sábado, 28 de novembro de 2009

Clamar no deserto...

Vai chegando o Inverno. A Vila vai-se despovoando pois os visitantes já quase não existem por aí e eram eles que animavam, nos meses de estio, as ruas do Burgo.

Por outro lado teima-se afrontosamente, retirar do centro urbano serviços e pessoas. As pessoas vão desaparecendo e deixando as casas quase devolutas. Os serviços mudam-se, num gesto de desfaçatez política, retirando-nos instituições seculares que aqui se instalaram inicialmente e sempre funcionaram, mercê dos seus gestores, com ordem e equilíbrio e a contento de todos.

O mal vem de trás e a “perseguição”, entre aspas, continua. Ninguém parece ter coragem de obstar a esses desvarios políticos ou sociais.

Resulta daí que, principalmente a juventude, abala de maneira sinistra, a encontrar emprego, já que por cá os empregadores vão desaparecendo.

É desolador o que por aí vai. Há que tomar providências cautelares e imediatas para que não aconteça o pior.

Fecham estabelecimentos de utilidade pública e nem a lei nem as pessoas são capazes de impedir esse desmoronar de actividades que, além de serem instituições de emprego, beneficiavam aqueles que visitavam a vila, principalmente os turistas.

Retiram-se serviços – pelo menos anunciam-se tais medidas de mera conveniência política, esquecendo-se o bem estar e o progresso e desenvolvimento que devem merecer todas as terras, principalmente aquelas que têm tradição de séculos.

Toda a minha vida, que já vai no fim e que não deixou de ser longa, tenho pugnado pelo desenvolvimento e progresso desta terra. O meu vozear nem tem merecido a escuta de quem tem a responsabilidade de promover e acautelar o desenvolvimento harmónico do todo regional. Basta olhar para o que nos rodeia, no dia-a-dia, para termos a amarga certeza de que somos um povo quase ignorado e esquecido, E até, ao que consta, muito fazem sorriso alarve do nosso reclamar e do pugnar pelos nossos direitos legítimos. Não importa. Continuaremos a bradar, até que os homens nos escutem e atendam aos nossos clamores.

E hoje ficamos por aqui, esperando que haja alguém que nos escute e pense a sério nos nossos direitos de povo simples mas honesto e trabalhador. Ou continuaremos a clamar no deserto?


Vila das Lajes, 9 de Novembro de 2009

E.-A.

(crónica lida no programa Manhãs de sábado)

Uma lenda

Vão passando ao esquecimento as lendas e os contos que os antigos tinham por hábito contar aos mais novos, aos serões das noites invernosas.

Alguns ficaram na memória outros passaram ao esquecimento.

Excelente trabalho empreendeu a Doutora Ângela Furtado - Brum, ao recolher por estas ilhas as “Lendas e Outras Histórias” que publicou há anos e cuja 2ª edição, já vem de 1999. Afinal um valioso trabalho que regista narrativas populares, sobretudo lendas diversas recolhidas em todas as Ilhas dos Açores.

A Ilha do Pico, donde é natural a ilustre Autora, mais propriamente da Calheta de Nesquim, está representada no importante trabalho com 29 lendas.

Uma dessas histórias populares refere-se à ermida de Santa Catarina de Alexandria das Lajes do Pico; lenda que há séculos anda na tradição popular.

A ermida, que ainda existe no primitivo local, está situada no promontório entre o subúrbio da Ribeira do Meio e a Vila das Lajes, numa propriedade que pertenceu ao antigo morgado Manuel Cardoso Machado Bettencourt, por herança de seus antepassados e que nem sempre andou na posse de seus ascendentes pois, promovida pela Paróquia, nos finais do século XVIII, uma demanda andou na barra do Tribunal Judicial da Ilha, só não sendo decidida a favor da Autor por razões que não convém trazer a esta nota. Os últimos proprietários, num gesto louvável, legaram recentemente a ermida e casa anexa à Paróquia da Santíssima Trindade da Vila das Lajes.

Todavia, desde há muito que é ali se realiza a festa da Titular, cuja imagem é de grande devoção, principalmente dos povos de São João, Lajes e Santa Bárbara, pois Santa Catarina é considerada a protectora do juízo.

