A MINHA NOTA
Recordo com o devido respeito a personalidade
inconfundível do Padre Ouvidor Domingos Ferreira da Rosa Ângelo. Lembro-o ainda
quando paroquiava Santa Cruz das Ribeiras, principalmente agora que a
respectiva paróquia vai celebrar com brilhantismo, como é tradição daquele
lugar, o primeiro centenário da erecção do antigo curato a paróquia.
O Padre Domingos havia sucedido, ao antigo Cura, Pe.
José Silveira Peixoto, natural desta vila e que ali fora colocado em 10 de Abril
de 1899, passando, depois, à situação de manente.
O Pe. Domingos, como sempre foi conhecido, em 1916,
entendeu elevar o curado a Paróquia. O processo foi organizado com a
aquiescência do Vigário de S.ta Bárbara, Pe. Manuel José Alves, natural das
Velas, a cuja paróquia estava sujeito o Curato de Santa Cruz, e foi este que,
com o seu parecer, o enviou à Cúria Diocesana, não sem informar que “o povo não tem por costume receber bons
despachos” o que não deixou de causar veemente protesto do cabido.
O processo foi despachado favoravelmente e o P.
Domingos nomeado Vigário da nova paróquia, onde se conservou até 1927, ano em
que foi transferido para Vigário e Ouvidor da Matriz de S. Roque do Pico, onde
se manteve até ao falecimento .
Excelente músico, com voz brilhante de soprano, estava
presente nas principais festas da ilha, quer como músico notável a auxiliar as
respectivas capelas, quer como orador sacro, cujos sermões eram verdadeiras
peças oratórias.
Conheci-o de perto e ainda recordo a sua estada em S.ta
Cruz das Ribeiras e, depois, em S. Roque do Pico. É que ele, amigo íntimo do
Pároco e Ouvidor do Pároco das Lajes, não faltava aqui nas festas maiores,
principalmente a de Nossa Senhora de Lourdes e da Semana Santa.
Quando se instituiu a festa de Santa Teresinha, após a
sua canonização em 1925, o Pe. Domingos
era o orador permanente, assim como o ouvidor das Lajes não faltava à festa
instituída, depois, na Matriz de S. Roque.
Raramente, o P. Domingos se fazia substituir pelo seu
colega e amigo, Pe. José Maria Fernandes, apesar deste ser igualmente um
excelente orador sacro.
O P. Domingos, como atrás se refere, foi transferido
de Santa Cruz para S. Roque, onde se conservou até ao falecimento. Como notável
músico que era, foi o quarto regente da Filarmónica de S.ta Cruz, Recreio
Ribeirense, até à transferência para a Matriz de S. Roque.
Dele escreve o P. José Idalmiro Ávila Ferreira, também
natural de S. Roque e seu pároco e ouvidor: Difícil
ao tempo encontrar alguém que se disponibilizasse a assumir esse cargo (Presidente
da Câmara) pois ele teria de ser exercido
gratuitamente e com a agravante de a ele estar anexa a administração do
Concelho, com os poderes policiais alargados à prisão dos supostos
delinquentes, o que naturalmente trazia sérios dissabores numa terra onde todos
são conhecidos, muitos deles parentes, vizinhos e amigos...(1)
O exercício do cargo acarretou-lhe sérios dissabores
de que se livrou com a ajuda dos seus paroquianos, numa ocasião em que, falando
em momento solene, respondendo ao Governador do Distrito, que visitava o
concelho, não se escusou de afirmar, e cito:
“Pois, Exa., o sentimento generalizado do meu povo do
qual faço eco, é este: “Isto não é
governo de Deus, mas do diabo...) (2)
E mais se poderia dizer do P. Domingos Ferreira da
Rosa Ângelo, uma das mais relevantes figuras da Igreja, no século que passou. O
referido basta para pôr em destaque tão distinta personalidade eclesiástica e
civil.
________
1)
FERREIRA, Idalmiro, Esta Terra – Esta
Gente, 2002, pág,245.
2)
idem, pag. 246
Lajes
do Pico, 26-11-2015
Ermelindo
Ávila
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