quinta-feira, 8 de junho de 2017

A PROPÓSITO DO CENTENÁRIO DE “O DEVER”

Notas do meu cantinho


         Quando “O Dever” iniciou as comemorações do centenário, em 2 de Junho de 2016, tive oportunidade de fazer o seu pequeno historial. Não vou repeti-lo. Isso seria fastidioso.
         Limito-me a falar dos jornais picoenses, que alguns foram, hoje representados, além deste semanário, pelo “Ilha Maior”, que já ultrapassou vinte e oito anos e pelo “Jornal do Pico”, com doze anos de existência: Vidas fulgurantes que não deixam de honrar a Imprensa açoriana, aliás bastante decaída, excepção feita à ilha de São Miguel, com três diários, um deles, o “Diário dos Açores” quase tricinquentenário.
         Angra perdeu há poucos anos o seu centenário “A União”, que encerrou ingloriamente. O mesmo aconteceu na Horta com o centenário “O Telégrafo” e, logo depois, com o já idoso “Correio da Horta”, que havia sucedido à velha “Democracia”.
         Centenário é já a “Crença”, de Vila Franca do Campo, fundada pelo Mestre Pe. Ernesto Ferreira, e que, presentemente, é propriedade da Igreja Paroquial. Tal como acontece agora com o “O Dever”.
         O século XIX foi fértil na publicação de jornais, quase todos de feição política. É de fazer excepção aos fundados pelo Pe. Nunes da Rosa, ouvidor da Madalena, Pároco das Bandeiras e escritor-contista emérito. Em Janeiro de 1899, fundou “A Voz” e logo depois “A Ordem”. Mais tarde, em 1918, “Sinos de Aldeia” que cheguei a conhecer mas que, por sua morte desapareceu quando, afinal, por sua vontade, devia ter ficado na Biblioteca da Câmara Municipal da Madalena, que ele desejou se fundasse e onde fosse igualmente recolhida a sua pequena biblioteca. Dou disso testemunho...
         Em São Mateus, existiu o “Cartão de Visita”, fundado e dirigido pelo professor J. I. Garcia de Lemos. Tão diminuto como, realmente, um cartão de visita, nele encontrava-se porém o artigo de fundo, as notícias e até os pequenos anúncios.
         Não deixo de fazer referência a dois boletins paroquiais, que, além das notícias das respectivas Paróquias, alargavam a sua  informação para as notícias e interesses das sua freguesias. Refiro o “Ecos do Santuário” que o Pe. Filipe Madruga criou e manteve, enquanto paroquiou na freguesia de São Mateus, e o “Bom Combate” que Monsenhor José Fortuna também publicou, na Paróquia da vila da Madalena, enquanto ali foi Pároco. Com o falecimento do Pe. Filipe e a transferência para a Matriz da Horta do Pe. Fortuna, que ali foi levado à dignidade de Monsenhor, desapareceram os dois periódicos que, como se disse, eram mais do que simples boletins.
         No século XX, alguns párocos sentiram a necessidade de levar a casa dos seus paroquianos, dado que alguns não eram habituais frequentadores dos actos religiosos, as notícias paroquiais, criando para isso pequenos boletins policopiados, como foi o caso, dentre outros, do “Peregrino” do Pe. Tomás Cardoso e, depois, do Pe. Luciano Oliveira. (Este chegou a ser impresso quando o Pe. Luciano Oliveira sucedeu ao Pe. Tomás Cardoso, como vigário da Vila de S. Roque). Publicaram ainda boletins paroquiais o Pe. António Cardoso, na vila das Lajes, o Pe. Norberto, em Santa Cruz das Ribeiras, e o Pe. João Domingos, na Ribeirinha, e talvez outros mais. Voltar a esse artesanal sistema será um erro de resultados negativos.
         A igreja açoriana, como atrás referi, acabou com alguns jornais, entre eles, o centenário “A União” e o “Correio da Horta”, e passou a utilizar um portal de notícias na “Internet” a que a maioria das pessoas, não entende nem tem acesso. Simplesmente um erro de administração, que tarde talvez será corrigido.
         Os jornais picoenses prestam aos respectivos Municípios excelente serviço pondo-os, semanalmente, em contacto com os cidadãos. Resta, pois, aos órgãos autárquicos ter em atenção essa circunstância e ajudar, substancialmente, a sua manutenção. Demais, nenhum dos três jornais picoenses é órgão de qualquer partido político, que se saiba, como acontecia aos periódicos do século XIX, razão pela qual, volto a referir, alguns desses pequenos jornais tiveram vida efémera.                                                              
         Um jornal com cem anos de existência, como é o caso de “O Dever”, não pode nem deve terminar. É um Património rico de história, valorizante da terra que o deve manter a todo o custo.

Vila das Lajes,
 22 de Maio de 2017.
 Ermelindo Ávila


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