nem dado –lo nem vende-lo. Um dia, porém, houve um enchente de mar, que derrubou a parede de vedação. Esse filho encontrava-se na Horta, impossibilitado de regressar ao Pico, pois o mar no canal não permitia viagem. O Presidente da Câmara de então, sabedor disso, propôs ao pai o levantamento da parede mediante a cedência da parcela de terreno para o alargamento do campo. O Senhor concordou e, no dia seguinte, a parede singela, como era, foi levantada pela companhia de pedreiros do mestre José de Melo. Quando regressou o senhor ficou exasperado mas o pai não deixou de cumprir a sua palavra. E o campo foi alargado…
Além do trabalho braçal, os lajenses tudo fizeram para que o seu Clube caminhasse a desenvolver a sua actividade desportiva.
Era difícil conseguir os equipamentos e até a bola de jogo. Os jogadores faziam os próprios equipamentos. As sapatarias locais faziam e concertavam as botas e todas as semanas tinham de refazer as “travessas”. E até a bola, era remendada, pois não era fácil outra obter.
O Clube funcionava num armazém, cedido gratuitamente.
Tudo difícil para uma época em que era débil a economia local.
Em carta datada de 23 de Setembro de 1929, Leonardo Xavier de Castro Amorim e Manuel d’Azevedo Castro Neves, um lajense residente na Horta, diziam: “Temos o prazer de incluir a importância de Esc. Ins. (Escudos Insulanos) 354$50, produto líquido do Sarau por nós organizado com o fim de beneficiar o cofre do Club a que V. Exa. mui dignamente preside.”
E assim ia vivendo o Clube.
Estou talvez a repetir o que já lembrei em outras ocasiões. Não importa.
O Lajense foi caminhando, com algumas interrupções. Teve tardes boas e más, como acontece ainda hoje a todas as associações. No entanto foram bastante agradáveis as tardes que os lajenses passaram no seu campo. Algumas, horas de glória, outras menos felizes. Nem por isso se despedia o treinador nem os jogadores abandonavam o campo ou o clube.
E aí está ele a beneficiar de nova “habitação”. Louvores à Câmara que assim entendeu dotar a sede do concelho com tão importante estrutura física, em substituição do velho campo, cujo local deverá ter uma aplicação condizente com a dignidade do velho burgo.
Que o Club Desportivo Lajense continue e consiga novas tardes de triunfo, para regalo dos próprios jogadores, dos sócios e dos lajenses em geral, são os votos que aqui deixo muito sentidamente, não deixando de recordar os bons tempos, de uma juventude já muito distante, em que todos os lajenses se concentravam no velho recinto para assistir a uma partida de futebol. E aqui, uma vez mais, presto as minhas homenagens a quantos fundaram o Clube Desportivo Lajense e a quantos, durante estes anos todos, se tem empenhado para que a velha associação rejuvenesça sempre e ultrapasse vigorosamente o centenário que já se aproxima.
Impõe-se lembrar que o velhinho campo é um património dos lajenses. Foram eles que o construíram com entusiasmo e com muitos sacrifícios. Impõe-se que lhe seja dada uma utilização condigna. Já me constou que será transformado em jardim público. Não ficará mal. Mas importa que seja um jardim cheio de beleza e encanto, com arvores, arbustos floridos, flores, muitas flores, espaço verdes, para ali se puderem passar tardes amenas e de óptimo lazer. E porque não alargar o muro, como era, para permitir passeios ao pôr do sol ou nocturnos como antes muito faziam?
A Câmara Municipal tem aqui uma palavra a dizer. E não será dispendiosa a tarefa…
Vila das Lajes
18 de Fev. de 2008
Ermelindo Ávila
Em falas diversas e em escritos na Imprensa, por vezes várias tive oportunidade de me referir ao Clube Desportivo Lajense, fundado nesta Vila em 15 de Abril de 1924 por um grupo de lajenses verdadeiramente amantes da sua terra. Para a defesa dos interesses da terra não havia cores políticas, se bem que os dois únicos partidos então existentes andassem de “costas voltadas”, mas somente nos períodos eleitorais. No Clube Desportivo Lajense nunca a política se meteu.
O antigo campo de jogos foi construído nos terrenos do Juncal, cedidos pela Câmara Municipal em sessão de 31 de Março de 1924, - o clube ainda não tinha os estatutos aprovados, - a pedido de um grupo de lajenses,” de todas as classes sociais”, representado pelo cidadão Leonardo Xavier de Castro Amorim. E em 16 de Junho do mesmo ano, foi presente à Câmara um requerimento de diversos cidadãos, - o primeiro signatário foi João Soares de Lacerda – pedindo para que , no lugar do Verdoso desta Vila,” não seja permitido cortar pedra a qual a ser tirada abaixo do muro muito prejudicará o quebra-mar que ali precisa ter a vila, quando de preferência a mesma devia ser tirada numa pedreira existente acima do muro em frente à rua de Baixo “, trazendo, naturalmente, benefícios à terraplanagem do campo de jogos.