No dia da sua Memória é celebrada Missa cantada na Ermida, com larga concorrência de devotos. Muitos vão ali pagar promessas. Entre estas aparecem algumas figuras de massa sovada representando cabeças de pessoas.

Mas a lenda, segundo a Doutora Ângela Brum, reza assim:

Há muitos anos atrás andavam uns pescadores ma Ponta da Prainha do Galeão, quando viram uma bonita \imagem de Santa Catarina que tinha sido trazida pelo mar. – As pessoas juntaram-se e alguém disse que a trouxessem para as Lajes, para a igreja mais imponente dos arredores. A igreja do convento dos Franciscanos. Assim aconteceu. Mas no dia seguinte, quando os frades se aproximaram do altar para contemplar a santa, já não a viram ali. Vieram a saber que ela, sem ninguém lhe ter tocado, tinha ido outra vez parar à Ponta da Prainha . Voltaram a levar Santa Catarina de volta para a Vila das Lajes. - Este vai e vem repetiu-se várias vezes até que as pessoas começaram a dizer que Santa Catarina

queria ficar perto de São Caetano. Não querendo os das Lajes separar-se da imagem, decidiram construir uma pequena ermida onde a santa pudesse, ao menos, ver a freguesia do Pico que tinha escolhido para morada - Assim se fez .Num terreno mais alto, sobranceiro ao centro da vila das Lajes, mesmo por cima da lindíssima costa com o nome de Lajedo ergueram a pequena ermida e como sua padroeira ficou Santa Catarina. –(...) – Mas o altar ficava no interior, sem qualquer vista para a rua e a santa ainda não estava satisfeita e, por isso, continuou a fugir para a Prainha. - (...)- Alguém, então, se abrissem uma Janelinha voltada para os lados da Prainha lembrou que talvez Santa Catarina descansasse.”

A janela ou fresta foi feita e lá está permitindo ver-se dali a Ponta da Prainha. E Santa Catarina não mais abandonou o seu altar. Lenda? Uma coisa é certa: a ermida lá se encontra com a imagem de Santa Catarina e a devoção à milagrosa santa não mais terminou.

No dia 25 é a festa da Padroeira. Ainda me lembro de, na véspera à noite, se fazer uma iluminação, lá no alto, com rocas de pinheiro, que tinha um bonito efeito e que os lajenses muito admiravam.

Outros tempos!...

Vila das Lajes, 22/ ll /2009

Ermelindo Ávila

Alojamentos turísticos

Estão a surgir na Ilha diversos estabelecimentos classificados como rurais ou destinados ao turismo rural. Julgo que se trata de empreendimentos algo insuficientes.

Se há turistas que procuram esses alojamentos, e alguns deles, ao que consta, são bastante cómodos e asseados, nem todos os visitantes que aqui chegam desejam ir para eles mas antes procuram os hotéis. Nem mesmo as residenciais ou pensões são procuradas pois essas designações ou classificações não existem nos dicionários dos idiomas estrangeiros. É pena que os industriais investidores nessa actividade não procurem adaptar-se ao regime internacional. Seria uma mais valia para eles próprios e para a ilha, uma vez que as divisas estrangeiras vêm, normalmente, desses visitantes.

Enquanto nas ilhas açorianas o turismo baixou na última época, parece que a ilha do Pico fez excepção, pois a procura de camas foi superior à das épocas anteriores. Houve estabelecimentos que, no princípio da época passada, já estavam totalmente ocupados até ao final do verão. E isso de facto aconteceu.

Se o turismo é a indústria do futuro, e será através da entrada de divisas, vindas desses visitantes estrangeiros ou mesmo nacionais, que a economia da Região se equilibrará, importa ter em consideração esse facto e estar atento ao seu desenvolvimento.

A indústria do Turismo não se reduz àquela que é praticada nas casas rurais e nos Parques. Esse é um turismo que, embora deva ser acolhido com carinho e atenção, não é suficiente para a promoção da Região e, consequentemente das suas parcelas, as ilhas. Importa estar atento e preparar a ilha com as estruturas suficientes e capazes de acolherem todas as classes de turistas, que aqui chegam, seja para percorrer a ilha pelo seu interior, utilizando as veredas e os trilhos, seja para visitar as baleias ou para gozar alguns dias de lazer.

