segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

AGRICULTURA ECOLÓGICA


Fala-se muito, na época actual, em agricultura ecológica. Afinal, trata-se da agricultura tradicional, aquela que contribuía em larga escala para a sustentação das pessoas. E todos procuravam ter uma horta onde semeassem ou plantassem: batatas brancas e doces, cebolas e alhos, couves e nabos, açaflor e pimentos ou malaguetas, e outros primores agrícolas, indispensáveis à cozinha tradicional. E que excelentes eram os cozinhados das nossas avós!

Nos campos, há longos anos arroteados, semeava-se o trigo e, mais tarde o milho, base da alimentação. Quando o chefe de família tinha armazenado, no Outono, o milho necessário ao sustento da família durante o ano, sentia-se um homem feliz.

Os primeiros povoadores trouxeram em suas bagagens, além das alfaias agrícolas, as sementes de trigo, pois o milho não era conhecido. Só chegou aos Açores em 1670, trazido por Dinis Gregório de Melo. O mesmo aconteceu com a batata doce que apareceu na ilha do Pico em 1860. (Mas não posso aqui continuar com a História...)

Havia os hortelões que só se dedicavam ao cultivo das hortas, tendo a seu cuidado várias, de proprietários diferentes. Eles desapareceram e deixou de haver quem os substituísse. A emigração e a facilidade de estudar e tirar cursos secundários e superiores, afastou a juventude dos trabalhos agrícolas, considerados desprimorosos ou terciários. (Esquece-se que muitos emigrantes foram para o Canadá trabalhar nas matas e nos jardins...)

E não só as hortas. Os campos, antigamente destinados à cultura do milho, pois a do trigo quase desapareceu, deixaram de ser trabalhados, à falta de mão-de-obra, muito embora o emprego da maquinaria moderna tenha facilitado a preparação dos terrenos.

No entanto, só estão praticamente aproveitados na produção de milhos para silagem, pois desenvolveu-se extraordinariamente a cultura da vaca. Principalmente os terrenos de mais difícil acesso foram abandonados e a arborização selvagem apossou-se deles. Essas lenhas, como eram conhecidas, serviam para alimentar as lareiras, e até muita era exportada para a Horta para as caldeiras da central eléctrica. As primeiras eram transformadas em “achas”. A que era utilizada na caldeira, diariamente transportadas pelos barcos do Canal, era conhecida por “cacetes”.

Todo esse negócio desapareceu com a introdução dos combustíveis.

Até os “mistérios” do Pico estavam livres. Quase não existiam espécies arbóreas. Hoje são matagais impenetráveis.

É doloroso olhar para as encostas. As faias e os incensos quase chegam junto das habitações, sem qualquer utilidade. Os terrenos, que outrora produziam grandes quantidades de milho, já não se vêm, cobertos que estão pelos matagais.

Importa voltar atrás. Limpar os terrenos, cultivar o milho e o trigo, as couves, as cebolas e as batatas, deixando de os importar a preços elevados. Será uma maneira prática de enfrentar a crise e providenciar sobre o sustento de uma população que cada dia mais sofre com as dificuldades que se lhe deparam.

O Governo tem uma Secretaria que só trata da agricultura. Não basta dedicar-se à selecção e desenvolvimento das manadas.

Tem de enfrentar a situação gravosa com que se debate a agricultura e ajudar os proprietários a voltar para os seus terrenos abandonados e deles extrair os elementos essenciais à sua sobrevivência.

Já algumas vezes abordei este inquietante assunto. Sem resultado. Importa trazê-lo novamente aqui, pois a sua solução não pode ser menosprezada.


Vila das Lajes

11-01-2012

Ermelindo Ávila

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