sábado, 26 de dezembro de 2015

PE. DOMINGOS F. R. ANGELO

A MINHA NOTA

Recordo com o devido respeito a personalidade inconfundível do Padre Ouvidor  Domingos Ferreira da Rosa Ângelo. Lembro-o ainda quando paroquiava Santa Cruz das Ribeiras, principalmente agora que a respectiva paróquia vai celebrar com brilhantismo, como é tradição daquele lugar, o primeiro centenário da erecção do antigo curato a paróquia.
O Padre Domingos havia sucedido, ao antigo Cura, Pe. José Silveira Peixoto, natural desta vila e que ali fora colocado em 10 de Abril de 1899, passando, depois, à situação de manente.
O Pe. Domingos, como sempre foi conhecido, em 1916, entendeu elevar o curado a Paróquia. O processo foi organizado com a aquiescência do Vigário de S.ta Bárbara, Pe. Manuel José Alves, natural das Velas, a cuja paróquia estava sujeito o Curato de Santa Cruz, e foi este que, com o seu parecer, o enviou à Cúria Diocesana, não sem informar que “o povo não tem por costume receber bons despachos” o que não deixou de causar veemente protesto do cabido.
O processo foi despachado favoravelmente e o P. Domingos nomeado Vigário da nova paróquia, onde se conservou até 1927, ano em que foi transferido para Vigário e Ouvidor da Matriz de S. Roque do Pico, onde se manteve até ao falecimento .
Excelente músico, com voz brilhante de soprano, estava presente nas principais festas da ilha, quer como músico notável a auxiliar as respectivas capelas, quer como orador sacro, cujos sermões eram verdadeiras peças oratórias.
Conheci-o de perto e ainda recordo a sua estada em S.ta Cruz das Ribeiras e, depois, em S. Roque do Pico. É que ele, amigo íntimo do Pároco e Ouvidor do Pároco das Lajes, não faltava aqui nas festas maiores, principalmente a de Nossa Senhora de Lourdes e da Semana Santa.                                                                                                                                                                            
Quando se instituiu a festa de Santa Teresinha, após a sua canonização em  1925, o Pe. Domingos era o orador permanente, assim como o ouvidor das Lajes não faltava à festa instituída, depois, na Matriz de S. Roque.
Raramente, o P. Domingos se fazia substituir pelo seu colega e amigo, Pe. José Maria Fernandes, apesar deste ser igualmente um excelente orador sacro.
O P. Domingos, como atrás se refere, foi transferido de Santa Cruz para S. Roque, onde se conservou até ao falecimento. Como notável músico que era, foi o quarto regente da Filarmónica de S.ta Cruz, Recreio Ribeirense, até à transferência para a Matriz de S. Roque.
Dele escreve o P. José Idalmiro Ávila Ferreira, também natural de S. Roque e seu pároco e ouvidor: Difícil ao tempo encontrar alguém que se disponibilizasse a assumir esse cargo (Presidente da Câmara) pois ele teria de ser exercido gratuitamente e com a agravante de a ele estar anexa a administração do Concelho, com os poderes policiais alargados à prisão dos supostos delinquentes, o que naturalmente trazia sérios dissabores numa terra onde todos são conhecidos, muitos deles parentes, vizinhos e amigos...(1)
O exercício do cargo acarretou-lhe sérios dissabores de que se livrou com a ajuda dos seus paroquianos, numa ocasião em que, falando em momento solene, respondendo ao Governador do Distrito, que visitava o concelho, não se escusou de afirmar, e cito:
“Pois, Exa., o sentimento generalizado do meu povo do qual faço eco, é este: Isto não é governo de Deus, mas do diabo...) (2)
E mais se poderia dizer do P. Domingos Ferreira da Rosa Ângelo, uma das mais relevantes figuras da Igreja, no século que passou. O referido basta para pôr em destaque tão distinta personalidade eclesiástica e civil.

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1) FERREIRA, Idalmiro, Esta Terra – Esta Gente, 2002, pág,245.
2) idem, pag. 246

Lajes do Pico, 26-11-2015
Ermelindo Ávila



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