A vila das Lajes carece imediatamente de um estabelecimento turístico classificado de hotel de duas, três ou quatro estrelas. Mas situado no interior da zona urbana. E, igualmente, de um restaurante, visto que, aquele que possuía e que de boa qualidade era, incompreensivelmente, ao que consta, acaba de encerrar as portas. Afinal um prejuízo grave para a vila das Lajes pois o “Lagoa” gozava de prestígio nacional e internacional.

Importa criar um estabelecimento congénere e estar acautelado para novas investidas que em nada prestigiam a terra.

E se não houver quem tome a iniciativa, impõe-se à Câmara Municipal, à semelhança de outros organismos congéneres por esse País fora, assumir prioritariamente, esse encargo, associando-se a outros investidores ou, depois de concluído o/os empreendimentos, associar-se ou trespassá-los em condições condignas a quem se comprometa explorá-los, quer individualmente quer em sociedade. Repito: Não será novo o sistema. Trata-se de uma iniciativa de promoção e de desenvolvimento, comercial e laboral da terra e do seu futuro. “Cruzar os braços”, como soe dizer-se, ante tão precária situação, é promover o aniquilamento, e não só, da terra lajense.

Estou uma vez mais a repisar um assunto já aqui tratado bastas vezes. Não importa. Como diz o adágio: água mole em pedra dura..

Vila das Lajes, Nov.2009

Ermelindo Ávila

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Vai chegando o Inverno

A Vila vai-se despovoando pois os visitantes já quase não existem por aí e eram eles que animavam, nos meses de estio, as ruas do Burgo.

Por outro lado teima-se afrontosamente, retirar do centro urbano serviços e pessoas. As pessoas vão desaparecendo e deixando as casas quase devolutas. Os serviços mudam-se, num gesto de desfaçatez política, retirando-nos instituições seculares que aqui se instalaram inicialmente e sempre funcionaram, mercê dos seus gestores, com ordem e equilíbrio e a contento de todos.

O mal vem de trás e a “perseguição”, entre aspas, continua. Ninguém parece ter coragem de obstar a esses desvarios políticos ou sociais.

Resulta daí que, principalmente a juventude, abala de maneira sinistra, a encontrar emprego, já que por cá os empregadores vão desaparecendo.

É desolador o que por aí vai. Há que tomar providências cautelares e imediatas para que não aconteça o pior.

Fecham estabelecimentos de utilidade pública e nem a lei nem as pessoas são capazes de impedir esse desmoronar de actividades que, além de serem instituições de emprego, beneficiavam aqueles que visitavam a vila, principalmente os turistas.

Retiram-se serviços – pelo menos anunciam-se tais medidas de mera conveniência política, esquecendo-se o bem estar e o progresso e desenvolvimento que devem merecer todas as terras, principalmente aquelas que têm tradição de séculos.

Toda a minha vida, que já vai no fim e que não deixou de ser longa, tenho pugnado pelo desenvolvimento e progresso desta terra. O meu vozear nem tem merecido a escuta de quem tem a responsabilidade de promover e acautelar o desenvolvimento harmónico do todo regional. Basta olhar para o que nos rodeia, no dia-a-dia, para termos a amarga certeza de que somos um povo quase ignorado e esquecido, E até, ao que consta, muito fazem sorriso alarve do nosso reclamar e do pugnar pelos nossos direitos legítimos. Não importa. Continuaremos a bradar, até que os homens nos escutem e atendam aos nossos clamores.

E hoje ficamos por aqui, esperando que haja alguém que nos escute e pense a sério nos nossos direitos de povo simples mas honesto e trabalhador. Ou continuaremos a clamar no deserto?


Vila das Lajes, 9 de Novembro de 2009

E.-A.

(Crónica lida nas "Manhãs de sábado da RDP-Açores)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

As apanhas dos milhos e as desfolhadas

Nesta época que decorre, era sempre agradável assistir às apanhas dos milhos e às desfolhadas. Eram autênticos dias de festa nas casas dos lavradores.

