segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

PATRIMÓNIO CONCELHIO

NOTAS DO MEU CANTINHO


Não será muito volumoso mas aqui e ali encontram-se prédios que, pela sua antiguidade e linhas singelas da sua construção, bem merecem uma atenção especial das entidades encarregadas da perseveração do património concelhio.

A vila das Lajes, como sede que sempre foi do concelho, primeiro único na ilha, depois subdividido pelos outros dois actualmente existentes, possui dos melhores e mais antigos prédios, alguns em autêntica degradação e que urge recuperar, como símbolos ou monumentos de um passado histórico que importa acautelar.

Aliás é o que vemos por esse pais fora, quer no continente quer nas ilhas. Por todos os lados há um despertar de cuidados e atenções para com os antigos prédios, não se permitindo, felizmente, a sua alteração ou destruição.

Por aqui nem sempre tem havido esse cuidado, do que resultou o desaparecimento de imóveis de valor e interesse arquitectónico, que marcavam uma época e eram sinais históricos de uma terra que conta mais de cinco séculos de existência.

Na antiga Rua Direita, hoje rua do Capitão-Mór Garcia Gonçalves Madruga, ainda existem imóveis, embora em degradação, que são seculares e assinalam uma época. Um deles conta mais de três séculos de existência. Pertenceu a Pedro Pereira Madruga e sempre andou na própria família até que, por razões várias, foi vendido a um estranho, em meados do século passado, e que acabou por abandona-lo.

As paredes são de quase metro de largura. Tem uma varanda corrida a abranger duas janelas a qual era ladeada por janelas de guilhotina, uma das quais, por virtude de heranças, foi incorporada no prédio contíguo e acabou por ser retirada. E foi pena que assim ficasse mutilada a antiga moradia. O beiral era de madeira e cobria toda a varanda ou ralos, como era designado, devendo ter um saimento superior a meio metro. Ainda se conserva mas substituído por beiral de cimento, embora com a mesma saída ou largura.

Naquela casa viveram dois dos filhos do casal, um que era sacerdote e o outro frade egresso do convento franciscano , cuja ordem foi extinta por decreto de Dom Pedro, promulgado, em Ponta Delgada, em 17 de Abril de 1832.

Mesmo assim como se encontra, porque se trata de um dos raros imóveis com tanta antiguidade,- merecia ser classificado de interesse concelhio e devidamente recuperado.

Presentemente não tenho qualquer interesse pessoal que me ligue àquela casa, embora nela tenha nascido e passado os melhores anos da minha adolescência e juventude. Mas, como se pode imaginar, custa-me vê-la abandonada e a ruir, sem que alguém lhe acuda.

E como ela outros mais prédios por aí existem a reclamar um olhar de atenção de quem tem a responsabilidade de velar pelo nosso património, qualquer que seja a sua natureza.

Conservar os bens patrimoniais é um gesto honroso que só manifesta amor pela cultura mesmo que ela seja singela ou popular. E está-se a tempo de algo fazer nesse sentido.

Urge, pois, acudir, enquanto é tempo, àquele e a outros imóveis, como é o caso da antiga “Pensão Velha”, para não lembrar a “Casa da Maricas do Tomé” – um verdadeiro escarro no centro da Vila - evitando-se que o camartelo os reduza a simples escombros. E já não falo, por agora, no que está a acontecer para os lados de São Pedro... Destruir o Património imobiliário da vila é privá-la do seu valor histórico e cultural. Afinal, passar ao esquecimento o seu passado de cinco séculos.


Vila das Lajes,

13 de Janeiro de 2010

Ermelindo Ávila

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