Notas do meu cantinho
Passou há semanas o Natal. A
iluminação pública a cargo do Município, foi muito fraca. Quase
só serviu para assinalar a época. O mesmo aconteceu pela maioria
dos diversos concelhos da Região.
Por cá admitiu-se o sistema de
só abrir a iluminação nocturna em metade da vila. A parte que
circunda a Matriz continua sem iluminação há algum tempo, o que
provoca certos embaraços às pessoas que participam nos actos
litúrgicos ao entardecer e que, ao sair da igreja, se deparam com a
escuridão da noite...
Uma medida restritiva imposta
pela economia troikiana que vai atingindo todos os sectores da vida,
provocando já a fome e a miséria, como nos deram notícia os órgãos
da Comunicação Social, durante a época natalícia. E era ver, com
mágoa tamanha aqui o registo, os movimentos de solidariedade que por
aí se foram organizando, para se ficar com uma pálida ideia da
miséria que já existe em muitos lares, obrigando os seus membros a
sair à rua, de prato na mão, a receber uma sopa, distribuída pelas
associações de solidariedade social. Se doloroso é receber assim
”em público” a esmola para matar a fome, também o é para
muitos dos que assistem, embora casualmente, a tão deprimente
espectáculo.
Prenuncia-se, como medida de
singular
administração económica, a subida da electricidade, da água, dos
combustíveis e de outros produtos mais essenciais à vida das
pessoas, e simultaneamente, torna-se pública a necessidade de fazer
cortes nas pensões miseráveis que os utentes recebem, porque a vida
toda descontaram para, agora, delas puderem usufruir. São, pois, um
direito adquirido com sacrifício e do qual não podem nem devem ser
privados. Houve quem estivesse ao serviço e a descontar para a
C.G.A. quarenta e seis anos para, ao reformar-se, apenas puder
receber trinta e seis anos, aliás como estava legislado.
=//=
Portugal continental tem
electricidade através de várias fontes: de combustíveis fósseis,
da geotermia, da hidráulica, da eólica e já tentou das ondas. E
isso referindo, volto a um assunto que não desejava. Tinha mesmo
feito o propósito de não mais o trazer a público, dada a maneira
como há sido tratado pelas entidades responsáveis que, quase todas,
com honrosas excepções, se mostraram desinteressadas no
aproveitamento da hidroeléctrica da ilha do Pico, depois de haver
sido devidamente estudado com resultados positivos.
Mas, não sou eu, que pouco
conto neste sector como aliás em tantos outros. A população, a sua
generalidade, é que está a sofrer o desinteresse de tão momentoso
assunto. E há meio século, se não mais, que ele anda a ser
discutido e estudado. Estudado e programado porque alguns (outros já
partiram...) sabem que o respectivo projecto foi elaborado e aprovado
e só não foi por diante porque a respectiva entidade gestora o
relegou para o “fundo da gaveta”.
Por deferência e gentileza do
Autor dos Estudos e Projecto, pude compulsar, aqui há anos, o
processo que só não foi por diante porque a ilha não estava
totalmente electrificada e, consequentemente, não absorvia a
produção da energia produzida pelas respectivas turbinas.
Estava-se, então, a electrificar a ilha com a chamada “rede rural”
porque assim o Estado pagaria a totalidade da obra, informou-me o
distinto Engenheiro. Mas tudo ficou “em águas de bacalhau” e os
picoenses vêem subir, dia-a-dia, o custo do respectivo kilowatt com
grande prejuízo para as suas paupérrimas bolsas. Uma situação
catastrófica que quase ninguém se importa de remediar, mormente
aqueles que, depois disso, promoveram a construção de grandiosos
edifícios com escritórios mobilados onde não faltam os assentos
espaldares . Quem não conhece a história?!...
Estão no seu direito! Os outros
que alarguem a bolsa para irem pagando a factura mensal do consumo ou
do prevista consumo...
Dia virá em que as caldeiras
para movimentarem as turbinas produtoras passem a ser alimentadas
pela lenha dos Mistérios; ou, então, terá de encarar-se a sério o
aproveitamento das lagoas do interior da ilha, para fazer mover as
máquinas produtoras. E não será novidade. Nos anos quarenta do
século passado, quando a guerra de Hitler dominava a Europa, na ilha
do Pico, e não só, as camionetas eram movidas a gás produzido por
lenha e, também, algumas a óleo de gata e de baleia...Outros
tempos? Talvez!
Vila das Lajes do Pico,
Janeiro de 2013
Ermelindo Ávila
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