Quando os milhos estavam maduros e o pasto seco, era a ocasião própria para proceder à apanha e recolha das maçarocas nas “atafonas” ou lojas das residências. E esse dia era um dia especial. Grados e miúdos, todos se dedicavam à derrocada das maçarocas, ao preparar os carros de bois com as sebes bem acauteladas para as receberem e ao trazer os carros, normalmente tirados por dois bovinos, por caminhos algo perigosos, até ao local da recolha. Era um dia grande com jantar (hoje seria almoço) melhorado, preparado em casa e levado, na hora certa, até ao serrado onde se colhia o milho.

Mas, antes, haviam os trabalhos preparatórios. Cortavam-se as espigas que eram encostadas às paredes para secar ao sol, pois construíam bom alimento do gado, no Inverno. Esperava-se, depois, que as maçarocas secassem e era então o tempo da recolha, ou apanha dos milhos, antes que viessem as chuvas.

Aí principiava um trabalho doméstico, de grande importância. Era o descascar das maçarocas. Aproveitava-se o serão e a ajuda de amigos e vizinhos. Para essa ocasião preparavam-se os figos passados ao sol, ou secos no forno, e uma ou mais garrafas de genebra ou aguardente, geralmente de produção caseira. E, quando aparecia uma maçaroca de grãos vermelhos, era uma festa rija, principalmente se havia gente nova no ajuntamento.

Embora no meio de esganiços a praxe tinha de cumprir-se... Não era correcto negar o beijo ao feliz contemplado.

Manhã cedo, a dona da casa acendia o forno da cozinha e preparava a massa de milho, algumas vezes de trigo, para o bolo ou pão para o sustento da família e, depois, aproveitava o calor para secar o milho. Por cá não havia o hábito de deixarem as maçarocas com as capas ou folhas, em burras, no quintal, como é tradição em algumas ilhas do Arquipélago.

Antigamente, quando tudo era cozinhado no lar de fogo e as cozinhas (pequenos casebres construídos fora das habitações, para evitar os incêndios) eram providas de fornos, algumas das casas dos lavradores mais abastados, tinham dois fornos: um para as cozeduras domésticas e um outro maior para a secagem dos milhos ou, mais raramente, para as cozeduras do pão e das rosquilhas, nos gastos do Espírito Santo. Com a modernização das cozinhas, e utilização dos fogões e máquinas eléctricas ou a gás e outros electrodomésticos, vão rareando esses fornos de cozer.

Retiradas as maçarocas do forno, era a debulha, o joeirar o grão no crivo e, depois, arrumá-lo em barricas, arquibancos ou, mais modernamente, em depósitos de latão. E estava, normalmente, garantido o sustento da família durante o ano. Por vezes a produção era fraca e isso colocava o dono da casa em apuros...

Um pormenor é de registar: Quando se procedia à descasca das maçarocas, escolhiam-se aquelas que eram mais sadias e eram dependuradas geralmente nos tirantes dos quartos superiores para aí se conservarem, sem perderem o viço. O milho assim conservado era utilizado no ano seguinte nas sementeiras.

Presentemente, quase ninguém semeia milhos. A quase totalidade do que se consome, é importada. Desmantelaram-se as atafonas, os moinhos de vento que tanto alegravam a paisagem, e as moagens quase não existem. É caso para se dizer: Tudo o vento levou! Ficou-nos a saudade dos tempos da juventude distante.

Quão diferente são os hábitos e os costumes da vida de hoje!


Vila das Lajes, 7 de Nov. de 2009

Ermelindo Ávila

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

DIA DE SÃO MARTINHO

A Igreja Católica celebra no dia 11 do corrente mês a memória do Bispo São Martinho, nascido na Hungria no ano de 316 e falecido em Tours, em 397 da Era Cristã.

Porque a celebração do dia de São Martinho ocorre a meio do mês de Novembro, o povo, na sua tradição popular, instituiu esse dia como aquele em que devia provar o vinho da colheita anterior. Daí o provérbio popular: “No São Martinho vai à adega e prova o vinho”.

Verdade que o Santo Bispo nada tem a ver com as colheitas dos vinhos mas tão somente porque o seu dia litúrgico ocorre a meio de Novembro, época das provas é que assim lembrado.

