domingo, 28 de junho de 2009

As Velhas lanchas

Notas do meu cantinho

Apareceram na década de vinte do século passado, para substituir os antigos iates à vela, “São João Baptista”, “Espírito Santo e “Bom Jesus”. Naturalmente foram envelhecendo e já desapareceram.

A “Lourdes”, e um ano depois a “Hermínia”, representaram, para os lajenses e picoenses, um verdadeiro progresso. Para o lado Sul não havia estradas. Eram as lanchas da Vila que, semanalmente, ligavam a Calheta e Ribeiras (Santa Cruz) aos portos do Sul do Pico até à Horta. Iam e vinham no mesmo dia. Conduziam passageiros e carga diversa. A mais volumosa era embarcada na freguesia de São João, que exportava para a Horta o tradicional “Queijo do Pico”, recolhido pelo João dos Queijos nas freguesias da Ponta e preparados e curados pelas queijeiras daquela freguesia De São João exportavam também carvão, produzido no Mistério.

Das outras freguesias exportava-se tudo o que possível era, principalmente peixe seco, banha de porco, linguiça e outros produtos.

Da vila das Lajes enviava-se para a cidade fruta diversa, principalmente laranjas e bananas.

Toda a gente procurava “fazer dinheiro” daquilo que lhe sobrava das necessidades domésticas.

Da Horta traziam as lanchas das Lajes todo o género de mercadoria, principalmente farinha de trigo e sêmea da Moagem dos Peixotos; géneros de mercearia das Casas de atacado que lá existiam, e outros produtos, incluiindo materiais de construção.

Normalmente as lanchas saiam da Horta ao meio dia para virem entrando nos portos do Pico, onde desembarcavam passageiros e cargas: São Mateus, Prainha, São João e Lajes. Daqui seguiam até Santa Cruz e Calheta, regressando já noite dentro.

No verão as viagens eram maravilhosas e muitos aproveitavam para ir até à Horta, onde tratavam dos seus negócios. No entanto, no Inverno acontecia fazerem viagens tormentosas.

Timonadas por bons e experimentados mestres, - Francisco Machado Joaquim, João Machado Soares e José Pereira Bagaço, na “Hermínia” e José Machado “Tiaguinha”, na “Lourdes” (destes me

recordo) – felizmente nunca tiveram qualquer sinistro, nem mesmo na perigosa entrada da “Carreira” no porto das Lajes. Foram óptimos os serviços prestaram aos picoenses durante dezenas de anos.

Normalmente, por vezes alternadamente, faziam uma viagem semanal à segunda-feira. Nos restantes dias auxiliavam na caça à baleia, quando ela aparecia, e tinham também a seu cargo o serviço de passageiros e reboque dos batelões de carga dos navios da Empresa Insulana de Navegação, “Lima” e “Terceirense”, e, mais tarde dos “Carvalhinhos” que lhes seguiram.

Chegaram a fazer serviço no canal Pico - Faial, quando as lanchas dos Lourenços avariavam. E quando as lanchas das Lajes lá iam, eram as preferidas!

Depois... com a introdução da pesca do atum, a “Lourdes” foi destruída para dar lugar à traineira “Geralda” e a “Hermínia” também foi queimada, por exigências da lei vigente.

Na Calheta de Nesquim, foi criada, na década de trinta uma Cooperativa que passou a explorar um estabelecimento comercial e, a seguir, mandou construir a lancha a motor “Calheta”, destinada a viagens semanais, ligando o Faial, Pico e S. Jorge até â Terceira. Navegou alguns verões, sob o comando do Mestre José Goulart, com sucesso e óptimos serviços prestados aos habitantes das referidas ilhas. Era uma alegria para os picoenses quando, no principio do verão, a “Calheta” chegava ao porto de Angra. Muitos picoenses se juntavam no pátio da Alfandega, para receber notícias da sua ilha. Mais tarde a “Calheta” foi vendida à Empresa das Lanchas do Pico e acabou seus dias no porto da Madalena.

Foi realmente uma época de verdadeiro progresso para os picoenses, depois das tormentas causadas pela guerra (1914-18) , e que teve o mérito de promover a aproximação dos povos das ilhas do hoje chamado Grupo Central.

