Nem sempre é fácil encontrar um título que resuma o texto daquilo que se escreve, e aquele que se utiliza geralmente a isso não corresponde com a clareza necessária.
Vamos escrever hoje uma crónica daquelas que o título não aparece. E que crónica?
Os assuntos, umas vezes abundam outras escasseiam e deixam de ter interesse para o leitor.
Não que o tempo que decorre não abunde em assuntos variados mas fica a dúvida da escolha...
Quem escreve é que sabe a dificuldade que encontra quando “lança a mão à pena...” Mas isso era antigamente...Hoje é colocar as mãos sobre o teclado do computador, já não da máquina de escrever, e deixar correr... Pois que seja.
A propósito daquele “lança a mão à pena”, veio-me à lembrança a “Carta para longe” de Armando Cortes-Rodrigues. Actualmente já não se escrevem cartas para as Américas e quase para parte nenhuma. Até as de negócios foram substituídas pela Internet..
No entanto vale a pena lembrar o que escreveu o Poeta :
“Maria manda dizer/
o que por tens passado
Triste velhice de quem
Não tem os seus a seu lado.
“ Não te esqueças de teu pai
lembra-te sempre de mim
Adeus...adeus...que as saudades
Só à vista terão fim!”
“Triste velhice de quem
não tem os seus a seu lado!
E quantos partiram para não mais voltarem... Viveram envoltos numa saudade permanente, recordando “o craveiro do balcão” ou a figueira do quintal...
A saudade era tamanha que nem a língua da nova pátria quiseram aprender. A terra pequena e humilde estava sempre presente. Recordavam os feitos de criança, os irmãos e os pais com uma saudade amarga. Aos filhos ensinaram a língua materna para que, em casa, só esse idioma se falasse... E nunca puderam voltar às pedras negras do cantinho natal...
Por cá os pais viveram, e partiram para sempre, embalados na esperança de um dia eles regressarem, porque
”Depois que daqui saíste
Nunca mais houve alegria,
Que do céu da nossa vida
Veio a noite e foi-se o dia”.
Tantos que partiram para a terra ficar mais pobre de gente. E essa gente que ficou foi envelhecendo, sempre a olhar para o horizonte, na esperança de um dia o barco voltar ao porto e trazer o seu Manuel, rico e bem trajado, a espalhar alegria e lembranças aos que deixara num dia longínquo. Mas isso raro aconteceu. O Manuel não mais voltou... Todavia ,
“A tua cadeira baixa
Lá está (ainda) junto à janela
Como quem ainda espera
Que te venhas sentar nela.”
Muitas crónicas semelhantes se podiam escrever, sobre tantos e tantos que partiram um dia, e foram enriquecer, com o seu trabalho duro, de escravo, as terras da Diáspora. E nunca mais voltaram... E os pais foram envelhecendo, sempre na esperança de um encontro que não se realizou!....
E o Poeta continuou a registar a :
”Saudade é como o luar
Que só de noite é que brilha... “
É simples mas repleta de encanto a prece final:
“A bênção de Deus te cubra
Com amor, paz e saúde
E lembra-te que a riqueza
Verdadeira é a virtude.”
A crónica acabou. “Até à vista...”
Vila das Lajes,5 de Dezembro de 2008.
Ermelindo Ávila