Já o mesmo não acontece com o nosso Frei Pedro Gigante. Como refere o escritor faialense Ernesto Rebello, numa das suas crónicas de ficção, publicadas no “Arquivo dos Açores”, sobre as Uvas da Ilha do Pico: Dizem que foi um padre, Fr. Pedro Gigante, que há muitos anos introduziu no Pico, nos terrenos mais próprios para semelhante cultura, alguns bacelos de vinha proveniente da ilha Madeira.

Este padre foi, efectivamente, um grande gigante no nome e na ideia um filósofo às direitas. Viu que a ilha do Pico era extensíssima, ainda pouco povoada e todos os casais dispersos à beira mar: - quis secundar a poderosa acção química dos mariscos sobre a organização humana, aumentar o nervosismo, o amor, (...), reconhecia a necessidade de mais gente na nova ilha e disse de si para si: - Se aqui houvesse bastante vinho, mas bom, dum certo que eu conheço, daquele que dá força e vida, realizava-se o milagre.

As cepas vieram, uns dizem que da Madeira, outros da ilha de Chipre, propagaram, cresceram, espalharam-se por toda a parte, chegando a dar-se com mais facilidade um copo de vinho do que de água, e, efectivamente, o Pico povoou-se, apesar da sua extenção, rápida e poderosamente.

Eram milhares de pipas que anualmente se produziam e exportavam para o estrangeiro.

Mas um dia a desgraça aconteceu. O oidium destruiu as vinhas e houve que importar novas castas. E assim vieram outras castas, de menor valor mas não menos produtivas.

O Pico continua a produzir bons vinhos. A orla costeira está cheia de pequenos currais onde se abrigam as videiras da

Isabela” ou americana. E junto se construíram as adegas, ou pequenas casas de veraneio, onde os proprietários se acolhem na época estival para gozarem a amenidade do clima e tratarem das vinhas, limpando-as, levantando-as e colhendo, depois, os belos cachos, para serem esmagados e guardado o seu sumo nos balceiros, onde permanecem alguns dias, sendo depois o vinho armazenado nas barricas – quintos, meias pipas ou pipas, conforme a produção.

E é então que, pelo São Martinho, se vai à adega e se prova o vinho, uma prova que se estende aos amigos e vizinhos.

A meados do século passado os vinhateiros da Criação Velha iniciaram a festa de São Martinho, numa capela improvisada, no ramal que liga aquela freguesia à Areia Larga. Hoje já ali está construída uma pequena capela para, no seu dia próprio, ser festejado o santo protector das vinhas e dos vinhateiros.

Bom seria que não se esquecesse também Frei Pedro Gigante, o introdutor da vinha na ilha do Pico, ali no lugar da Silveira, desta vila.


Vila das Lajes, 5 de Novembro de 2009

sábado, 7 de novembro de 2009

"AOS NOVOS" -Memórias de um centenário

É o título de um opúsculo publicado em Angra em 1927 pela Comissão Aloisiana que promoveu na Igreja de São Francisco daquela cidade, as comemorações do 2º Centenário da Canonização de São Luís Gonzaga.

A Comissão era constituída por alunos finalistas do Seminário e por outros jovens angrenses. Dela faziam parte, entre outros, os futuros Sacerdotes ordenados nesse ano: Francisco Vieira Soares, e Manuel Azevedo, picoenses, António Correia de Escobar, faialense, Manuel Rocha graciosense, Luís Cota Vieira, terceirense, além de outros que já não me foi possível identificar na foto que vem incerta no opúsculo citado. Lá está o Sargento Ferreira e António Machado Bettencourt, também picoense.

Manuel Rocha, terminado o curso, seguiu para Roma, onde se formou em Teologia e, depois, esteve em Lovaina a estagiar com o Cónego Cardijn para, depois, vir fundar em Lisboa a JOC. No entanto, acabou por deixar o Patriarcado e emigrar para os Estados Unidos da América, fundando ali uma paróquia junto de uma das Comunidades Portuguesas.

