quinta-feira, 6 de abril de 2017

AUTONOMIA INCOMPLETA...

NOTAS DO MEU CANTINHO


         ... e incompleta, porque não chegou a todos!
Infelizmente, é assim mesmo.
         Quando se andou por aí a estudar o Estatuto da Autonomia, uma das regras estabelecidas era que a Autonomia devia chegar a todos os açorianos. Criou-se, mesmo, um slogan em que se estabelecia a regra de desenvolvimento harmónico de todas as parcelas do território autónomo.
         Pretendia-se, afinal, com a autonomia, dar aos açorianos, a todos os açorianos, o direito de se governarem sem interferência de vizinhos ou estranhos às respectivas localidades.   
Mas isso não aconteceu. Mantiveram-se os serviços públicos nas antigas capitais de distrito, numa hegemonia ainda mais atrofiante do que existia, embora se centralizasse a sede do governo numa dessas cidades.
         Pior ainda foi, dentro das próprias ilhas, centralizarem-se os serviços, transferindo alguns ou criando novos, diminuindo assim a estabilidade política das primeiras povoações. E fez-se isso com uma naturalidade e insensatez até então praticamente desconhecida. Mas o pior é que o sistema continua. Pretendem ignorar que essas drásticas medidas obrigam à deslocação de funcionários e respectivas famílias para as localidades de fixação, ao engrossamento das respectivas populações e ao despovoamento de outras e consequente atrofiamento económico e social.
         Com o despovoamento desce o número de votantes e as terras deixam de ser ouvidas nos centros de decisão, como seria natural.   
         Os poucos jovens que existem vão caminhando para os locais onde encontram trabalho e as populações vão vertiginosamente envelhecendo, as terras, por vezes as mais férteis, vão ficando abandonadas e uma vegetação selvagem vai-se dela apossando, sem proveito, a não ser de algum estrangeiro que as descobre e as adquire para nela se estabelecer nas época de estio ou repouso.
         Com a saída (abandono) dos homens válidos, desapareceram os artistas das diversas profissões: pedreiros, carpinteiro, ferreiros e funileiros, pintores e artesãos, sapateiros e alfaiates que outrora existiam em abundância e não lhes faltava trabalho em cada uma das respectivas profissões ou artes.
         Fecharam os pequenos estabelecimentos de fazendas e mercearias, o comércio familiar, como agora se diz. E havia-os em todas as freguesias. Na vila das Lajes havia mais de meia dúzia desses pequenos estabelecimentos de mercearia, onde, aliás, de tudo se vendia: desde a cal para as caiações dos prédios até aos géneros de consumo doméstico.
         As duas padarias existentes no concelho foram criadas, há algumas dezenas de anos, pelas próprias famílias. Hoje isso não seria possível pelas exigências burocráticas que, incompreensivelmente (julgo), se estão a pôr em prática, dificultando somente a criação de pequenas actividades industriais ou familiares, indispensáveis à manutenção dos respectivos agregados.
         A caça à baleia, praticada desde há dezenas de anos na Vila das Lajes, foi proibida. Encerrou drasticamente a fábrica de conservas de peixe. Desviaram-se as traineiras e cessou o seu fabrico nos estaleiros locais, que também desapareceram. Daí resultou a emigração, não apenas de jovens mas de famílias inteiras. Às dúzias!...

         Vila das Lajes do Pico,
           28 de Março de 2017
            Ermelindo Ávila                                                                 

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