Nossa Senhora das Mercês
A Manhenha, outrora lugar famoso pelo vinho verdelho que nele se produzia, acaba de celebrar a sua festa em honra da Senhora das Mercês, na secular ermida de São Tomé.
A ermida foi convenientemente conservada e a Imagem secular de Nossa Senhora das Mercês, restaurada numa oficina de Vila do Conde.
A festa decorreu com o tradicional entusiasmo dos veraneantes e residentes naquele lugar, e com larga assistência de vizinhos e de outros de diversas partes da ilha.
Como vem sendo já tradição nas festas da Ponta da Ilha, não faltou uma noite de fados e bailados e uma tarde de tourada à corda.
Nas semanas anteriores tinham decorrido as vindimas, este ano bastante irregulares. Uns com boas colheitas outros com produções diminutas. Há quem diga que tem de fazer ainda uma segunda ou mesmo terceira colheita, tal a irregularidade da produção.
Mesmo assim o vinho novo nunca deixa de existir nas adegas, para oferecer aos amigos e visitantes. Uma velha tradição.
Mas é uma pena ver como esta Ponta da Ilha, ou melhor os lugares da Manhenha, Engrade, Calhau vão se enchendo de arvoredo selvagem, quando outrora era rica em vinho verdelho, em terrenos pertencentes não só aos naturais mas ainda a muitos jorgenses, que no verão aqui vinham fazer suas colheitas, transportando depois o vinho para a ilha à semelhança do que outrora e ainda agora acontece para os lados da Fronteira.
E o que se exportava para o Norte da Europa, directamente desta zona ?! Ao lado da baia da Engrade há ainda a “Baia dos franceses” onde aportavam as barcas as barcas daquele País ou daqui partiam as de cá.
Foi na Manhenha que o Estado, quando instalou os serviços agrícolas Matos Souto, adquiriu uma porção de terreno, fez o plantio de vinhas e construiu uma pequena adega. O terreno ainda pertence ao Estado ou, actualmente, à Região, mas não vejo que haja aproveitamento de qualquer produção vinícola.
Só se fala na “zona protegida”, nos muros dos currais de vinha e nos “maroiços” de ouras zonas, como se por cá não existissem iguais “construções”, (também feitas pelas mãos dos homens…)
As vindimas vão decorrendo. Ainda existem os lagares nas adegas. Todavia os baldes de plástico tomaram o lugar dos cestos. Na quase totalidade das adegas, o “pisar” das uvas foi substituído por “engenhos” apropriados. O transporte das uvas já não é feito em burros, como há cinquenta e quarenta anos, mas em camionetas e tractores. No entanto o sumo da uva, embora de castas diversas, é o mesmo e o vinho não deixa de existir nas adegas ou nas habitações dos actuais residentes, que muitos são, para ser usado durante o ano ou oferecido aos visitantes e amigos.
Curiosamente ainda se mantém a recolha, no fim da época das vindimas, do pote de vinho para os “impérios” do Espírito Santo, do ano seguinte. E ainda bem que a tradição se mantém.
A Manhenha, outrora a vileta das cem adegas e hoje uma cidadela, com excelentes vivendas, salão de recreio e festas, ermida e até piscina com balneários. Ao lado, fica-lhe a Engrade, de tradições saudosas, já com várias “adegas” de veraneio e algumas habitações. Brevemente, terá uma ermida, talvez a primeira dedicada ao Beato João Paulo II. Para lá vamos.
Engrade, Piedade,
26-09-2011.
Ermelindo Ávila
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