O
Tony emigrou criança, com os pais, para “Betefet”, nos Estados
Unidos da América. Por lá andou estes anos todos, vivendo,
alegremente, com os companheiros luso-americanos, sem se lembrar da
terra onde nascera.
Um dia,
falando com outros companheiros também nascidos nas ilhas,
surgiu-lhe o desejo de vir à terra onde nascera e onde ainda tinha
parentes. Falou nisso aos Pais. Ficaram radiantes e preparam logo a
viagem.
Na ilha
tinha um padrinho de baptismo que não conhecia, mas a ele se dirigiu
comunicando-lhe o seu desejo de vir à terra natal. E assim
aconteceu.
Algum tempo
após a chegada, o padrinho resolveu dar uma “Folga”, em
homenagem ao afilhado. Tudo se combinou e ficou escolhido um sábado.
Convidaram-se os tocadores e cantores, e outras pessoas para a
“Folga”.
Por cá é
habitual que, se a folga se realiza na Almagreira, convidam-se os
amigos da Prainha; se nas Terras, os amigos do lado Sul, da Piedade a
S. João.
Para
a “Chama-a-Rita”, o instrumento especial é a viola da Terra.
Havia, na Terra do Pão, o Saca que era bom artista. Nas Ribeiras, o
Mestre Bemfeito, e nas outras freguesias não faltavam quem as
construísse com arte.
Foram
convidados bons violeiros e cantadores. A casa escolhida era a que
tinha melhor e mais ampla sala, que foi preparada com antecedência.
Não
faltaram os da Prainha do Norte que, na tarde desse dia, sacola ao
ombro com os sapatos e a fatiota domingueira, cá chegaram a tempo e
horas de tomar parte da “Folga”. Outros, de mais perto, já
andavam nas imediações da casa.
Mal
anoiteceu, a porta da sala abriu-se. As moças bailadeiras tomaram os
seus lugares, os bailadores ficaram pela porta de entrada e junto das
janelas e um dentre eles, sai-se com a primeira “cantiga”: Ainda
agora aqui cheguei / Mais cedo não pude vir / estive a deitar os
rapazes / que lá ficaram a dormir. E
logo outro cantador: Boas noites meus
senhores / boas noites vos quero dar / Esta casa está bem posta /
Vamos começar a bailar.
A
folga começou. Os tocadores dedilhavam os seus dedos. Os cantadores
cantavam entusiasmados, lançando alguns despiques que
continuaram...E tudo decorreu em ordem. O Tony estava encantado e
manifestava o seu entusiasmo aos que o rodeavam.
A festa ia
em meio o entusiasmo era grande mas, era a hora do “serviço”.
Houve uma pausa. Vieram algumas moças trazendo bandejas com cálices
e garrafas com aguardente de vinho, fabrico da casa, e outras com
figos passados, das figueiras do quintal, que foram distribuindo
pelos assistentes para animar a festa.
O violeiro
dá as primeiras pancadas na viola. Um dos cantadores prepara-se para
cantar. Os bailarinos fixam-se no meio da sala e a folga continua.
Tudo com calma.
A meia
noite ia-se aproximando. Alguns dos presentes preparavam-se para
sair. O dia seguinte era, realmente, domingo, mas havia que tratar do
gado da porte e ir à Missa. Tudo tinha de ser feito. Afinal, tudo ia
a tempo e horas.
Tony ficou
com pena da festa acabar. Estava encantado com tudo aquilo mas não
deixava de deitar o seu “rabo de olho” a uma moça do lugar, como
bailadeira, e de sorriso franco. Não tinha vindo para casar mas as
coisas estavam a modificar-se e ele estava indeciso no que havia de
fazer. No entanto, deixou o caso para depois...
O certo é
que o nosso emigrante foi tomando as coisas a sério e, passados
algumas semanas, o casamento estava ajustado.
As folgas
têm sempre destas surpresas. Tudo tinha acontecido na Época do
Carnaval; e o Carnaval proporciona, quase sempre, estas ocasiões.
Lajes do
Pico,
Fevereiro de
2013.
Ermelindo
Ávila
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