Porque a celebração do dia de São Martinho ocorre a meio do mês de Novembro, o povo, na sua tradição popular, instituiu esse dia como aquele em que devia provar o vinho da colheita anterior. Daí o provérbio popular: “No São Martinho vai à adega e prova o vinho”.
Verdade que o Santo Bispo nada tem a ver com as colheitas dos vinhos mas tão somente porque o seu dia litúrgico ocorre a meio de Novembro, época das provas é que assim lembrado.
Já o mesmo não acontece com o nosso Frei Pedro Gigante. Como refere o escritor faialense Ernesto Rebello, numa das suas crónicas de ficção, publicadas no “Arquivo dos Açores”, sobre as Uvas da Ilha do Pico: Dizem que foi um padre, Fr. Pedro Gigante, que há muitos anos introduziu no Pico, nos terrenos mais próprios para semelhante cultura, alguns bacelos de vinha proveniente da ilha Madeira.
Este padre foi, efectivamente, um grande gigante no nome e na ideia um filósofo às direitas. Viu que a ilha do Pico era extensíssima, ainda pouco povoada e todos os casais dispersos à beira mar: - quis secundar a poderosa acção química dos mariscos sobre a organização humana, aumentar o nervosismo, o amor, (...), reconhecia a necessidade de mais gente na nova ilha e disse de si para si: - Se aqui houvesse bastante vinho, mas bom, dum certo que eu conheço, daquele que dá força e vida, realizava-se o milagre.
As cepas vieram, uns dizem que da Madeira, outros da ilha de Chipre, propagaram, cresceram, espalharam-se por toda a parte, chegando a dar-se com mais facilidade um copo de vinho do que de água, e, efectivamente, o Pico povoou-se, apesar da sua extenção, rápida e poderosamente.
Eram milhares de pipas que anualmente se produziam e exportavam para o estrangeiro.
Mas um dia a desgraça aconteceu. O oidium destruiu as vinhas e houve que importar novas castas. E assim vieram outras castas, de menor valor mas não menos produtivas.
O Pico continua a produzir bons vinhos. A orla costeira está cheia de pequenos currais onde se abrigam as videiras da
“Isabela” ou americana. E junto se construíram as adegas, ou pequenas casas de veraneio, onde os proprietários se acolhem na época estival para gozarem a amenidade do clima e tratarem das vinhas, limpando-as, levantando-as e colhendo, depois, os belos cachos, para serem esmagados e guardado o seu sumo nos balceiros, onde permanecem alguns dias, sendo depois o vinho armazenado nas barricas – quintos, meias pipas ou pipas, conforme a produção.
E é então que, pelo São Martinho, se vai à adega e se prova o vinho, uma prova que se estende aos amigos e vizinhos.
A meados do século passado os vinhateiros da Criação Velha iniciaram a festa de São Martinho, numa capela improvisada, no ramal que liga aquela freguesia à Areia Larga. Hoje já ali está construída uma pequena capela para, no seu dia próprio, ser festejado o santo protector das vinhas e dos vinhateiros.
Bom seria que não se esquecesse também Frei Pedro Gigante, o introdutor da vinha na ilha do Pico, ali no lugar da Silveira, desta vila.
Vila das Lajes, 5 de Novembro de 2009
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