Notas do meu cantinho
Aos meus Netos e Bisnetos
Estava-se
na véspera do Natal. Em casa do Mário, um miúdo à volta dos seis anos, havia
uma azáfama grande a preparar a árvore do Natal, o Presépio e a casa, para o
dia da Festa. O Mário e os irmãos mais
velhos, pois ele era o menino da Família, estavam cansados de trazer para a árvore
os enfeites, e para o Presépio as pedras queimadas, os musgos e as outras
ervinhas ajudando, assim, a Mãe a armar esses dois sinais festivos. O Mário
estava cansado e logo ao anoitecer adormeceu. A Mãe tinha pensado em levá-lo à Missa do Galo, mas o miúdo não se
aguentava com o sono e teve de ser metido na cama. Os outros dois manos
prepararam-se para acompanhar os pais, mas o Mário não mais acordou e a solução
foi deixá-lo a dormir. Não havia perigo algum pois ele não tinha por hábito
acordar durante a noite e, demais, o tempo, apesar de ser Inverno, estava
maravilhoso.
Era meia noite. No campanário da Igreja
Paroquial, os sinos repicavam festivamente. A igreja iluminara-se com grande
esplendor. O grupo coral cantava o hino litúrgico Glória a Deus nas Alturas e paz na terra aos homens de boa vontade!
Ao som alegre dos sinos o Mário acordou e chamou pela
Mãe, mas esta não lhe respondeu. Viu-se só, àquela hora adiantada da noite, e
não sabia o que fazer. Levantou-se e foi até à janela. Olhou curiosamente e viu
ao longe a igreja toda iluminada e os sinos em contínuos toques festivos. Vestiu-se, saiu para a rua, e foi andando até chegar
junto da Igreja toda iluminada e entrou.
No altar o sacerdote celebrava a Missa.
A capela continuava a cantar o hino litúrgico. As pessoas, com ar alegre, ainda
se cumprimentavam. O Mário foi andando pela igreja dentro e encontrou os Pais e
os irmãos mais velhos que assistiam à chamada “Missa do Galo”. Naturalmente,
ficaram surpreendidos com a presença do filho e irmão.
Acolheram-no, carinhosamente, e
envolveram-no numa manta, pois ele já acusava o frio que se sentia.
Terminaram as cerimónias e o celebrante,
depois de dirigir uma última saudação aos assistentes, retirou-se para a sacristia.
Os miúdos correram, imediatamente, para junto do Presépio a admirar as figuras,
que caminhavam pelas veredas e
atalhos dos pequenos montes, e a pequena cabana onde estavam Maria e José e um Menino
reclinado numa manjedoira, em frente de dois animais: a vaca e o burro.
Entretanto, o povo ia saindo a pouco e pouco para as suas casas. Juntavam-se as
famílias e os amigos saudavam-se, alegremente: “Boas Festas, Boas Festas!” – e
caminhavam aos ranchos. O escuro da meia noite e o frio habitual do mês de
Dezembro não aconselhavam que as pessoas se demorassem nos percursos.
Rapidamente, todos chegaram às suas
habitações. A casa do Mário iluminou-se e, na sala maior, uma pequena árvore
que a mãe e os irmãos haviam ali
colocado, sem que ele se apercebesse quando saíu da cama, para ir junto da
janela e descobriu a igreja iluminada; junto dela vários pacotes, atados com fitas de cores e o
nome de cada membro da família. Depois veio o grande momento: ao Mário
entregaram um grande pacote que ele, sofregamente, desfez e, aos gritinhos,
encontrou um pequeno avião, “tripulado” por dois “aviadores”. Rodando uma
pequena chave ele iluminava-se e as hélices começavam a girar. Quando atingiam
maior velocidade o pequeno avião levantava voo para descer um pouco além. Foi a
grande surpresa e a alegria maior do Mário.
Seguiu-se a habitual consoada, mas o
Mário nem disso se interessou. E quando foi novamente para a cama, apesar da
recomendação da Mãe que lhe havia retirado o precioso brinquedo, nem dormia a
pensar na “viagem” que, no dia seguinte,
faria no seu avião. Por fim, o sono chegou. No dia seguinte, quando acordou,
voltou a admirar, com enorme alegria, a oferta do Pai Natal. De todos os
brinquedos que lhe ofereceram naquele dia nenhum outro foi capaz de despertar a
alegria e o entusiasmo que lhe proporcionava a posse de tão interessante
brinquedo - uma coisa rara que a poucos era dado usufruir.
As festas continuaram. Os Pais e
irmãos do Mário mantinham os velhos costumes. Ao almoço do dia de Natal tiveram
como convidados os seus pais e outros familiares. Não faltaram o “bolo do
Natal” e outros manjares tradicionais. A “caçoilha” foi o prato forte, como era costume na família. Foi, na realidade, um
grande dia.
Mas, para o nosso “herói”, nada mais
lhe interessou. O avião, que subia e descia por alguns instantes, era o seu
enlevo, a sua grande alegria.
Natal
de 2015
Ermelindo
Ávila
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