quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A MODERNIZAÇÃO DA VILA


NOTAS DO MEU CANTINHO


É este o título com que o então Major Lacerda Machado intitulava um artigo publicado no jornal “As Lages”(l), há quase cem anos e no qual tecia diversas considerações sobre o projecto que apresentara, então, à Câmara Municipal sobre a construção da avenida marginal. Não vou repetir o que nessa altura escreveu o distinto General lajense. Fico-me apenas pela referência de que foram necessários cem anos, um século, para que a Vila das Lajes viesse a beneficiar de uma adequada modernização.
Não se construíu a avenida proposta mas, antes, procedeu-se à limpeza do antigo Juncal - a lixeira da zona – e um centro infeccioso com lamentáveis vítimas provocadas pelo surto de doença pestosa proveniente da ratazana que ali se desenvolvia, construindo-se o já antigo campo de jogos para o qual todos os lajenses trabalharam. (Também ajudei, levando, com outros da minha idade juvenil, caixotes de terra para o nivelamento do campo. Há quantos anos!)
O campo foi transferido há poucos anos, embora o novo recinto não tenha, ao que dizem, as dimensões regulamentares desejadas. Mas, antes um mal menor do que nada feito.
O espaço do antigo Juncal, encravado na parte Oeste da Vila e formado pela muralha que a veio defender dos temporais marítimos, está a ser transformado em jardim, “Jardim da Baleia”, evocação simpática duma época de desenvolvimento industrial e de algum desafogo económico que desapareceu.
Para mim, que quase desconheço a leitura de uma planta topográfica, não sei se está, convenientemente, acautelada a ligação, pelo Oeste, das ruas transversais da Vila que, saindo da antiga Rua Direita, ligam ao Juncal, dando origem à actual via que circundava o campo e que havia sido melhorada aquando do Centenário da Festa de Lourdes, em 1982. Um novo arruamento está a ser, acertadamente, construído junto da muralha, permitindo uma circulação de veículos em recta. No lado oposto, onde corre ainda o actual arruamento que liga as ruas vulgarmente denominadas de Baixo, da Cadeia, do Engenho e dos Sapateiros, não sei como vai ficar a ligação dessas artérias para utilização de peões. Julgo que deve manter-se o actual arruamento, embora corrigido e só destinado a peões. Junto da muralha ficará o novo arruamento reservado ao trânsito de pessoas e veículos.
Conheci em Angra, hoje Cidade Património Mundial, quando há umas dezenas de anos por lá andei, arruamentos que, partindo da rua da Sé iam e vão terminar na rua de Cima da Rocha. Para evitar a circulação de veículos - no tempo bem poucos automóveis havia - estavam colocados blocos a impedir essa circulação. E parece que ainda hoje o trânsito é assim regulado. Coisa semelhante pode cá fazer-se. Se o Autor do projecto das obras em execução não previu essa circunstância, a Fiscalização respectiva pode promovê-la, julgo eu.
Precisamente, há um ano publiquei neste jornal um escrito com o título “Faça-se”. Reportava-me aos trabalhos que agora estão a decorrer. Mantenho o que então escrevi. No entanto, há que acautelar certos pormenores que, não o sendo, podem ser prejudiciais no futuro. É por isso que, em todas as Empreitadas há, ao que sei, uma entidade fiscalizadora, representante do dono da obra. Não será?
Na opinião de um Arquitecto que há anos por aqui passou, os arruamentos da vila foram todos voltados a Oeste para permitirem a saída ou fuga dos habitantes em ocasiões de temporais que sempre atormentaram os lajenses, até há bem poucos anos. A muralha de defesa foi construída há um século, embora com projecto defeituoso e só há poucos anos se conseguiu melhorar o que antes havia sido feito, muito embora houvesse técnicos que projectassem o conhecido “muro da vergonha” que bem pouco durou. Não se repita, pois, o que então se fez...
Que a obra prossiga e que a Vila retome o lugar de primeiro centro urbano da Ilha, com uma existência de cinco séculos, mas que se acautele o direito de circulação das pessoas e se não prejudique o secular traçado urbano!
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1) jornal As Lajes, nº 15, de 15-11-1914

Vila das Lajes do Pico,
Janº. 2013
Ermelindo Ávila

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