Nos finais da década de vinte e princípio da de trinta apareceram os iates motorizados “Ribeirense” do Mestre João Silveira Alves e compnhia e, a seguir, o “Andorinha”, do Mestre José Gaspar e outros.. Mais tarde. o “Santo Amaro”, a chalupa “Helena” o “Terra Alta”, e outros mais. Alguns deles anteriormente navegavam à vela. Tudo, porém, terminou ingloriamente.

E a “história” fica por aqui.


Vila das Lajes, 1º dia do Verão de 2009.

Ermelindo Ávila


domingo, 21 de junho de 2009

O VERÃO QUE ESTÁ A CHEGAR

NOTAS DO MEU CANTINHO


2009 está chegado ao meio. Em poucos dias teremos o verão. E muito embora o tempo ainda não nos ofereça dias completamente soalheiros e quentes, a convidar para os banhos de mar, já é tempo de algo se fazer para que nos dias mais acalorados os lajenses possam gozar a frescura do mar que rodeia a vila.

As “praias” não foram este ano beneficiadas com a bandeira azul. Mas, nem por isso, a qualidade das águas do mar deixam de estar apetecíveis para aqueles que têm por hábito passar umas horas no mar, na época do Verão. E para que se possa oferecer aos utentes o prazer completo algo falta ainda, e não pouco. Demais informa “O Dever” no seu último número que a zona balnear das Lajes do Pico tem qualidade de ouro, embora não lhe tenha sido atribuída a bandeira azul .

Junto das antigas casas dos botes da Lagoa de Cima, têm o clube náutico a sua sede, um modesto alpendre sem condições para que os desportistas disponham de um sítio aprazível onde passar as horas de lazer. O projecto de remodelação e ampliação daquelas instalações desportivas já está concluído e, ao que me é dado saber, foi entregue nos Serviços competentes para a aprovação e concessão do respectivo subsídio. Aguarda. No entanto, aguarda pareceres e a aprovação final.

Um atraso que mal se percebe, tratando-se, como se trata afinal, de um governo único...

O Município promoveu a construção de balneários em alguns portos do concelho. Esqueceu porém que a zona balnear desta vila é a de maior frequência, não somente dos nativos como dos visitantes, alguns, e não poucos, estrangeiros. E são estes que melhor acolhimento devem merecer, numa terra onde se deseja desenvolver a indústria do turismo, aquela que vai representar em futuro próximo, o estreio económico desta terra.

A melhoria do acesso às poças da Barra torna-se indispensável bem como o duche que, melhor seria se estivesse instalado em cabine amovível para que possa ser retirada no Inverno, afim de se evitar a sua destruição. Pequenas coisas que muito representam, para benefício dos utentes e o bom nome da terra.

É tempo de se encontrar uma solução para o antigo campo de jogos. Mais um parque de estacionamento? E porque não uma zona ajardinada, com arvores apropriadas e bancos de descanso num melhor traçado urbanístico? E igualmente os largos ajardinados, onde quase só existe relva e bem poucos bancos de descanso.

E porque não lançar um arruamento na parte Leste da Vila que, saindo da zona de S. Pedro, vá entroncar a norte no actual parque de estacionamento? Uma maneira útil de conquistar alguns terrenos para construções urbanas, evitando-se a evacuação da Vila e a fuga para os seus subúrbios.

É uma sugestão e aí poder-se-ia conquistar alguns.

E por último impõe-se que os acessos ao Posto de Turismo (Castelo) e Centro de Artes e Ciências do Mar (SIBIL) sejam melhorados pois os pisos estão a ficar em más condições de trânsito. E não são grandes as extensões.

Outros reparos havia a fazer. Ficam “em carteira”.

Vila das Lajes, 13 de Junho de 2009

Ermelindo Ávila

quarta-feira, 17 de junho de 2009

As ruínas da Vila das Lajes

NOTAS DO MEU CANTINHO


Apetecia mais intitular este arrazoado de “A Vila das Lajes em ruínas...” Fica porém assim para não ferir certas susceptibilidades. Mas, na realidade, a Vila vai caindo em ruínas. Em ruínas materiais e económico-sociais.

