quinta-feira, 13 de março de 2008

FROTA BALEEIRA

A frota baleeira lajense foi dispersa por essas ilhas e anda agora numa azáfama enorme.
Voltaram às regatas já que outra utilidade não têm as airosas canoas. E não se têm sucedido mal. Foram à Galiza e arrancaram de lá os troféus. Voltaram agora para os Estados Unidos e no porto baleeiro de New Bedford foram os marinheiros picoenses e faialenses mostrar, uma vez mais, o seu valor de homens do mar, já que não é a primeira vez que ali se deslocam.
Por cá as regatas programadas pelos serviços regionais, têm-se realizado em alguns portos açorianos, principalmente pelas festas principais, fazendo parte dos respectivos programas. Todavia não é só agora que isso acontece. Sempre assim sucedeu ao longo dos anos.
A canoa baleeira, que substituiu as que eram importadas dos Estados Unidos , uma criação do lajense Francisco José Machado no último quartel do século XIX, .- um homem que anda esquecido e cuja memória de artista invulgar bem merecia ser perpetuada - sempre foi “requisitada” para tomar parte em regatas. Uma embarcação conhecida como a mais bela do mundo, na opinião de críticos náuticos. A primeira que Mestre Francisco José, como era conhecido, construiu, denominava-se “SÃO JOSÉ”. Afastava-se algo das canoas importadas até então dos E.U pela sua elegância e condições náuticas. E serviu de modelo às dezenas ou centenas que passaram a ser construídas pelos artistas picoenses..
Há anos foram os botes lajenses tomar parte numa regata realizada na baía de Angra e integrada nas Festas da Cidade. A vitória foi sua. Aquando da visita régia, a 28 de Junho de 1901, à cidade da Horta, os Reis D. Carlos e D. Amélia viajaram no cruzador D. Carlos e foram recebidos por uma esquadrilha de canoas-baleeiras, a remos, que contornaram o navio e o acompanharam ao ancoradouro. No dia seguinte à chegada das Magestades, houve regatas, à vela e a remos, de canoas baleeiras e embarcações de recreio. Os régios visitantes assistiram às provas a bordo do cruzador S. Gabriel .
Não nos diz o historiador quem ganhou a regata mas sabemos que foram duas canoas das Lajes, pertencentes, respectivamente, às companhias das “Senhoras “(União Lajense, L.da) e “Judeus” (Nova Sociedade Lajense, L.da). D. Carlos ficou muito satisfeito com a homenagem dos baleeiros (que nas ruas da cidade haviam já levantado um artístico arco triunfal que se destacou entre os demais), e veio a oferecer, às armações proprietárias das duas canoas vencedoras, uma canoa baleeira.
No tempo as armações baleeiras eram sociedades irregulares. As embarcações eram registadas no departamento marítimo em nome do gerente “e outros”. Nessas condições estavam matriculadas na Delegação Marítima, no ano de 1897, 16 canoas das Lajes, 4 das Ribeiras, 3 da Calheta e 4 do Cais do Pico. Quando foram estabelecidas as zonas baleeiras, por força do Decreto 39 657, em 1935 a actividade baleeira era exercida por 107 baleeiros, nas Lajes, com 23 canoas e 5 lanchas motorizadas; 74 nas Ribeiras, com 9 canoas e 2 lanchas; e 40 na Calheta, com 5 canoas e 2 lanchas, no total de 36 embarcações (canoas e lanchas) e 231 baleeiros.
A baleação deve ter sido iniciada nesta vila a meados do século XIX. O primeiro armador João Paulino Narciso da Silveira armou um brigue, aí por volta de 1850, mas a sorte não o bafejou. Mais tarde, precisamente em 28 de Abril de 1876, é constituída a primeira armação, com contrato escrito, entre os Dabney’s, comerciantes e industriais americanos instalados na Horta e Anselmo Silveira, antigo Capitão de baleeiras americanas, regressado e residente na sua freguesia natal, a Calheta de Nesquim.
No porto de S. João foi instalada uma armação, pertencente aos Maciéis. O ciclone de Agosto de 1893 destruiu as instalações terrestres e eles acabaram por vender as canoas para o porto das Lajes, ficando a respectiva armação conhecida por “Queijeiros”.
