É o título de um opúsculo publicado em Angra em 1927 pela Comissão Aloisiana que promoveu na Igreja de São Francisco daquela cidade, as comemorações do 2º Centenário da Canonização de São Luís Gonzaga.
A Comissão era constituída por alunos finalistas do Seminário e por outros jovens angrenses. Dela faziam parte, entre outros, os futuros Sacerdotes ordenados nesse ano: Francisco Vieira Soares, e Manuel Azevedo, picoenses, António Correia de Escobar, faialense, Manuel Rocha graciosense, Luís Cota Vieira, terceirense, além de outros que já não me foi possível identificar na foto que vem incerta no opúsculo citado. Lá está o Sargento Ferreira e António Machado Bettencourt, também picoense.
Manuel Rocha, terminado o curso, seguiu para Roma, onde se formou em Teologia e, depois, esteve em Lovaina a estagiar com o Cónego Cardijn para, depois, vir fundar em Lisboa a JOC. No entanto, acabou por deixar o Patriarcado e emigrar para os Estados Unidos da América, fundando ali uma paróquia junto de uma das Comunidades Portuguesas.
Tive o prazer de assistir à Missa Nova do Pe. Francisco V. Soares que, embora natural desta Vila, a celebrou no dia 31 de Julho de 1927, na freguesia da Piedade onde era pároco o tio Pe. Francisco Soares. Mas voltemos a Angra. Um dos números das comemorações centenárias foi a apresentação, no Teatro Angrense, do orfeão ensaiado e dirigido pelo Padre José de Ávila.
Acerca desse acontecimento artístico escreveu para o “Correio dos Açores” o Dr. Luís Ribeiro, jurisconsulto e grande crítico musical, além de ser um bom executante de violino (fazia parte da Orquestra que acompanhava o Te Deum do fim do ano, na Sé):
“O Padre Ávila mais uma vez adivinhou, mais uma vez achou a interpretação conveniente e justa sem ninguém lha ensinar nem nunca a ter ouvido!” (Aqui um simples reparo: O Padre José de Ávila, na sua juventude, foi aluno aproveitado do notável maestro Padre João Pereira da Terra que a vários ensinou a arte de Euterpe, mas nenhum soube aproveitar os ensinamentos como o Padre Ávila).
E só mais esta transcrição: “E pena é que este isolamento a que cada ilha está condenada pela força das circunstâncias, não permita a açorianos de todo o arquipélago virem gozar o raro prazer que o Orfeão proporcionou aos terceirenses.”
Enganou-se o erudito Dr. Luís Ribeiro. No ano seguinte o Padre José de Ávila preparou o Orfeão de Angra, com alunos do Seminário e outros jovens angrenses, cerca de oitenta elementos, e rumou a Ponta Delgada, onde a actuação do Orfeão foi um autêntico êxito cultural e artístico.
Antes da chegada do orfeão a Ponta Delgada, a Imprensa fez largas referências às qualidades artísticas do agrupamento.
O referido Dr. Luís Ribeiro publicou no “Correio dos Açores” um excelente artigo referindo a execução, pelo Orfeão, do “Aleluia” do compositor alemão Félix Mendelssohn.
Em Ponta Delgada, foi constituída uma “Comissão de Recepção” pelas seguintes personalidades: Pe. Herculano Romão Ferreira, Vigário de São Pedro, Anibal Bettencourt Barbosa, Rodrigo Rodrigues, Artur J.V. May, Dr. Manuel C. Pereira, Dr. Armando Côrtes Rodrigues, Domingos Rebelo, Aníbal Bicudo, Dr. António Melo, José da Luz Celeste do Nascimento, Pe. Dr. José Vieira Alvernaz, Luís Maria Xavier, Licino Costa, Augusto Correia de Teves, Pe. Francisco José Ferreira, Prior da Matriz, Capitão-capelão José Cabral Lino e Pe. José Augusto Pacheco.
Com o grupo seguiram, também, de Angra diversas personalidades. Entre elas o Dr. Garcia da Rosa, que pronunciou no primeiro concerto, realizado no antigo Teatro Micaelense, uma conferência sobre “Origem, Decadência e Restauração da Polifonia Sacra”, com apresentação do Dr. Guilherme de Morais.
No segundo concerto o Tenente-Coronel Frederico Lopes, fez uma conferência cuja apresentação esteve a cargo do Dr. Agnelo Casemiro.
Antes da terceira parte do último concerto o Vice-Reitor do Seminário, Dr. Manuel Cardoso do Couto agradeceu o acolhimento dispensado ao orfeão de Angra.
O terceiro concerto realizou-se no Coliseu Micaelense, tendo a Imprensa classificado o mesmo de “apoteóse triunfal”.
Depois desta digressão triunfal, repito, o orfeão nunca mais saiu da Terceira, ficando limitado ao Seminário. Que eu saiba, apenas uma vez foi ao Teatro Angrense, em 1932, para fazer a primeira parte do espectáculo dos alunos do Terceiro Ano Médico de Coimbra, em digressão pelos Açores. E que difícil foi demover o somítico vice-reitor de então!...
Só muito mais tarde, na década de sessenta e sob a regência do Maestro ribeiragrandense Edmundo M. Oliveira, o Orfeon do Seminário de Angra voltou a São Miguel, numa digressão, igualmente, memorável.
Lajes do Pico, 1 de Novembro de 2009
Ermelindo Ávila
1 comentário:
Avô,
Adorei a sua crónica. A mim diz-me muito porque ainda vivi com grande fervor o espírito do orfeão do Seminário de Angra dirigido pelo Dr. Edmundo, contado e cantado pelos seus antigos elementos que depois formaram o Orfeão Edmundo Machado de Oliveira. Era bem pequenina e assisti a 2 concertos memoráveis deste orfeão no Teatro Micaelense e nessa altura lembro-me que houve quem encontra-se nas paredes atrás do palco um registo da passagem do Orfeão de Angra por aquela sala de espectáculos.
Sempre achei que era uma pena os que ainda beberam dos ensinamentos musicais do seminário de Angra e da batuta do Dr. Edmundo não se juntarem para deixar um registo discográfico que desse a ouvir às gerações mais novas a beleza dessa música. Ainda tenho esperança de que isso aconteça e teria muito gosto em fazer a sua produção. Não há beleza musical mais arrepiante do que a que sai da harmonia das vozes de um côro. E, para quem canta, fazer música em côro é uma experiência de uma força imensa. Obrigada por parilhar connosco mais esta página da história dos Açores. A neta Xana
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