NOTAS DO MEU CANTINHO
A ilha do
Pico tem três casteletes: um na Prainha, outro na Ponta da Ilha e o
terceiro aqui ao lado, aquele que, aliás tem a sua história, porque
foi junto dele que desembarcou o primeiro povoador. Já dele escrevi
aqui há anos, mas vale a pena voltar a recordá-lo neste cantinho.
Ele está
ali, ao Sul da Vila, como guarda avançado, protegendo-a dos mares,
ciclones de Sudoeste e Oeste. (Felizmente para nós, que os temporais
que têm assolado diversas partes do Universo, têm acontecido no
quadrante Norte, onde os estragos e as vítimas humanas são de
elevado número e para lamentar.)
O Castelete
foi o farol que indicou a Fernão Alvares o local privilegiado para
os primeiros povoadores aportarem à ilha e nela se fixarem. A “fajã”
era vasta e permitiu o estabelecimento das gentes que o Infante
mandou para povoar a Ilha. Era o Castelete que defendia e defende
ainda hoje a extensa planície, depois transformada na avoenga vila.
Daí, talvez, ter recebido a denominação de castelete,
ou “pequeno castelo”.
Nele viceja
a urze, (Erica azorica), que,
se está a desenvolver de maneira notável e que, em anos passados,
era utilizada nas tradicionais “matanças dos porcos” para
queimar ou chamuscar o pelo do animal abatido.
Alguns
traziam a urze das pastagens onde essa espécie arbórea existia (e
existe em grande desenvolvimento) a servir de abrigo aos animais que
lá passam o Inverno; outros, poucos, subiam ao castelete e de lá
traziam as chamadas vassouras, para utilizar no chamusco dos porcos.
Mas hoje parece que a Erica azorica
é espécie protegida e, consequentemente, proibida é a sua
utilização. Demais, as matanças que ainda se fazem, mas poucas
são. A maioria utiliza os serviços do matadouro industrial, ao que
me informam.
O Castelete
é sobretudo a sentinela avançada que protege a vila das Lajes das
tempestades marítimas e, por outro lado, empresta beleza panorâmica
ao burgo.
A vila das
Lajes e toda a secular freguesia da SS.ma Trindade (especialmente
Ribeira do Meio, Almagreira, Silveira e Soldão) está encastoada
entre aquela elevação a Sul e a grandiosa Montanha a Norte. A Leste
fica-lhe a montanha do Topo, a maior elevação da primeira Ilha.
Só
as nuvens, no Inverno, nos privam do gozo diário deste amplo
ambiente. Todavia, poucos reparam nesta beleza panorâmica que nos
rodeia. No entanto, para nós que na vila habitamos, é um regalo
contemplar, principalmente em dias de Primavera e Verão, estes
acidentes geográficos que a natureza nos oferece. E isso nos basta
para amenizar o nosso secular isolamento, cada vez mais acentuado...
O dia da
matança era sempre um dia especial para as famílias que podiam
criar o suíno para garantia da sua subsistência durante alguns
meses. Para os filhos e famílias era o dia maior. Pedia-se dispensa
na escola e jogava-se todo o dia, com outros parceiros da mesma
idade, com a bexiga do animal, cheia de ar a servir de bola.
Para os
adultos não deixava de ser um dia festivo, embora bastante
trabalhoso: lavar as tripas do porco para serem utilizadas nas
morcelas e na linguiça, preparar as refeições para os numerosos
familiares e convidados que sempre os havia.
Se a
matança se realizava dentro da época carnavalesca, a noite era
destinada a “ver os mascarados” que passavam em visita pelas
diversas casas e bailar as habituais chama-ritas. Nesses dias, não
faltava quem fosse “a terreiro”, como diziam. Aparecia sempre uma
viola e alguns bailadores, a menos que a casa não dispusesse de sala
apropriada.
O Castelete
somente serve, agora, como acidente panorâmico para regalo daqueles
que, de perto ou de longe o descobrem.
Permanece
quase como “nasceu” talvez em resultado das erupções vulcânicas
que formaram a ilha. A menos, um pequeno pico que já desapareceu com
as contínuas tempestades marítimas.
Vale a pena
contemplar o pequeno promontório, guarda avançado da vila que lhe
empresta autêntica beleza panorâmica.
Vila das
Lajes do Pico
Janeiro de
2014.
Ermelindo
Ávila
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