Por força do Regulamento para a pesca da baleia, de 12 de Agosto de 1902, as armações então existentes foram obrigadas a constituírem-se em sociedades comerciais. Em algumas das escrituras notariais, lavradas em Junho e Julho de 1904, constava: ”Tendo há anos no porto desta Vila, uma sociedade particular para a pesca da baleia, cachalotes e outros similares, e venda do respectivo produto – a vem pela presente escritura constituir legalmente a mesma sociedade.” Em 1918 e 1929 novas escrituras foram outorgadas por força de legislação então publicada.
Todavia, a actividade baleeira foi preocupação do Governo que, durante mais de um século, publicou diversa legislação reguladora da pesca. Por Lei de 26 de Maio de 1862 foram concedidos certos benefícios aos navios, utensílios e indivíduos que se empregassem na pesca da baleia. Por Lei de 10 de Abril de 1877 foi prorrogada por mais 10 anos a lei de 26-5-1862. E por Portaria de 14 de Abril de 1886 foi estabelecidas normas para a execução das Leis citadas.
Em 1918 e em 1929 os pactos sociais tiveram de ser reformulados por exigência das leis publicadas nesses anos.
Em 30 de Abril de 1929 “O Dever”, em correspondência das Lajes, dava notícia de que, no dia 21 daquele mês havia sido lançada à água “uma linda lancha com motor de grande força destinada à pesca da baleia, construída nesta Vila pelos habilíssimos artistas Manuel, Joaquim e António José Machado filhos do falecido artista Francisco José Machado” Tratava-se da lancha “Zélia”, . A nova armação, conhecida por “Companhia da Zélia”, construiu ainda a canoa “Ester” e passou a girar sob a firma Joaquim José Machado, que mais tarde passou à sociedade ”Joaquim José Machado, L.da.”
Depois uma nova legislação obrigou ao estabelecimento de “Zonas” para a pesca da baleia. Uma medida controversa que, em vez de deixar livre a actividade, a condicionou à faixa de mar que ficava em frente do respectivo porto de armamento. E até se criou, com sede em Lisboa (!), por decreto n.º 34.655, de 1945, o “Grémio dos Armadores da Pesca da Baleia” para o qual cada sócio (armador) tinha de pagar a joia de 500$00 por cada 100 contos de capital e a quota mensal de 30$00, além de uma quota a fixar por cada quilo de óleo produzido!…
Com a modernização industrial deixaram de existir os caldeiros de derretimento ao ar livre, que se encontravam nos portos respectivos, instalando-se fábricas de aproveitamento. A primeira, na ilha do Faial, da qual faziam parte as armações denominadas “Da Ribeira do Meio”, depois foi a do Cais do Pico e por fim a SIBIL, constituída pelas armações dos portos das Lajes e Ribeiras, por escritura de 22 de Janeiro de 1948. Trabalhou as primeiras baleias (4 de cardume) em 15 de Julho de 1955. Mas o fim havia de chegar, como infelizmente chegou! A fábrica da SIBIL hoje, por iniciativa da Câmara Municipal, sua proprietária, é o “Centro de Artes e de Ciências do Mar. Espera-se que tenha o mais plausível êxito.
Um tratado internacional, ao qual Portugal aderiu, proíbe a caça da baleia nos mares do Atlântico. Um golpe mortal numa actividade secular. A última baleia arpoada no porto das Lajes foi em Novembro de 1987, pela canoa “Maria Armanda”, da qual era oficial Manuel Macedo Portugal de Brum e trancador João Macedo de Brum “Lé-lé”. Razão tinha o articulista de “O Dever” quando, já no recuado dia 5 de Agosto de 1939, escrevia: “Actualmente constitui um dos principais problemas a resolver, no nosso meio, a indústria da baleia, que, neste concelho, está ligada à sua prosperidade económica”.
Resta agora a “Whale-Watching”, distribuída por diversos locais das Ilhas dos Açores, alguns sem qualquer tradição baleeira. Mas, do mal o menor. No porto das Lajes estão instaladas algumas.

Vila Baleeira
Fev. 2008
Ermelindo Ávila

1 comentário:

Anónimo disse...

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