E princípio pela já histórica “Casa da Maricas do Tomé”, hoje propriedade do Município Lajense, que ameaça ruínas e qualquer dia poderá causar desastres irreparáveis. A seguir está a casa que foi a antiga “Pensão Velha” e que pertenceu à Família Bettencourt de Faria. Uma magnífica moradia, com um excelente alçado exterior, cujo actual proprietário desconheço. Infelizmente está já em ruínas. Perdeu o terceiro piso (torre), e o interior já desapareceu. Depois é a “nossa casa” como a classifiquei há dias, a mais antiga da Vila e com um traçado do século XVIII. Qualquer dia desaba o tecto, pois a derrocada já principiou. Também desconheço a quem hoje pertence. E outras ruínas existem em outras ruas.

Afinal, uma vil tristeza o que vai acontecendo na Vila mais antiga e mais urbana da Ilha do Pico. E não são os lajenses – seus habitantes – somente os culpados de tamanhas desgraças.

Qualquer dia acontece o mesmo à antiga casa da Alfandega, que pertenceu à Família do Visconde Borges da Silva e é actualmente propriedade do Estado. Nela esteve instalado o antigo Posto Aduaneiro, depois a Secção da Guarda Fiscal / Guarda Nacional Republicana, agora parece ser de ninguém, pois as placas indicativas dos serviços foram retiradas e a casa abandonada.

Melhor sorte teve o edifício da Delegação Marítima que, depois de certo abandono e do encerramento dos Serviços, está a ser convenientemente restaurado, naturalmente para regressar ao activo...

Por aquilo que os Políticos anunciam com desmesurado emprenho, o mesmo vai acontecer ao edifício grandioso da Escola Básica e Secundária, se for por diante a sua transferência para uma zona distante da Vila três quilómetros aproximadamente! Esse será o golpe fatal na existência da antiga vila. A sua morte certa!

Quando, na Região, se vão transformando freguesias em vilas e vilas em cidades, parece que há o empenho de retirar o estatuto de vila à mais antiga da ilha e uma das primeiras dos Açores, com um passado histórico rico e dignificante para os habitantes do concelho, que não apenas para aqueles que sempre residiram no velho burgo.

E esse desmantelar criminoso principiou com a retirada de certos Serviços Públicos, transferidos para outras terras com o propósito descarado, e sub-reptício, ao menos aparente, de engrandecer essas terras e diminuir, a pouco e pouco, as valências burocráticas e oficiais da vila, hoje cognominada “Baleeira”, uma actividade que também lhe foi retirada.

Mudar a Escola para longe da Vila, é o acto político mais desastroso que se pode praticar. Quem o fizer ficará com o seu nome registado na História como um dos mais perversos gestores públicos de todos os tempos. O actual edifício, com as devidas adaptações, não terá condições pedagógicas para continuar a preparar a juventude para o futuro?

Demais, os actuais alunos, em diversos ramos do Ensino, continuam a ser bons e, alguns, dos melhores, nas escolas superiores onde prosseguem os estudos, prova de que a preparação que cá tiveram, não foi descorada.

De considerar ainda, que a população escolar vai diminuindo, com a ausência de juventude no concelho. É o que dizem as estatísticas e elas é que servem de base aos estudos demográficos e escolares. E pior será com a criação, programada, da futura escola preparatória da Piedade. Afinal, tudo isto confirma que o actual edifício ficará com espaços livres para todos os serviços escolares.

Salvem a Vila das Lajes! Mantenham os seus serviços públicos e olhem atempadamente pelo seu património; um património histórico que merece ser salvaguardado.

Quem para isso contribuir terá, esse sim, a gratidão e o reconhecimento dos lajenses, presentes e futuros.

Ainda é tempo de se recuar com tão pérfida medida política.

Tanto mais que havia a dizer sobre este caso único!...

Hoje aqui deixo um veemente apelo para que esse recuo aconteça. Da minha parte não farei muitos mais.

Vila das Lajes,

1 de Junho de 2009

Ermelindo Ávila

sábado, 6 de junho de 2009

O PE XAVIER MADRUGA E O "SEU" O DEVER

O Padre João Vieira Xavier Madruga nasceu nesta Vila a 1 de Junho de l883, filho de António Xavier Madruga e de Maria do Rosário Vieira.

