NOTAS
DO MEU CANTINHO
A
Misericórdia das Lajes do Pico, a primeira existente na Ilha, foi
criada por Alvará régio de 14 de Novembro de 1592. Atingiu, pois,
420 anos de
existência, em 14 de Novembro passado. Ficou com os mesmos
privilégios e regalias de que gozam as misericórdias da cidade de
Angra e do Faial, determinando o Rei que, pelo dito Alvará as
referidas Misericórdias de Angra e Horta lhe enviassem os traslados
autênticos dos privilégios e liberdades de que gozam os irmãos
das referidas instituições.
Os
primeiros estatutos foram escritos em 28 de Dezembro de 1750 ficando
como provedor o padre Mathias Cardoso Machado Bettencourt.
A
casa da misericórdia estava em ruínas quando das crises sísmicas
de 1718 e 1720, sendo nessa altura, em cumprimento de promessa,
levantada uma nova Igreja que, decorrido pouco mais de um século,
por estar em ruínas, foi demolida e o material aplicado na
construção da nova Matriz.
A
Misericórdia promovia, anualmente, as solenidades da Visitação,
cujas Imagens se encontram na igreja de São Francisco e a de Passos,
que ainda hoje é realizada.
Um
dos objectivos da Misericórdia era a criação de um hospital,
chegando a receber duas inscrições de valor nominal de 500.000 reis
cada, doadas pelo barão de Castelo de Paiva.
O
Hospital só veio a concretizar-se em 1960, dentro do Plano de
Construções Hospitalares do País. O terreno foi adquirido pela
Misericórdia, mediante expropriação judicial e foi essa
instituição que o construiu, embora com a comparticipação do
Estado. Entrou em funcionamento em 1 de Janeiro de 1960. Com
a Revolução de Abril de 1974, passou à
administração do Estado, e por lá ficou...
Inicialmente,
foi escolhido para o local da construção o terreno de Santa
Catarina, onde actualmente se encontra o LajeShoping,
sendo o terreno do largo destinado ao edifício escolar. Não o
entendeu assim o Ministro das O. P., Frederico Ulriche, quando
visitou o concelho, e determinou ao então Director de Obras Públicas
que o edifício hospitalar fosse construído no Largo, onde
actualmente se encontra. Para isso houve que elaborar novo projecto,
na Comissão de Construções Hospitalares, da autoria do Engenheiro
Nina, passando o edifício de um só piso, destinado a esta vila,
para a Madalena, onde a Misericórdia, recentemente criada,
aproveitou os terrenos doados pelo Conselheiro Terra Pinheiro que
ainda não haviam tido qualquer aplicação. Em parêntese devo
acrescentar que pela criação da Misericórdia e do hospital daquela
vila muito se empenhou o provedor nomeado, Jacinto Ramos, então a
exercer funções profissionais na Madalena. Ambos os hospitais, com
a classificação de sub-regionais e, depois, de
postos clínicos, passaram a funcionar, regularmente, sob a direcção
dos respectivos delegados de Saúde. O de São Roque, denominado da
Rainha Santa Isabel, havia sido construído anos antes, por
influência do Coronel Linhares de Lima, e ficara sob a direcção do
Dr. Ávila Brasil, delegado de saúde naquele concelho.
Mas,
por falta de pessoal, quer médico quer paramédico, nunca foi fácil
o funcionamento dos hospitais do Pico, contando sempre com a aversão
sistemática do Hospital Walter Bensaúde, da Horta.
O
respectivo estatuto de funcionamento foi-se alterando até que
retiraram aos estabelecimentos hospitalares do Pico a faculdade de
poderem realizar partos, medida que bastante tem prejudicado a
população picoense, pois obriga as parturientes a passar diversas
vezes o canal para consultas da especialidade e/ou nascimentos. Tem
mesmo acontecido que um ou outro parto haja acontecido durante as
viagens, quer em terra quer no mar. Quantos já nasceram sobretudo no
canal? Por essa razão deixou de haver natalidade na ilha e hoje
todos nascem na ilha vizinha ou em outras para onde as senhoras se
encaminham... Uma anomalia inconcebível nos séculos actuais.
Mas
o pior vai acontecer. Qualquer pessoa atacado
de doença grave durante a noite não pode ser atendida no seu
domicílio nem mesmo no respectivo centro hospitalar,
pois estes vão ser privados desse serviço, que passará a ser
exercido no novo hospital na Madalena. Será por ficar mais perto do
hospital da Horta para onde serão encaminhados os doentes mais
graves? E quando o mar não permitir atravessar o canal?
Não
ficam mal as perguntas: E quando acabará essa descriminação nada
benéfica nem para o doente nem para o familiar que terá de o
acompanhar? E para que servem os médicos de família? Qual a sua
função profissional? Quantos deles, se não a totalidade, são
clínicos bastante dedicados e competentes!
Não
muito longe vão os tempos em que os médicos concelhios, porque na
ilha só uma parte era servida por estrada, se deslocavam de dia ou
de noite, a cavalo, para ir atender o doente no seu domicílio! E se
a doença era grave ou exigia tratamento prolongado, quantos eram
trazidos em padiolas para casas amigas, para ficarem junto do médico
e assim melhor assistidos.
A
saúde é o maior bem de que pode gozar qualquer indivíduo. Não
brinquem com ela aqueles que, sentados em gabinetes, só promulgam
medidas que beneficiam os serviços prejudicando altamente os
utentes.
Vila
das Lajes do Pico,
19-Jan.-2013
Ermelindo
Ávila
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