NOTAS DO MEU CANTINHO
É
este o título com que o então Major Lacerda Machado intitulava um
artigo publicado no jornal “As Lages”(l),
há quase cem anos e no qual tecia diversas considerações sobre o
projecto que apresentara, então, à Câmara Municipal sobre a
construção da avenida marginal. Não vou repetir o que nessa altura
escreveu o distinto General lajense. Fico-me apenas pela referência
de que foram necessários cem anos, um século, para que a Vila das
Lajes viesse a beneficiar de uma adequada modernização.
Não
se construíu a avenida proposta mas, antes, procedeu-se à limpeza
do antigo Juncal - a lixeira da zona – e um centro infeccioso com
lamentáveis vítimas provocadas pelo surto de doença pestosa
proveniente da ratazana que ali se desenvolvia, construindo-se o já
antigo campo de jogos para o qual todos os lajenses trabalharam.
(Também ajudei, levando, com outros da minha idade juvenil, caixotes
de terra para o nivelamento do campo. Há quantos anos!)
O
campo foi transferido há poucos anos, embora o novo recinto não
tenha, ao que dizem, as dimensões regulamentares desejadas. Mas,
antes um mal menor do que nada feito.
O
espaço do antigo Juncal, encravado na parte Oeste da Vila e formado
pela muralha que a veio defender dos temporais marítimos, está a
ser transformado em jardim, “Jardim da Baleia”, evocação
simpática duma época de desenvolvimento industrial e de algum
desafogo económico que desapareceu.
Para
mim, que quase desconheço a leitura de uma planta topográfica, não
sei se está, convenientemente, acautelada a ligação, pelo Oeste,
das ruas transversais da Vila que, saindo da antiga Rua Direita,
ligam ao Juncal, dando origem à actual via que circundava o campo e
que havia sido melhorada aquando do Centenário da Festa de Lourdes,
em 1982. Um novo arruamento está a ser, acertadamente, construído
junto da muralha, permitindo uma circulação de veículos em recta.
No lado oposto, onde corre ainda o actual arruamento que liga as ruas
vulgarmente denominadas de Baixo, da Cadeia, do Engenho e dos
Sapateiros, não sei como vai ficar a ligação dessas artérias
para utilização de peões. Julgo que deve manter-se o actual
arruamento, embora corrigido e só destinado a peões. Junto da
muralha ficará o novo arruamento reservado ao trânsito de pessoas e
veículos.
Conheci
em Angra, hoje Cidade Património Mundial, quando há umas dezenas de
anos por lá andei, arruamentos que, partindo da rua da Sé iam e
vão terminar na rua de Cima da Rocha. Para evitar a circulação de
veículos - no tempo bem poucos automóveis havia - estavam colocados
blocos a impedir essa circulação. E parece que ainda hoje o
trânsito é assim regulado. Coisa semelhante pode cá fazer-se. Se o
Autor do projecto das obras em execução não previu essa
circunstância, a Fiscalização respectiva pode promovê-la, julgo
eu.
Precisamente,
há um ano publiquei neste jornal um escrito com o título “Faça-se”.
Reportava-me aos trabalhos que agora estão a decorrer. Mantenho o
que então escrevi. No entanto, há que acautelar certos pormenores
que, não o sendo, podem ser prejudiciais no futuro. É por isso que,
em todas as Empreitadas há, ao que sei, uma entidade fiscalizadora,
representante do dono da obra. Não será?
Na
opinião de um Arquitecto que há anos por aqui passou, os
arruamentos da vila foram todos voltados a Oeste para permitirem a
saída ou fuga dos habitantes em ocasiões de temporais que sempre
atormentaram os lajenses, até há bem poucos anos. A muralha de
defesa foi construída há um século, embora com projecto defeituoso
e só há poucos anos se conseguiu melhorar o que antes havia sido
feito, muito embora houvesse técnicos que projectassem o conhecido
“muro da vergonha” que bem pouco durou. Não se repita, pois, o
que então se fez...
Que
a obra prossiga e que a Vila retome o lugar de primeiro centro urbano
da Ilha, com uma existência de cinco séculos, mas que se acautele o
direito de circulação das pessoas e se não prejudique o secular
traçado urbano!
_________
1)
jornal As Lajes, nº
15, de 15-11-1914
Vila
das Lajes do Pico,
Janº.
2013
Ermelindo
Ávila
Sem comentários:
Enviar um comentário