Bastante jovem ingressou no Seminário de Angra onde veio a ordenar-se em 5 de Novembro de 1905, aos vinte e dois anos de idade.

Após a ordenação foi nomeado prefeito e professor do Seminário. Entretanto, desde seminarista colaborou na imprensa católica angrense.

Com a proclamação da República e promulgação da nefasta lei da separação, em Outubro de 1911 o Seminário fechou, pois o Administrador do Concelho, alegando ordens superiores, tomou conta das chaves e bem assim de todos os haveres (mobiliário, biblioteca, museu, instalações eléctricas, louças, etc.)

“Na Vila do Topo, (diz o Cónego Pereira, A Diocese de Angra e a História dos seus Prelados, 2ª parte). Quando o Revº Pe. Armelim Mendonça, que havia feito concurso para a respectiva Matriz, veio tomar posse da igreja, uma multidão, movida por caciques políticos, foi-lhe ao encontro, gritando que o não queria, ali. O Pe. Armelim retirou para S. Antão, onde veio a ser colocado.”

Dias depois, continua o Cº Pereira “ os manifestantes apagaram a lâmpada do SS. Sacramento, deixando ficar no Sacrário as Sagradas Espécies, fecharam a igreja e foram em procissão lanças as chaves ao mar”.

Foi neste ambiente de terror que o Vigário Capitular, que governava a Diocese, pediu ao Pe. Xavier Madruga para vir para a paróquia e ouvidoria do Topo, em S. Jorge.

Sempre obediente às ordens dos Superiores, o Pe. Madruga aceitou, profundamente consternado e consciente do ambiente que o aguardava. E assim aconteceu. As perseguições, as calúnias, os ataques morais não se fizeram esperar e o Pe. Madruga passou, durante os anos em que paroquiou aquela vila jorgense, os mais atrozes sofrimentos.

Todavia, não virou costas a todo esse cortejo de ataques vis e mesquinhos, de alguém que, passados anos, o procurou pessoalmente para lhe pedir perdão.

Em 2 de Junho de 1917 funda um jornal. Nele procura defender a Igreja dos ataques jacobinos de que era vítima. E o jornal continuou. Passou a ser editado na vila da Calheta para ter o apoio do colega, Pe. José Joaquim de Matos, que sempre o acompanhou até ao falecimento. O jornal foi mantido algum tempo mais na vila da Calheta com ajuda do poeta Samuel da Silveira Amorim, embora sujeito a uma censura mesquinha do respectivo administrador. Isso levou o combativo e vigoroso jornalista que era o P. Madruga, já então a residir na ilha do Pico, a pedir a transferência da Censura para a Horta, o que lhe foi concedido. Mas não ficou por aí. Em Setembro de 1938 transfere para esta vila a oficina tipográfica e a redacção do jornal. “O Dever” passou a ser um jornal lajense, em plenitude. Ele aí está.

O Pe. Madruga faleceu em 30 de Março de 1971. Antes havia transferido, por venda simbólica, a propriedade e os haveres do jornal para a Paróquia da Santíssima Trindade das Lajes do Pico. E o jornal, felizmente, continua. No dia 2 do corrente mês celebrou noventa e dois anos. Quase um século. O mais antigo jornal das ilhas do ex-distrito da Horta e o segundo semanário, em antiguidade, dos Açores. Uma relíquia de que são proprietários os lajenses a quem compete mantê-lo e conservá-lo com o mesmo entusiasmo e elevação cultural que sempre lhe imprimiu o seu Fundador.

(Como mero registo, aqui deixo esta simples informação: Iniciei a minha modesta colaboração no jornal em Abril de l932. São decorridos setenta e sete (77) anos ! Fui seu editor desde a chegada às Lajes, seu redactor principal e administrador durante algumas dezenas de anos. Durante a estada nos Estados Unidos do Pe. Xavier Madruga, de 1945 a 1948 assumi a responsabilidade da direcção do jornal. Agora sou um mero rabiscador de singelas crónica).


Vila das Lajes, Junho de 2009

Ermelindo Ávila