quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

ESTRADAS DA ILHA DO PICO

No mês de Dezembro passado esteve nesta ilha o Secretário Regional da Ciência, Tecnologia e Equipamentos, Doutor José Contente, a fim de inaugurar, na sede da Sociedade Filarmónica Liberdade Lajense, uma exposição fotográfica sobre o ”Passado... Presente... História das Estradas do Pico”.

A exposição, algo simples, não deixou de ser reveladora do trabalho desenvolvido nas últimas décadas, nesta ilha, e que na realidade merece ser posto em relevo. No entanto, indicando-se que o evento abrange os anos 1940 a 2009, pouco se mostra da última metade do século XX. É que, realmente, as Estradas do Pico têm uma história como qualquer outro empreendimento público. Se não, vejamos:

“Por Alvará, passado em 30 de Outubro de 1506 – a ilha estava habitada há cerca de cinquenta anos, provavelmente, - foram autorizados os juízes pedâneos a darem um caminho, da largura de 4 braças, da Cruz que está a caminho da Almagreira para a Ribeira do Cabo”. (Espelho Cristalino, pág-510).

E Lacerda Machado, autor da “História do Concelho das Lages”, a páginas 124 escreve: “...uma das primeiras preocupações dos colonizadores foi ligar a Vila com o porto da futura freguesia da Madalena, antevendo desde logo, que o verdadeiro porto, para exportação, seria o da Horta.

Quem conhece a morosidade ritual das obras públicas, enche-se de pasmo perante a actividade prodigiosa com que o reduzido número dos primeiros povoadores conseguiu, em poucos anos, realizar tal intento, construindo o caminho dos ilhéus que, prolongado, deu a volta completa à ilha

E o mesmo historiador refere, em1936, que, “passados quase cinco séculos de dízimos, fintas e contribuições, com o respectivo cortejo dos sucessivos adicionais, é ainda o caminho feito pelos infatigáveis colonizadores de Fernando Alvares o único que serve grande parte da ilha, a partir mesmo da vila, da ermida de S. Pedro para a Piedade...”

No entanto, sabe-se que, por insistentes apelos daquele distinto Lajense junto do Ministro Duarte Pacheco, os trabalhos de construção daquela estrada – Lajes - Piedade – foram iniciados no dia 1 de Abril de 1939 e concluídos em 1943. A estrada foi inaugurada em 28 de Maio de 1943. Foi seu empreiteiro a firma Orey Antunes, de Lisboa.

Nos finais dos anos quarenta, o empreiteiro continental Domingues deu início à construção da estrada Piedade - Prainha do Norte, ficando concluído o circuito da volta à Ilha. Em 1950 iniciou-se a construção da estrada Lajes - Corre Água e, depois, deste local até São Roque. No tempo da sua construção correu que a estrada foi mandada construir para encurtar a distância entre as duas vila, justificando-se assim a extinção, que antes se havia verificado, do Julgado Municipal das Lajes.

A seguir veio a construção da chamada estrada longitudinal que ligou o “Corre - Água”, nos matos das Lajes, à Madalena.

Informa ainda Lacerda Machado, na obra citada, que, “...em meu tempo uma parte insignificantíssima do caminho dos ilhéus, os míseros quilómetros compreendidos entre S. João e Lajes (cerca de 10 quilómetros) a que se chama a estrada nova (curioso que o troço de estrada que atravessa a Ribeira do Meio ainda conserva essa designação de caminho novo),andaram em construção durante cerca de trinta anos!”

No entanto, há que registar que as pontes da Estrada Lajes-Madalena foram construídas, na Ribeira do Meio, a de Fernão Alvares (ou da Burra) em 1877, e a do Touril em 1879.

Ambas em pedra lavrada e ainda hoje a patentear a nobreza da arquitectura e a beleza e segurança da construção.

De realçar a rede de estradas e caminhos vicinais construídos no interior da ilha, na década de cinquenta, pelos Serviços Florestais da direcção do Engenheiro Manuel José de Simas, e que vieram permitir um intenso aproveitamento dos terrenos baldios e o desenvolvimento das actividades agro-pecuárias. Além disso é de relevar, o inestimável e valioso interesse turístico.

Mas as dificuldades surgidas na construção das estradas nacionais, nesta ilha, não são somente aquelas de que fala o General Lacerda Machado. Posteriormente outras mais houve que não trago para aqui para não alongar a crónica.


Vila das Lajes, 7 de Janeiro de 2010

Ermelindo Ávila

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