domingo, 22 de janeiro de 2012

A VILA QUE NOS RESTA...


Há dias, em sucintas palavras, trouxe à ribalta as obras que estão projectadas para a parte Oeste da vila. Se não o disse, congratulei-me com as acções empreendidas pelo Município para levar a cabo um projecto que dá resposta a “alvitres” com cerca de um século.

Mas a vila mais precisa para se modernizar e acompanhar, com justiça, o progresso que se verifica em outras “colegas”, como dizia há anos passados um jornalista profissional...

Refiro a chamada parte histórica ou, como antigamente se dizia, a Rua Direita e o Meio da Vila onde, em tempos, existiu o edifício da Câmara Municipal, a igreja da Misericórdia, o pelourinho e a cadeia.

O edifício municipal foi retirado para alargamento do largo. A igreja da Misericórdia, já em ruínas, também foi retirada e a respectiva pedra utilizada na Matriz nova. O sítio onde se encontrava é hoje um reduto abandonado... O pelourinho, onde apenas, que se saiba e a dar fé no que relata o historiador Lacerda Machado, apenas serviu uma vez para dar uns açoites numa mulher que tinha roubado uma galinha, desapareceu naturalmente... O local onde estava a cadeia foi ocupado, felizmente, pelo edifício da Junta de Freguesia.

Mas, como já aqui referi algumas vezes e novamente o faço, seguindo o velho adágio água mole em pedra dura tanto bate até que fura, cá estou de novo a chamar a atenção para o lastimoso estado em que se encontra, e repito, o centro histórico da vila.

É que não posso deixar de lembrar três prédios, de traça histórica, que estão abandonados e votados à completa ruína. Refiro, uma vez mais, a Casa da Maricas do Tomé, construída no século XVIII por João Pereira de Lacerda, a antiga Pensão Velha, que pertenceu à Família Bettencourt de Faria e a casa mais antiga do burgo, que pertenceu à família Santos Madruga.

A esta última ligam-me fortes laços familiares muito ternos (foi nela que nasci há quase um século) e custa-me imenso, como é compreensível, por ela passar e vê-la dia-a-dia caminhar para a ruína total e para um desaparecimento inglório. E essa habitação, tal como as outras, faz parte do património histórico da avoenga vila, já hoje muito delapidado. Nela viveu Pedro Pereira Madruga e lhe nasceram os filhos, entre eles o meu bisavô, Joaquim Maria dos Santos, em 1787. O primeiro, porém, nasceu em 1777. Quase três séculos são decorridos!

Hoje não pertence à família Santos Madruga, por razões diversas. Mas não deixa de pertencer a um património colectivo que importa perseverar, tal como as outras, de rica traça arquitectónica.

Já muito desapareceu da vila. É tempo de se pôr cobro a tantos actos de autêntico vandalismo. Por aqui e por ali há prédios em degradação. É importante salvá-los a tempo de uma derrocada final. E, no que se refere às ruas do burgo, há que tomar providências para se evitar a descaracterização da vila. Com a onda de progresso de há meio século, alguns pavimentos antigos, principalmente as antigas calçadas romanas, desapareceram. Uma delas foi coberta pelo moderno asfalto. Porque não fazer uma limpeza e restaurar convenientemente a calçada, sem prejuízo do transito de peões. E o mesmo digo do que resta da antiga “Ladeira da Vila, junto à Maré, onde ainda existe um troço de calçada que importa, igualmente, acautelar.

Caturrices de um ultrapassado na idade? – Talvez não!

Vila das Lajes

4.1.12

Ermelindo Ávila

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