Tive o prazer de assistir à Missa Nova do Pe. Francisco V. Soares que, embora natural desta Vila, a celebrou no dia 31 de Julho de 1927, na freguesia da Piedade onde era pároco o tio Pe. Francisco Soares. Mas voltemos a Angra. Um dos números das comemorações centenárias foi a apresentação, no Teatro Angrense, do orfeão ensaiado e dirigido pelo Padre José de Ávila.

Acerca desse acontecimento artístico escreveu para o “Correio dos Açores” o Dr. Luís Ribeiro, jurisconsulto e grande crítico musical, além de ser um bom executante de violino (fazia parte da Orquestra que acompanhava o Te Deum do fim do ano, na Sé):

O Padre Ávila mais uma vez adivinhou, mais uma vez achou a interpretação conveniente e justa sem ninguém lha ensinar nem nunca a ter ouvido!” (Aqui um simples reparo: O Padre José de Ávila, na sua juventude, foi aluno aproveitado do notável maestro Padre João Pereira da Terra que a vários ensinou a arte de Euterpe, mas nenhum soube aproveitar os ensinamentos como o Padre Ávila).

E só mais esta transcrição: “E pena é que este isolamento a que cada ilha está condenada pela força das circunstâncias, não permita a açorianos de todo o arquipélago virem gozar o raro prazer que o Orfeão proporcionou aos terceirenses.”

Enganou-se o erudito Dr. Luís Ribeiro. No ano seguinte o Padre José de Ávila preparou o Orfeão de Angra, com alunos do Seminário e outros jovens angrenses, cerca de oitenta elementos, e rumou a Ponta Delgada, onde a actuação do Orfeão foi um autêntico êxito cultural e artístico.

Antes da chegada do orfeão a Ponta Delgada, a Imprensa fez largas referências às qualidades artísticas do agrupamento.

O referido Dr. Luís Ribeiro publicou no “Correio dos Açores” um excelente artigo referindo a execução, pelo Orfeão, do “Aleluia” do compositor alemão Félix Mendelssohn.

Em Ponta Delgada, foi constituída uma “Comissão de Recepção” pelas seguintes personalidades: Pe. Herculano Romão Ferreira, Vigário de São Pedro, Anibal Bettencourt Barbosa, Rodrigo Rodrigues, Artur J.V. May, Dr. Manuel C. Pereira, Dr. Armando Côrtes Rodrigues, Domingos Rebelo, Aníbal Bicudo, Dr. António Melo, José da Luz Celeste do Nascimento, Pe. Dr. José Vieira Alvernaz, Luís Maria Xavier, Licino Costa, Augusto Correia de Teves, Pe. Francisco José Ferreira, Prior da Matriz, Capitão-capelão José Cabral Lino e Pe. José Augusto Pacheco.

Com o grupo seguiram, também, de Angra diversas personalidades. Entre elas o Dr. Garcia da Rosa, que pronunciou no primeiro concerto, realizado no antigo Teatro Micaelense, uma conferência sobre “Origem, Decadência e Restauração da Polifonia Sacra”, com apresentação do Dr. Guilherme de Morais.

No segundo concerto o Tenente-Coronel Frederico Lopes, fez uma conferência cuja apresentação esteve a cargo do Dr. Agnelo Casemiro.

Antes da terceira parte do último concerto o Vice-Reitor do Seminário, Dr. Manuel Cardoso do Couto agradeceu o acolhimento dispensado ao orfeão de Angra.

O terceiro concerto realizou-se no Coliseu Micaelense, tendo a Imprensa classificado o mesmo de “apoteóse triunfal”.

Depois desta digressão triunfal, repito, o orfeão nunca mais saiu da Terceira, ficando limitado ao Seminário. Que eu saiba, apenas uma vez foi ao Teatro Angrense, em 1932, para fazer a primeira parte do espectáculo dos alunos do Terceiro Ano Médico de Coimbra, em digressão pelos Açores. E que difícil foi demover o somítico vice-reitor de então!...

Só muito mais tarde, na década de sessenta e sob a regência do Maestro ribeiragrandense Edmundo M. Oliveira, o Orfeon do Seminário de Angra voltou a São Miguel, numa digressão, igualmente, memorável.


Lajes do Pico, 1 de Novembro de 2009


Ermelindo Ávila