domingo, 3 de fevereiro de 2013

SERVIÇOS DE SAÚDE



NOTAS DO MEU CANTINHO


         A Misericórdia das Lajes do Pico, a primeira existente na Ilha, foi criada por Alvará régio de 14 de Novembro de 1592. Atingiu, pois, 420 anos de existência, em 14 de Novembro passado. Ficou com os mesmos privilégios e regalias de que gozam as misericórdias da cidade de Angra e do Faial, determinando o Rei que, pelo dito Alvará as referidas Misericórdias de Angra e Horta lhe enviassem os traslados autênticos dos privilégios e liberdades de que gozam os irmãos das referidas instituições.
Os primeiros estatutos foram escritos em 28 de Dezembro de 1750 ficando como provedor o padre Mathias Cardoso Machado Bettencourt.
A casa da misericórdia estava em ruínas quando das crises sísmicas de 1718 e 1720, sendo nessa altura, em cumprimento de promessa, levantada uma nova Igreja que, decorrido pouco mais de um século, por estar em ruínas, foi demolida e o material aplicado na construção da nova Matriz.
A Misericórdia promovia, anualmente, as solenidades da Visitação, cujas Imagens se encontram na igreja de São Francisco e a de Passos, que ainda hoje é realizada.
Um dos objectivos da Misericórdia era a criação de um hospital, chegando a receber duas inscrições de valor nominal de 500.000 reis cada, doadas pelo barão de Castelo de Paiva.
O Hospital só veio a concretizar-se em 1960, dentro do Plano de Construções Hospitalares do País. O terreno foi adquirido pela Misericórdia, mediante expropriação judicial e foi essa instituição que o construiu, embora com a comparticipação do Estado. Entrou em funcionamento em 1 de Janeiro de 1960. Com a Revolução de Abril de 1974, passou à administração do Estado, e por lá ficou...
Inicialmente, foi escolhido para o local da construção o terreno de Santa Catarina, onde actualmente se encontra o LajeShoping, sendo o terreno do largo destinado ao edifício escolar. Não o entendeu assim o Ministro das O. P., Frederico Ulriche, quando visitou o concelho, e determinou ao então Director de Obras Públicas que o edifício hospitalar fosse construído no Largo, onde actualmente se encontra. Para isso houve que elaborar novo projecto, na Comissão de Construções Hospitalares, da autoria do Engenheiro Nina, passando o edifício de um só piso, destinado a esta vila, para a Madalena, onde a Misericórdia, recentemente criada, aproveitou os terrenos doados pelo Conselheiro Terra Pinheiro que ainda não haviam tido qualquer aplicação. Em parêntese devo acrescentar que pela criação da Misericórdia e do hospital daquela vila muito se empenhou o provedor nomeado, Jacinto Ramos, então a exercer funções profissionais na Madalena. Ambos os hospitais, com a classificação de sub-regionais e, depois, de postos clínicos, passaram a funcionar, regularmente, sob a direcção dos respectivos delegados de Saúde. O de São Roque, denominado da Rainha Santa Isabel, havia sido construído anos antes, por influência do Coronel Linhares de Lima, e ficara sob a direcção do Dr. Ávila Brasil, delegado de saúde naquele concelho.
Mas, por falta de pessoal, quer médico quer paramédico, nunca foi fácil o funcionamento dos hospitais do Pico, contando sempre com a aversão sistemática do Hospital Walter Bensaúde, da Horta.
O respectivo estatuto de funcionamento foi-se alterando até que retiraram aos estabelecimentos hospitalares do Pico a faculdade de poderem realizar partos, medida que bastante tem prejudicado a população picoense, pois obriga as parturientes a passar diversas vezes o canal para consultas da especialidade e/ou nascimentos. Tem mesmo acontecido que um ou outro parto haja acontecido durante as viagens, quer em terra quer no mar. Quantos já nasceram sobretudo no canal? Por essa razão deixou de haver natalidade na ilha e hoje todos nascem na ilha vizinha ou em outras para onde as senhoras se encaminham... Uma anomalia inconcebível nos séculos actuais.
Mas o pior vai acontecer. Qualquer pessoa atacado de doença grave durante a noite não pode ser atendida no seu domicílio nem mesmo no respectivo centro hospitalar, pois estes vão ser privados desse serviço, que passará a ser exercido no novo hospital na Madalena. Será por ficar mais perto do hospital da Horta para onde serão encaminhados os doentes mais graves? E quando o mar não permitir atravessar o canal?
Não ficam mal as perguntas: E quando acabará essa descriminação nada benéfica nem para o doente nem para o familiar que terá de o acompanhar? E para que servem os médicos de família? Qual a sua função profissional? Quantos deles, se não a totalidade, são clínicos bastante dedicados e competentes!
Não muito longe vão os tempos em que os médicos concelhios, porque na ilha só uma parte era servida por estrada, se deslocavam de dia ou de noite, a cavalo, para ir atender o doente no seu domicílio! E se a doença era grave ou exigia tratamento prolongado, quantos eram trazidos em padiolas para casas amigas, para ficarem junto do médico e assim melhor assistidos.
A saúde é o maior bem de que pode gozar qualquer indivíduo. Não brinquem com ela aqueles que, sentados em gabinetes, só promulgam medidas que beneficiam os serviços prejudicando altamente os utentes.

Vila das Lajes do Pico,
19-Jan.-2013
Ermelindo Ávila

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