Creio que não houve lajense, novo ou velho, que não desse a sua ajuda à construção do campo que, inicialmente tinha as medidas mínimas para nele se praticar uma partida oficial. Depois foi crescendo consoante se conseguiu a cedência de parcelas laterais. A primeira foi adquirida ao proprietário do terreno que lhe ficava a leste, o comendador António Homem da Costa que o cedeu, se não estou em erro, pela “módica” quantia de quinhentos mil reis… Ao lado ficava um terreno de vinha pertencente à família de Machado Soares. O filho não queria , nem dado –lo nem vende-lo. Um dia, porém, houve um enchente de mar, que derrubou a parede de vedação. Esse filho encontrava-se na Horta, impossibilitado de regressar ao Pico, pois o mar no canal não permitia viagem. O Presidente da Câmara de então, sabedor disso, propôs ao pai o levantamento da parede mediante a cedência da parcela de terreno para o alargamento do campo. O Senhor concordou e, no dia seguinte, a parede singela, como era, foi levantada pela companhia de pedreiros do mestre José de Melo. Quando regressou o senhor ficou exasperado mas o pai não deixou de cumprir a sua palavra. E o campo foi alargado…
Além do trabalho braçal, os lajenses tudo fizeram para que o seu Clube caminhasse a desenvolver a sua actividade desportiva.
Era difícil conseguir os equipamentos e até a bola de jogo. Os jogadores faziam os próprios equipamentos. As sapatarias locais faziam e concertavam as botas e todas as semanas tinham de refazer as “travessas”. E até a bola, era remendada, pois não era fácil outra obter.
O Clube funcionava num armazém, cedido gratuitamente.
Tudo difícil para uma época em que era débil a economia local.
Em carta datada de 23 de Setembro de 1929, Leonardo Xavier de Castro Amorim e Manuel d’Azevedo Castro Neves, um lajense residente na Horta, diziam: “Temos o prazer de incluir a importância de Esc. Ins. (Escudos Insulanos) 354$50, produto líquido do Sarau por nós organizado com o fim de beneficiar o cofre do Club a que V. Exa. mui dignamente preside.”
E assim ia vivendo o Clube.
Estou talvez a repetir o que já lembrei em outras ocasiões. Não importa.
O Lajense foi caminhando, com algumas interrupções. Teve tardes boas e más, como acontece ainda hoje a todas as associações. No entanto foram bastante agradáveis as tardes que os lajenses passaram no seu campo. Algumas, horas de glória, outras menos felizes. Nem por isso se despedia o treinador nem os jogadores abandonavam o campo ou o clube.
E aí está ele a beneficiar de nova “habitação”. Louvores à Câmara que assim entendeu dotar a sede do concelho com tão importante estrutura física, em substituição do velho campo, cujo local deverá ter uma aplicação condizente com a dignidade do velho burgo.
Que o Club Desportivo Lajense continue e consiga novas tardes de triunfo, para regalo dos próprios jogadores, dos sócios e dos lajenses em geral, são os votos que aqui deixo muito sentidamente, não deixando de recordar os bons tempos, de uma juventude já muito distante, em que todos os lajenses se concentravam no velho recinto para assistir a uma partida de futebol. E aqui, uma vez mais, presto as minhas homenagens a quantos fundaram o Clube Desportivo Lajense e a quantos, durante estes anos todos, se tem empenhado para que a velha associação rejuvenesça sempre e ultrapasse vigorosamente o centenário que já se aproxima.
Impõe-se lembrar que o velhinho campo é um património dos lajenses. Foram eles que o construíram com entusiasmo e com muitos sacrifícios. Impõe-se que lhe seja dada uma utilização condigna. Já me constou que será transformado em jardim público. Não ficará mal. Mas importa que seja um jardim cheio de beleza e encanto, com arvores, arbustos floridos, flores, muitas flores, espaço verdes, para ali se puderem passar tardes amenas e de óptimo lazer. E porque não alargar o muro, como era, para permitir passeios ao pôr do sol ou nocturnos como antes muito faziam?
A Câmara Municipal tem aqui uma palavra a dizer. E não será dispendiosa a tarefa…
Vila das Lajes
18 de Fev. de 2008
Ermelindo Ávila
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