domingo, 26 de janeiro de 2014

CARNAVAL

NOTAS DO MEU CANTINHO



O Carnaval ou Entrudo está na memória das gentes, principalmente daqueles que já passaram à idade dos patriarcas. Não faz mal, por isso, recordar esses tempos de diversão e festa popular em que as pessoas, de quase todas as idades, se divertiam de maneira ordeira e sem ofender terceiros.
Em poucas semanas estamos no mês do Carnaval. Quatro semanas que antecedem a Quaresma, mas que, talvez por isso, eram de dar largas à alegria prazenteira, antes que o tempo da penitência e do jejum chegasse. Isto para os católicos que, nestas bandas, eram a totalidade das pessoas. E aqui vale a pena recordar que, no ano de 1875, a população da paróquia da Santíssima Trindade, constituída por quase três mil pessoas, de ambos os sexos e idades, e de todas as condições sociais, e segundo o “Rol dos Confessados”, cumpriu o dever da desobriga pascal. Ninguém faltou!
O Carnaval iniciava-se com a “quinta-feira de amigos”. Um dia especial em que os amigos se reuniam para a tradicional ceia.
E depois vinham as outras: quinta-feira de amigas, compadres e comadres. A seguir eram o Domingo de Entrudo, também designado Domingo Gordo e os dois dias seguintes a festejar o rei mono, que a Quarta-feira, ou Quarta feira de Cinzas, davam início à Quaresma.
Numa rubrica do Missal Romano, consta a seguinte informação: “Nos primeiros séculos da igreja, os cristãos, que haviam prejudicado a comunidade cristã com escândalos públicos, expiavam-nos, durante a Quaresma.” E depois: “Na sociedade moderna, em que tudo se permite e tudo se procura contestar, não só se está a perder a consciência das repercussões sociais do pecado, como também o próprio sentido do mesmo.”
Felizmente que, por estes lados, o Entrudo não tem sido motivo para grandes distúrbios.
Na freguesia da Piedade, há a tradição do “Bando” ou o “Testamento do Burro”, com a distribuição dos seus membros e órgãos pelos parceiros mais contestatários. E não passa de cena hilariante.
Por aqui, que me lembre, somente um caso fortuito, nos anos trinta. Porque os figurantes punham a ridículo o clero trajando vestes talares e procurando desconhecer um edital da Autoridade Administrativa que isso proibia, aquela autoridade mandou-os prender e passaram uma noite na cadeia. Porém, no dia imediato, foram postos em liberdade e nada mais aconteceu.
Os ditos mascarados, (muitas vezes nem máscara usavam)
aproveitavam factos ocorridos no ano, até mesmo familiares, para os trazer a público de maneira jucosa, mas sem referir nem locais nem pessoas. Serviam de divertimento sem, contudo, ridicularizarem, directamente, as pessoas. Note-se, porém, que nas danças não entrava o elemento feminino. Eram os homens que trajavam de mulheres a fazer o papel destas. Outros tempos...
Nos chamados dias de Entrudo exibiam-se, pelas localidades, danças com argumentos picarescos que causavam a hilaridade dos assistentes. Por vezes, percorriam as freguesias da ilha e, simultaneamente, aproveitavam para entrudar, enviando farinha àqueles que se aproximavam. Não era costume usar água, até porque esse líquido, naqueles recuados tempos, não abundava. Outros, mais cerimoniosamente, usavam pó de arroz...
As danças, os jogos ou encontros de carnaval davam-se durante o dia, mais propriamente na segunda e terça-feira. À noite, era nas casas que recebiam máscaras, que se juntavam as famílias, os vizinhos e amigos para “ver mascarados”. Aí não se “entrudava”. Só se viam as máscaras ou se bailava, normalmente a chama-rita e, ainda, os “bailes de roda”, danças antigas de grande efeito e exibição artística, um tanto difíceis de executar e que, praticamente, desapareceram.
Hoje o Carnaval é “festejado” nas boites. E parece que não faltam frequentadores.

Lajes do Pico
Jan. 2014

Ermelindo Ávila

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